Exposição para o centenário de Albert Camus gera polémica em França

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A inauguração está prevista para 7 de Novembro de 2013 dr

Mostra dedicada ao autor de O Estrangeiro está sem comissário. O último diz que a cultura em França vive em "guerra civil"

O que pensaria Albert Camus da confusão que envolve a exposição destinada a festejar os 100 anos do seu nascimento? Não sabemos, mas provavelmente teria tecido comentários sarcásticos perante o clima de política provinciana e o choque de egos que, escrevia o diário espanhol El País de ontem, ameaça o programa que celebra o autor de O Estrangeiro e de A Peste, Nobel da Literatura 1957.

Há três anos que está prevista uma grande exposição sobre Camus, escritor e jornalista nascido na Argélia em 1913, no quadro de Marselha Capital Europeia da Cultura 2013. O projecto tem sido marcado nos últimos meses por acesas discussões nos jornais e fora deles. Catherine Camus, que detém todos os direitos sobre o espólio do pai, retirou-se abruptamente do projecto em Maio, alegando que a organização não lhe tinha ainda entregado a lista dos documentos necessários à exposição, escreveu a L"Express quando, na semana passada, fez o ponto da situação. Na mesma revista lembrava-se o afastamento do historiador Benjamin Stora, especialista na guerra da Argélia, primeiro comissário da exposição, à data com o título Albert Camus, l"etranger qui nous ressemble.

Stora, que terá sido escolhido com o aval da filha de Camus, foi despedido também em Maio, pela presidente da Câmara de Aix-en-Provence, Maryse Joissains-Masini, da UMP, o partido de centro-direita, que não esconde simpatizar com os valores da Frente Nacional e financiar associações saudosistas da Argélia francesa. Ao afastamento do historiador, cujos críticos acusam de ser partidário das teses defendidas pela Frente de Libertação Nacional argelina - muito útil para agradar ao eleitorado pied-noir, os repatriados da Argélia pós-independência, que, segundo o diário espanhol, são 130 mil só no município de Aix-en-Provence - seguiu-se a nomeação, no início de Agosto, do filósofo Michel Onfray, especialista na obra do autor de A Morte Feliz.

Mas Onfray, que, inspirando-se numa obra do escritor, mudou o nome da exposição prevista para 7 de Novembro de 2013 para Albert Camus: l"homme révolté, não durou muito no cargo que não chegou a assumir oficialmente. Isto porque a polémica do afastamento de Benjamin Stora chegou ao Governo, com a ministra da Cultura, Aurélie Filippetti, a defender o historiador e a retirar o financiamento do seu ministério à exposição de Onfray, que acabou por renunciar ao comissariado numa carta aberta no jornal Le Monde, a 18 de Setembro. Neste texto o filósofo dispara para todos os lados, perguntando a Filippetti se o dinheiro do seu ministério era para um projecto ou para um comissário, criticando a herdeira e falando de "egos sobredimensionados" e "intrigas de palácio" para concluir que, "em França, o ambiente que se vive na cultura é de guerra civil".

Para já, a responsável camarária garante que o projecto Camus vai para a frente com a data já anunciada. Resta saber com que comissário.

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