O "vidente" José Mourinho revelado por Luís Lourenço

Princípios de liderança, estratégias e conflitos com a comunicação social no livro de Luís Lourenço: Mourinho: A Descoberta Guiada

Didier Drogba ainda fica impressionado quando relembra o assunto. "Ele tinha o dom de prever as coisas. Ele até conseguia antecipar o resultado de um jogo e, muitas vezes, vi-o escrever num bloco o que iria acontecer numa partida até ao mínimo detalhe. Às vezes, a sua "visão" estava tão perto da realidade que era desconcertante. Era mesmo muito estranho, como se ele conseguisse prever o futuro", conta o avançado do Chelsea.

"Ele" é José Mourinho e alguns exemplos práticos das capacidades de "vidente" do treinador português são revelados no novo livro de Luís Lourenço dedicado ao técnico do Inter de Milão, Mourinho: A Descoberta Guiada, hoje apresentado em Lisboa.

"Este é um livro que surgiu na sequência do anterior, Liderança: As Lições de Mourinho, como resultado da minha tese de mestrado e que originou um conjunto de conferências, que ainda hoje prosseguem", explicou ao PÚBLICO Luís Lourenço, amigo e biógrafo oficial do treinador português. "Como esse primeiro livro era demasiado académico, principalmente destinado à consulta e pesquisa universitária, resolvi trabalhar nesta versão [editada pela PrimeBooks], destinada a uma audiência mais vasta", prosseguiu, esclarecendo que a lógica de business book foi mantida. O livro foi ainda enriquecido com um conjunto de testemunhos de elementos que trabalharam com Mourinho ao longo da sua carreira. Entre eles, destacam-se Vítor Baía, Jorge Costa, Deco ou Didier Drogba.

A adaptação do treinador ao futebol inglês e, mais tarde, ao italiano, mantendo os princípios de liderança que sempre o nortearam, é uma das temáticas abordadas, no capítulo "Inteligência Contextual". Analisadas e desdramatizadas são ainda as conflituosas relações com os media, uma das imagens de marca de José Mourinho desde que iniciou a carreira como técnico principal. "Com os jornalistas, com quem nunca teve um relacionamento fácil, há uma coerência da mensagem. É tudo uma questão de estratégia para defender e proteger o grupo, como defendo neste livro. Tal como é uma estratégia, quando ele procura concentrar em si a descarga da energia dos adeptos adversários, mostrando-se aos jogadores como seu defensor incondicional", revelou.

Quanto às faculdades extra-sensoriais sugeridas por Drogba no início deste texto, o jogador costa-marfinense "segredou" um exemplo prático a Lourenço, envolvendo um Chelsea-Barcelona. "No final da primeira mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões da temporada 2004-05, em Barcelona [derrota dos ingleses por 2-1], ele criticou duramente o árbitro Anders Frisk na conferência de imprensa. Quando chegou ao balneário disse-nos para ficarmos descansados que iria ser Pierluigi Collina a arbitrar o segundo jogo em Londres. Dito e feito. O italiano acabou nomeado pela UEFA como era desejo de Mourinho e o Chelsea venceria, por 4-2, afastando os catalães da prova. "Fabuloso!", concluiu Drogba.

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