Onde viver em Portugal?

Para aqueles que procuram um lugar para viver ou que simplesmente se interessam pelo sistema urbano nacional no que respeita à qualidade de vida, um investigador da Universidade do Minho, José Mendes, escreveu um livro que oferece algumas pistas. Para a questão que dá título à obra - "Onde viver em Portugal" - só há uma resposta: "A cidade ideal, obviamente, não existe". E se um inquérito feito a 150 pessoas permitisse descobrir o que pensa o português médio? Nesse caso, Lisboa e Guarda seriam os destinos mais procurados.

A cidade ideal para se viver, em Portugal, teria o ar puro da Guarda, o clima de Faro, Lisboa ou Setúbal, a habitação económica de Bragança, o emprego de Leiria, a segurança de Castelo Branco, a mobilidade e centralidade de Coimbra e, finalmente, o comércio, os serviços, o poder de compra e o património aquitectónico de Lisboa. "Só que, obviamente, este local não existe", como reconhece José Mendes, director do Departamento de Engenharia Civil da Universidade do Minho e autor do livro "Onde Viver em Portugal", no qual analisa a qualidade de vida nas 18 capitais de distrito.Editado pela Secção Regional do Centro da Ordem dos Engenheiros e pronto para entrar nos circuitos comerciais nas próximas semanas, o livro "Onde viver em Portugal" é um estudo de avaliação da qualidade de vida que se baseia num conjunto de dimensões descritas por nove indicadores - clima, comércio e serviços, criminalidade, desemprego, habitação, mobilidade, património, poder de compra e poluição. Este último, a poluição, foi analisado com base nos dados do Ministério do Ambiente no que respeita à qualidade da água; nos do parque automóvel, consumo de gasolina e rede viária no que se refere à qualidade do ar; e em medições feitas pela equipa de José Mendes para comparar níveis de ruído entre as capitais de distrito. Assim se verificou que, nos centros urbanos das cidades estudadas, o nível de intensidade sonora em hora de ponta está quase sempre acima dos 65 decibéis, valor já considerado incomodativo. Com especial realce, pela negativa, para as cidades de Lisboa, Coimbra, Porto e Braga, onde aqueles valores ultrapassam, na mesma situação, os 70 decibéis. Na perspectiva do ar que respiramos, afirma José Mendes, "as populações de Bragança, Beja ou Castelo Branco são sem dúvida mais saudáveis do que as que residem nas poluídas Lisboa, Porto e Setúbal". E quanto à qualidade da água que bebem, os residentes em Viana do Castelo "podem considerar-se mais felizardos do que os que se submetem à água de Castelo Branco ou Faro". Feita a ordenação das capitais de distrito, neste aspecto, Lisboa e Guarda ocupam os extremos, respectivamente como a mais e a menos poluída. Foi depois de garantir a quantidade e a qualidade mínima da habitação que José Mendes estabeleceu o preço como factor decisivo, para concluir que, neste aspecto, se encontra "uma heterogeneidade verdadeiramente diferenciadora do território nacional". Exemplos: um T3 com 140 metros quadrados numa das zonas mais baratas de Lisboa, em Benfica, pode custar mais de 30 mil contos, enquanto em Leiria pode ser comprada por menos de 20 mil. Alugar o mesmo apartamento em Lisboa ficaria por mais de 200 contos mensais e, em Leiria, por menos de 100 contos. A lista ordenada revela que a habitação mais económica pode ser encontrada em Bragança, a habitação de custo médio em Faro e a mais cara em Lisboa. A análise dos dados relativos ao desemprego revelou, segundo José Mendes, que as cidades onde este problema é mais preocupante são Portalegre e Beja (com taxas de desemprego de 24,8 e 16,9 por cento, respectivamente), enquanto Aveiro e Leiria "apresentam valores francamente mais animadores (5,7 e 5,1 por cento)". E no que se refere à criminalidade (crimes contra as pessoas, contra o património e contra a vida em sociedade) o estudo coloca Setúbal à cabeça (16,9 crimes por mil habitantes), como a mais perigosa, e no outro extremo Castelo Branco (4,1 crimes por mil habitantes), como a mais segura. No que respeita aos serviços de apoio à população e comércio, faz notar o investigador, "verificam-se assimetrias assinaláveis", com destaque, pela positiva, para Lisboa e Porto (em termos de bancos, comércio, ensino superior e museus) e Coimbra ("com uma oferta ímpar em termos de saúde"). Noutros sectores, as melhores capitações verificam-se em cidades mais pequenas: Aveiro e Évora nos equipamentos desportivos, Guarda e Bragança em equipamentos de segurança social. Feita a ordenação, Lisboa é a capital mais bem servida e Viana do Castelo a que se encontra em último lugar no que respeita a serviços e comércio. A mobilidade, outro índice de avaliação da qualidade de vida analisado neste estudo, foi considerada com base na disponibilidade de transportes públicos, no congestionamento das vias, na cobertura viária e na centralidade em relação a Lisboa e Porto. Para se concluir que, neste aspecto, Coimbra conquista o primeiro lugar, logo seguida por Faro, Castelo Branco e Viseu, com a melhor mobilidade. A Lisboa cabe, neste aspecto, o último posto. O rendimento, o consumo e o custo de vida são variáveis importantes quando se procura o melhor lugar para viver, faz notar José Mendes. E caso a escolha fosse feita com base nestes critérios, a população teria razões para se concentrar em Lisboa e para fugir de Viana de Castelo, a capital de distrito onde existe menor poder de compra. Ocupam lugares cimeiros, depois de Lisboa, o Porto, Faro, Setúbal e Coimbra. Acompanham Viana do Castelo, embora com melhores resultados, Vila Real, Bragança e Portalegre. A capital do país (logo seguida de Évora, Porto, Coimbra e Braga) ganha também no que se refere ao património, importante no que respeita à "qualidade da paisagem urbana e da cultura da identidade das próprias cidades", considera o autor do livro. Neste aspecto, são Leiria e Castelo Branco que ocupam os lugares das cidades com um património mais pobre. Importante também quando se fala de qualidade de vida, acredita José Mendes, são as condições climáticas, que, "sentidas diariamente, se reflectem em aspectos como a mobilidade, a segurança, a produtividade, os horários, o tipo de actividades de lazer", etc. Em Portugal, realça, os factores que se fazem sentir no país como elementos diferenciadores são as temperaturas de Inverno e de Verão e a precipitação. Três índices que, trabalhados, permitiram concluir que Faro, Lisboa e Setúbal são as cidades mais confortáveis e que Bragança e Vila Real são as que têm um clima "mais rigoroso". No Livro "Onde viver em Portugal", José Mendes não faz uma ordenação geral das cidades no sentido da hierarquização absoluta das capitais de distrito em termos de qualidade de vida, mas apenas uma escalonação feita com base naquilo em que acredita o chamado "português médio" (ver caixa). Em contapartida, oferece meios, no último capítulo, para que que os leitores possam construir a sua própria lista ordenada, com base no seu próprio sistema de pesos entre os vários indicadores, nas suas preferências, nas suas motivações ou nos seus objectivos. "Para o leitor procurar o melhor local para viver ou, simplesmente, explorar o sistema urbano nacional na perspectiva da qualidade de vida", aconselha José Mendes.

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