CP apresenta novos comboios suburbanos

É um comboio invulgar, que vai certamente surpreender os maltratados clientes da CP na região do Porto e, dentro de dois anos, da linha de Cascais. Chama-se "CP 2000" e o protótipo já saiu da linha de montagem da Bombardier (antiga Sorefame), na Amadora.A CP apresenta-o hoje aos jornalistas dado que cancelou à última da hora uma visita à fábrica, em Novembro passado, prevista para o mesmo dia em que o ministro do Equipamento, Ferro Rodrigues, encerrava o Congresso Ferroviário no Porto. O novo comboio suburbano é articulado, o que significa que não existe separação entre as carruagens e que é possível visualizá-lo em toda a sua extensão de um extremo ao outro. Em termos de segurança isso é um factor decisivo, faz notar Fernando Ávila, responsável pela Unidade de Suburbanos do Grande Porto (USGP) que realça o facto de não haver recantos e de a tripulação (maquinista e revisor) ter uma visão completa da composição. Ainda assim, terá um sistema de vídeo interno, bem como a possibilidade música ambiente. A composição tem também ar condicionado, painéis electrónicos interiores e exteriores e pode transportar mais pessoas do que um comboio clássico devido ao espaço ganho entre as carruagens. Cada grupo de rodados (boggie) suporta simultaneamente as pontas de duas carruagens (normalmente cada caixa tem dois boggies em cada extremo), o que torna a composição mais leve e menos consumidora de energia. A velocidade é também invulgar para um comboio suburbano pois atinge os 140 kms/hora. Mais importante, contudo, para uma composição que passa a vida e parar e a arrancar é, exactamente, o seu elevado poder de aceleração e de frenagem. Mais: quando reduz a velocidade, o CP 2000 devolve a energia à catenária, o que o torna ainda mais económico.Para o fabricante, este é também o comboio mais seguro de sempre no que diz respeito à segurança passiva - em caso de embate a absorção de energia está calculada para evitar a deformação das carruagens e proteger os passageiros. Um "trunfo" que a Bombardier apresenta como sendo o resultado do Safetrain, um projecto internacional liderado a partir da Amadora."As pessoas não estão habituadas a ver comboios destes por aqui", diz Fernando Ávila, satisfeito por chegar a vez do Porto, depois de anos de investimentos sucessivos nos suburbanos de Lisboa. As primeiras seis composições serão postas ao serviço entre Porto e Sto. Tirso - e posteriormente para Guimarães - e entre Porto e Penafiel no próximo Outono. Seguem-se, depois, as linhas para Céte e Aveiro. "A idéia é espalhá-las nos eixos todos da nossa rede à medida que forem saindo da fábrica", diz o responsável da USGP que espera, finalmente, aumentar o número de clientes no grande Porto.A quota de mercado do caminho-de-ferro em torno da cidade é de apenas nove por cento, o que deixa em aberto um enorme potencial de crescimento. E com material circulante idêntico ao que há de melhor na Dinamarca e na Alemanha, Fernando Ávila não duvida que os passageiros afluirão. De resto, pela primeira vez, a região do Porto ficará melhor servida de comboios suburbanos do que Lisboa.Aos 34 comboios encomendados para o Grande Porto (ao custo de 45 milhões de euros cada uma), a CP deverá acrescentar mais dez para as linhas de Cascais e da Cintura. Estas serão equipadas com bitensão para poderem funcionar nos 1500 volts da linha de Cascais e nos 25.000 volts do resto da rede electrificada. É que, por ter sido a primeira linha a ser electrificada em Portugal, em 1926, a então linha do Estoril adoptou um sistema de corrente diferente do que viria a generalizar-se depois no resto do país e em grande parte da Europa. Essa incompatibilidade técnica e o atravessamento de Alcântara têm sido obstáculos à integração da linha de Cascais no sistema suburbano de Lisboa. Os novos CP 2000 com bitensão resolvem parte do problema, bastando agora que o Governo acorde em construir um túnel em Alcântara para que, por exemplo, possa haver famílias de comboios suburbanos entre Algés e Entrecampos ou a estação do Oriente. Uma espécie de "segunda circular" ferroviária.Segundo adiantou recentemente ao PÚBLICO o presidente da Unidade Suburbana da Grande Lisboa, Martins de Brito, um grupo de trabalho criado pela Secretaria de Estado dos Transportes está a estudar a melhor forma de concretizar a ligação entre as linhas de Cascais e de Cintura, mas, em princípio, "é possível fazer o desnivelamento da linha ferroviária na zona de Alcântara", aproveitando espaço disponível na área do porto de Lisboa. "Se tudo correr bem, podemos ter essa ligação dentro de três a quatro anos", admitiu Martins de Brito.Trata-se de um investimento muito elevado e que pode chocar com as pretensões do Metro em prolongar a sua linha do Rato para Alcântara. Mas como Lisboa continua sem uma Autoridade Metropolitana dos Transportes, à falta de fórum próprio para a discussão, a decisão política poderá depender da capacidade das duas empresas em influenciar a tutela.C. C./L.F.S.

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