Paul Scholes: poucas palavras, muito talento

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Paul Scholes

O rapaz franzino e asmático

foi um dos melhores médios

da sua geração e figura maior do Manchester United dos últimos 20 anos. Ontem, anunciou o final da carreira

As palavras com que se despediu no site do Manchester United não podiam ser mais Paul Scholes: "Não sou um homem de muitas palavras, mas posso dizer que jogar futebol foi tudo o que eu sempre quis fazer." O "cenoura" sempre foi um homem contido, pouco interessado em dar entrevistas, com impecável e nunca manchada reputação de homem de família, longe dos enredos mirabolantes que caracterizam a vida de boa parte dos futebolistas. "O meu dia ideal é treinar de manhã, ir buscar os filhos à escola, ir para casa, brincar com os filhos, beber um chá, deitar os filhos e, depois, ver alguma televisão", dizia Scholes. Nos relvados, foi tudo menos discreto e, ontem, chegou oficialmente ao fim a carreira de um dos melhores médios dos últimos 20 anos.

Os últimos momentos de Paul Aaron Scholes nos relvados foram em Wembley, no sábado passado, durante a final da Liga dos Campeões que o Manchester United perdeu para o Barcelona. Foi a despedida que Alex Ferguson lhe quis dar, fazendo-o jogar 13 minutos numa altura em que o jogo já parecia irremediavelmente perdido para os red devils. Mas talvez Scholes ainda pudesse resolver com um passe teleguiado ou um remate potente e direccionado, como tantas vezes fez desde que se estreou, com 19 anos, a 21 de Setembro de 1994 na primeira equipa do United, um jogo em que marcou dois golos.

Scholes foi um dos brilhantes produtos da academia do Manchester United que, na mesma geração, produziu ainda David Beckham, Ryan Giggs, os irmãos Gary e Phil Neville e Nicky Butt. Natural de Manchester, Scholes era um rapaz franzino e baixo, com asma, que foi descoberto, com 14 anos, pelos olheiros do United enquanto jogava futebol na escola. Fisicamente, Scholes não parecia um jogador de futebol, mas tinha talento. "Era fisicamente muito frágil. Em outro clube teria sido dispensado", recordava há uns anos Les Kershaw, antigo director da academia da formação de Manchester.

Entre essa estreia frente ao Port Vale e os últimos minutos em Wembley, há quatro dias, Scholes vestiu a camisola do United em 676 ocasiões e marcou 150 golos, ajudando os red devils a conquistar dez títulos de campeão inglês, duas Ligas dos Campeões e três Taças de Inglaterra - foi também internacional inglês por 66 vezes (14 golos). "Foi o oponente mais duro que alguma vez tive de enfrentar", disse dele o francês Zinedine Zidane, que foi apenas um dos seus muitos admiradores. Outro foi Xavi Hernandez, do Barcelona, que o classificou como o "melhor médio-centro dos últimos 15, 20 anos". O próprio Iniesta, que também estava do lado vencedor, fez questão de trocar de camisola com o "príncipe ruivo", alcunha que Scholes ganhou durante a carreira.

Como jogador, o seu único defeito eram as entradas fora de tempo sobre os adversários. Arsène Wenger, técnico do Arsenal, dizia que Scholes tinha "um lado negro" e Alex Ferguson classificava estas faltas duras como os seus momentos de "nevoeiro vermelho". Foi por isso que não esteve na final da Champions de 1999 (acumulação de cartões amarelos) com o Bayern Munique e que o United ganhou nos últimos minutos. Mas foi titular na final de 2008 no triunfo frente ao Chelsea.

O seu futuro vai continuar a passar por Old Trafford, devendo assumir um lugar na estrutura técnica do clube, possivelmente como treinador da equipa de reservas. Mas não vai ser fácil de substituir "Scholesy", o ruivo de 1,71m de altura. Wayne Rooney, 11 anos mais novo que ele, já sente a sua falta: "É o melhor jogador com quem alguma vez joguei. É baixo, mas é muito difícil tirar-lhe a bola."

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