União Europeia na encruzilhada entre isolar ou envolver a Bielorrússia

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Haverá presidenciais em 2011; em 2006, a oposição gritou "fraude" Fotógrafo

Ao fim de mais de uma década de isolamento ao regime de Minsk, a União Europeia inverteu há dois anos a abordagem, transformando o "último ditador da Europa" em interlocutor viável. Apesar de hesitações e expressas oposições nos corredores de Bruxelas, a UE decidiu abrir a mão à Bielorrússia.

Hoje, o pensamento predominante em Bruxelas é o de que Minsk não deve ser isolada, dois anos depois de terem sido apresentados cinco critérios-chave para a Bielorrússia cumprir, se quiser usufruir de melhores relações com os europeus: encetar uma reforma da lei eleitoral, garantir a liberdade de imprensa, permitir que as organizações não-governamentais operem sem restrições, abolir a pena de morte no país - o último da Europa onde a pena capital é praticada - e libertar todos os presos políticos.

Embora os responsáveis pela missão da Comissão Europeia para a Bielorrússia não tenham expectativas de mais do que um "desenvolvimento lento" nestas relações, todos sublinham estar a viver-se agora um momento de "engagement crítico": a UE vai reavaliar dentro de dois meses o regime de sanções aplicado a Minsk - que inclui a inibição de viajar para a Europa de vários titulares de cargos políticos. A Bielorrússia tem, por seu lado, eleições presidenciais previstas para o primeiro trimestre de 2011.

Integrada na Eastern Partnership desde Outubro de 2009 - mas continuamente recusando a Política Europeia de Vizinhança - a Bielorrússia não tem mostrado avanços, à parte a libertação, no início de 2008, de alguns prisioneiros políticos. Insta a que lhe sejam concedidos mais fundos, para novos projectos, e insiste que tem o seu próprio ritmo e valores a seguir.

O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros bielorrusso responsável pela pasta da Europa, Aleksei Skripko, diz mesmo que Minsk jamais aceitará ser "intimidado".

"Ouvimos os conselhos que têm para nos dar, mas não aceitamos que nos sejam dadas listas de coisas para fazer. A velocidade e intensidade das mudanças é determinada por nós", afirma, insistindo que o país não quer ir pelo caminho das "revoluções coloridas" de outros países de Leste.

"Somos um povo de evolução estável e progressiva e queremos manter as garantias sociais dos cidadãos. Somos corredores de maratona", prossegue aquele responsável governamental.

O conselheiro político para a Europa de Leste do Conselho Europeu, Simon Greuter, estima que se está a viver "um momento muito delicado, nada fácil" na relação entre Bruxelas e Minsk. Mas diz que há ainda "esperanças de que se produza um diálogo mais intenso".

"Depois daquele longo período de quase ausência de contactos, desde 1992, dado as perdas democráticas e o rumo político que o país tomou, houve expectativas de que se podiam desbravar novos terrenos em 2008", nota o perito. "Mas isso acabou por sofrer um novo recuo com as duas execuções [de pena capital] feitas já no início deste ano, apesar de a UE ter dito claramente à Bielorrússia que a melhoria de relações dependia de uma moratória à pena de morte. Temos que ver mais concessões por parte de Minsk". D.F.

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