Central de Mortágua vai duplicar a capacidade de produção de energia

Alimentada exclusivamente por resíduos florestais, a central de biomassa de Mortágua produz já cerca de 60 gigawatts/hora de energia eléctrica, o que dá para
abastecer uma cidade média como Castelo Branco. Além do contributo ambiental, representa também uma remuneração adicional para os proprietários de floresta.
Por Marisa Miranda (textos) e Carla Carvalho Tomás (fotos)

Criada com o objectivo de reduzir o risco de incêndios florestais, a central termoeléctrica instalada desde 1999 em Mortágua produz actualmente cerca de 60 gigawatts/hora de energia eléctrica, quantidade que dá para abastecer uma cidade média como Castelo Branco, com cerca de 35 mil habitantes. Mas, segundo o administrador da EDP-Bioeléctrica, Gil Patrão, "é a única central termoeléctrica do país a funcionar exclusivamente com biomassa florestal residual". Por ano, esta unidade consome 100 mil toneladas de resíduos florestais, que representam um rendimento de dois milhões de euros para os pequenos produtores florestais, que passaram a entregar neste centro de produção materiais que eram abandonados em terrenos por não terem qualquer tipo de utilização. Trata-se do ramos e copas de árvores abatidas, que antes apenas engrossavam o material combustível das matas, assim aumentando o risco de incêndio.
A EDP-Bioeléctrica pretende agora passar a potência instalada em Mortágua dos actuais 9 megawatts eléctricos para 14,5, quase duplicando a sua capacidade.
Para além da mais-valia ambiental que resulta da redução de combustível na floresta, o funcionamento da central acaba por injectar também na região um investimento que, segundo Gil Patrão, ronda os "três milhões de euros" anuais, entre salários e a aquisição de resíduos florestais. Um valor que o leva a defender que "o interesse destas centrais é muito grande para regiões do interior do país, onde a floresta é muito abundante e as oportunidades de emprego têm vindo a escassear", acrescenta.

Perto de 320 empregos indirectos
Além de "cumprir a sua função de produção de energia eléctrica e, necessariamente, ter que ser remunerada", esta central, defende o administrador da EDP-Bioeléctrica, "insere-se em planos estratégicos de desenvolvimento e ordenamento do país em que o valor maior é, por um lado, fixar populações nas regiões, criando oportunidades de emprego e valorização profissional e por outro lado dar-lhes oportunidade de valorizarem um combustível endógeno renovável a que Portugal nas últimas dezenas de anos não tinha dado o devido interesse e cuidado". "É este conjunto de situações que tem permitido que esta central tenha vindo a ser cada vez mais bem querida pelas populações que lhe estão próximas porque encontram uma fonte de escoamento útil para resíduos que de outra maneira seriam desaproveitados", refere Gil Patrão.
A laborar há sete anos, a central termoeléctrica de Mortágua "emprega 32 pessoas directamente e cerca de 10 vezes mais indirectamente, a montante e a jusante". É vista pela EDP-Bioeléctrica como "um caso de sucesso".
Gil Patrão sublinha que esta "é uma central verde". "Ou seja, o único combustível utilizado são, de facto, resíduos florestais e isto é distintivo relativamente a outras iniciativas que possam existir". Os resíduos florestais utilizados para a produção de energia eléctrica são recolhidos após as actividades de exploração florestal e entregues na central termoeléctrica.
Quando essa biomassa já está preparada (destroçada, para reduzir o volume), entra numa caldeira, onde é queimada. Assim se produz calor, que gera a vaporização da água que circula nas paredes dessa mesma caldeira. Esse vapor, que é obtido com características técnicas adequadas, entra numa turbina que está acoplada a um gerador. Ao entrar em funcionamento, esse gerador produz energia eléctrica, que depois é vendida à Rede Eléctrica Nacional, através dos chamados pontos de recepção, que permitem a integração da energia produzida neste centro de produção na rede.

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