Fundação Eugénio de Almeida recuperou jardim quinhentista

O jardim, junto à Sé de Évora e às Casas Pintadas, que chegou a julgar-se terem pertencido a Vasco da Gama, representa a expressão estética do século XVI

a A recuperação e valorização da identidade do Jardim das Casas Pintadas, em Évora, espaço emblemático da cultura cortesã quinhentista, acaba de ser devolvido ao conhecimento e à fruição de toda a cidade e dos seus muitos visitantes. O projecto é da Fundação Eugénio de Almeida, e permitiu recuperar "uma memória histórica viva que vale a pena descobrir", frisou o presidente do conselho de administração da fundação, cónego Eduardo Pereira da Silva, apelando a todos para o visitarem e ficarem a perceber a identidade e a essência de um jardim "singular" no panorama da arte dos jardins em Portugal.
Localizado em pleno centro histórico, junto à Sé de Évora, o edifício das Casas Pintadas faz parte da história do urbanismo da cidade do século XVI, constituindo um "eloquente representante da expressão estética" própria da transição entre a Idade Média e o Renascimento.
As obras de requalificação, que se prolongaram por nove meses e que foram co-financiadas pelo Ministério da Cultura, permitiram conservar os seus espaços abertos - pátio, horto de recreio e horta, tendo trazido à luz dos olhos dos visitantes um conjunto de frescos que decora uma galeria anexa, exemplar único em Portugal de pintura mural palaciana da segunda metade do século XVI. "Não surpreende, pois, que as Casas Pintadas estejam classificadas como imóvel de interesse público desde 1950", advertiu o administrador da fundação.
A abertura deste espaço é o resultado de mais um projecto da fundação no campo da preservação e valorização do património, "histórico-artístico e arquitectónico que, sendo seu, pertence também à cidade e ao país", diz o cónego.
Contudo, anunciou ainda que o restauro deste jardim é apenas parte integrante de um projecto maior, ainda em curso, e que tem como segunda fase a conservação desse conjunto de frescos que embelezam o jardim.
Adquiridas na década de 60 do século XX por Vasco Maria Eugénio de Almeida, as Casas Pintadas integram o acervo monumental da fundação onde ainda moram vários sacerdotes jesuítas, em tempos responsáveis pela orientação científica, pedagógica e académica do ex-Instituto Superior Económico e Social de Évora e que se mantêm ligados à cidade, à vida cultural e também a esta fundação.
Durante algum tempo, pensou-se que este edifício tivesse pertencido ao navegador que chegou à Índia, Vasco da Gama, tendo daí resultado a denominação da rua onde as Casas Pintadas se situam. Contudo, os historiadores declinaram essa hipótese, tendo ficado apenas a lenda.
De acordo com dados recentes, sabe-se que, à época da execução dos frescos, a construção era propriedade dos Silva-Henriques, coudeis-mores de João II, tendo sido Francisco da Silveira, um poeta de referência no cancioneiro geral, o mentor das pinturas murais que ilustram animais fantásticos, como dragões, sereias e uma hidra de sete cabeças que convivem com aves domésticas e bravias, leopardos, raposas e veados, recriando um mundo pleno de simbolismo.

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