Um chalet, chocolate quente e um par de botas

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O Club Med Pragelato Vialattea ainda cheira a novo. Foi inaugurado há duas semanas com a abertura da temporada de neve - e a neve não desapontou DR

Umas férias na neve são muito mais do que subidas e descidas de esquis nas montanhas. No coração da região italiana do Piemonte, experimentámos o prazer de um chalet e um chocolate quente, entregámo-nos ao relaxamento na sala de massagens e passeámos por Sestriere. Sandra Nobre

Ai as férias da neve e tal... As pistas pretas, os prós do snowboard. Põe esqui. Tira esqui. Congelou o esqui. Carrega o esqui. Volta a pôr o esqui. Nariz a pingar. As mãos até doem. As pernas nem mexem ao segundo dia, mas eles arrastam-se montanha acima porque não se pode desperdiçar nem um minuto. Ai as férias da neve e tal... Tão bom ficar a assistir à neve a cair da sala de relaxamento do spa, quentinha, a bebericar um chá, até nos virem chamar para a sala de tratamento.

"Evasão" era a nossa sala, mas também havia a "Félicité", "Escapade", "Volupté"... Se todos os caminhos vão dar a Roma, aqui todas as salas vão dar a um puro momento de deleite. Uma massagem de relaxamento, com assinatura da marca francesa Payot, devolve-nos o equilíbrio e não é preciso muito para ficar a dormir. Acordamos com um suave murmúrio "Terminámos. Aguardo lá fora dentro de uns minutos". Regressamos de robe à sala de relaxamento, sons orientais em tom baixo, ninguém conversa, como se aquele momento tivesse algo de sagrado. Mais um chá. A neve continua a cair lá fora. Vêem-se esquiadores exímios riscarem as montanhas a grande velocidade. A adrenalina dura apenas alguns minutos, depois vão ser precisos pelo menos trinta minutos para voltarem a escalar a montanha no teleférico. A massagem durou 50 minutos e o efeito vai-se prolongar toda a tarde. Ainda falta a piscina aquecida, a sauna e o banho turco. A vida é feita de escolhas.

Quem chega ao Club Med de Pragelato e não gosta de esquiar tem de saber à partida as suas limitações: os três restaurantes da montanha e a vista dos cumes é inacessível. Quem sobe no teleférico só pode descer de esquis - ou então é preciso toda a uma parafernália de autorizações da polícia para ir uma moto de neve e é tamanha a complicação que nem vale a pena tentar. Resta explorar as actividades disponíveis no hotel, descobrir a vizinha Sestriere e deixar algum tempo para Turim. Se aceitar as premissas, porque não vale a pena ir ao engano, então as férias da neve continuarão a ter o seu encanto.

Traga os Loubotins no saco

O Club Med Pragelato Vialattea ainda cheira a novo. Inaugurou há duas semanas com a abertura da temporada de neve que este ano não desapontou - as temperaturas têm estado suficientemente baixas e a neve tem caído consecutivamente, criando as condições certas para as fofas camas de neve que amparam as quedas. O acontecimento foi assinalado com lâmpadas de papel a riscar os céus, esquiadores profissionais de tochas na mão a driblar as árvores montanha abaixo, já noite cerrada, e quedas de água feitas de champanhe a encher os copos ao relento.

Por essa altura, os convidados estavam de casacos impermeáveis, corta-vento, sobretudos, gorros, cachecóis, luvas e botas da neve. Não se podia dizer que era o dress code que uma festa assim pedia quando o convite dizia "casual chic with & white touch". Mas à boa maneira nova-iorquina, depois do brinde, fez-se uma paragem estratégica nos vestiários, do outro lado da rua, para deixar abrigos e calçar os Loubotins. O acesso ao edifício principal faz-se depois, por um corredor interior, já com toda a gente aperaltada. Genial!

O hotel tem esta dinâmica à hora das refeições ou quando se quer dançar, porque está distribuído por chalets. O típico cartão postal: casinhas que parecem esculpidas de neve tamanho é o bloco de gelo nos telhados, rodeadas por árvores pinceladas por flocos, chaminés fumegantes a denunciar as lareiras, carros imobilizados por neve de vários dias e as montanhas ao fundo, gigantes maciços que ficam bem no quadro.

Na hora das refeições, calçam-se as botas até alcançar o vestiário e faz-se a troca - o Club Med tem dress code específico para cada noite, com apontamentos de cores, mas não é imperativo ir de saltos altos e fato - antes de entrar no edifício central do resort. É aqui que se concentram o restaurante Il Piemonte, com quatro salas de diferentes ambientes, que serve um buffet a todas as refeições, e La Tana, à la carte, com propostas piemontesas, e os bares, La Lanterna, com espectáculos ao vivo e DJ, e La Dolce Vita (não incluído), ponto de encontro de fumadores, pela sua cigarreira exclusiva e o terraço onde é possível fumar.

Se preferir continuar com as botas, do outro lado da rua fica La Tratoria, dedicado aos mais tradicionais pratos italianos, em ambiente mais informal. Fora do resort, em Pragelato, se seguirmos a recomendação de Jorge, o português responsável pelas Relações Públicas, impõe-se uma visita à Antica Osteria (Via del Beth, 26; tel.: +39 012 278 530), com boa cozinha e um ambiente romântico à luz de velas.

Espírito de aventura

Esquiar é um vício para quem gosta. É como se eles, os que gostam, ouvissem o chamamento das montanhas, o que faz com que todos os dias queiram arriscar mais. O Club Med Pragelato está situado a 1600 metros de altitude e daqui tem-se acesso a 440 quilómetros de pistas que constituem La Via Lattea - das quais 40 quilómetros são dedicados à prática de esqui de fundo (também conhecido por cross-country ou esqui nórdico), em longos percursos planos - que começam em Itália e terminam em França.

E se a cor das pistas determina a destreza do praticante, este não é terreno de iniciados, já que não há pistas verdes (as mais fáceis, com uma baixa inclinação e curvas largas). Ao todo são 52 azuis (com algumas inclinações acentuadas, o que exige alguma experiência), 111 vermelhas (são difíceis, contra-indicadas para quem não esquia de forma paralela) e 40 pretas (para quem tem um bom nível técnico e domínio total dos esquis). Mas quem sobe nas cadeiras mecânicas sabe ao que vai, procura a adrenalina e entrega-se aos desafios dos montes brancos.

Por estes dias, em que começam a chegar os primeiros esquiadores a abrir a temporada, este é muitas vezes um prazer solitário, tudo o que se pode desejar: neve a perder de vista, pistas intocadas e sensações extremas.

Um autocarro gratuito liga o Club Med Pragellato a Sestriere, a vila vizinha a 2035 metros de altitude, a 17 quilómetros da fronteira com França. O lugar ganhou fama durante os Jogos Olímpicos de Turim, por ter sido um dos palcos das provas de esqui alpino masculino, e recebe com regularidade provas da Alpine Ski World Cup. É também um destino apreciado pelos jogadores de golfe, que aqui podem apreciar um campo de 18 buracos, o mais alto da Europa. E os seguidores das provas de ciclismo conhecem a vila por estar na rota do Giro d"Italia e do Tour de France.

Um dos seus encantos, revelam-nos, é a possibilidade de esquiar de noite, na pista Giovanni Alberto Agnelli, à luz de reflectores. Ainda assim, continuamos fiéis ao nosso princípio de deixar o esqui para quem realmente o aprecia. Há ainda uma pista de patinagem sobre gelo que atrai muito locais. Nós continuamos de botas deambulando pelas ruas ladeadas de neve.

Piscar de olhos a Turim

Uma boa combinação é guardar um dia para conhecer Turim, que pode não ter a magnificência de outras cidades italianas mas tem um charme próprio que nos conquista ao primeiro olhar. Os palácios barrocos, longas avenidas, praças sumptuosas, as suas igrejas e jardins, a que se juntou uma nova linguagem arquitectónica com edifícios como a Pinacoteca, de Renzo Piano, o Palácio dos Desportos, de Arata Isozaki, e a Igreja Sem Rosto, de Mario Botta, herança dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2006.

Com um pouco mais de tempo, podemos visitar o Museu Egípcio - o segundo maior do mundo -, o Castello di Rivoli, antiga Residência da Casa de Saboia, actualmente Museu de Arte Contemporânea, a Galeria de Arte Moderna ou a Fundação Sandretto Re Rebaudengo com exposições temporárias.

Dá gosto passear nas suas ruas bem conservadas e acabar a tarde numa esplanada a beber um Martini - a famosa bebida nasceu aqui, em 1847, fruto do encontro de Alessandro Martini, um comerciante de vinhos, e Luigi Rossi, um mestre herbalista. Antes da partida, impõe-se uma paragem num dos muitos chocolateiros da cidade - afinal, estamos em Turim, a capital do chocolate e já diz o ditado "em Roma, sê romano...".

A Fugas viajou a convite do Club Med

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