Himmler, o criador de galinhas que exterminou os judeus

Peter Longerich é o autor da primeira biografia monumental do líder das SS, mentor do Holocausto

a A hipótese de Heinrich Himmler, chefe das SS e principal ideólogo e executor do Holocausto, ter sido um homossexual que reprimia a sua natureza pelo uso desmesurado do seu poder é levantada pelo historiador alemão Peter Longerich na biografia que acaba de lançar na Alemanha sobre o destacado dirigente nazi. Não é a primeira vez que historiadores e investigadores do nazismo lêem a justificação dos actos de alguns dos seus protagonistas na sua homossexualidade reprimida (Loctar Machtan escreveu o mesmo sobre o próprio Hitler, no livro O Segredo de Hitler - A Dupla Vida de um Ditador), mas a relevância da hipótese agora levantada por Longerich surge reforçada por se tratar, segundo o El Mundo, da primeira biografia monumental que um historiador dedica à figura de Himmler (1900-1945).
No seu livro - Heinrich Himmler: Biographie (edição Siedler) -, Longerich descreve o chefe das SS, a temível força de elite nazi, como uma personagem "misógina, que [apesar de ter casado] não tinha nem queria mulheres", mas que simultaneamente defendia que os homossexuais eram "os piores inimigos da Alemanha", incluindo-os na lista de grupos que foram perseguidos pelos nazis, de que faziam parte os comunistas, os ciganos e, sobretudo, os judeus.
O nome de Peter Longerich é já bem conhecido pelos seus outros estudos (e livros) sobre temas e figuras do nazismo e da história da Alemanha, desde a República de Weimar ao Holocausto, de Hitler a Himmler. Na sua obra anterior - The Unwritten Order: Hitler's Role in the Final Solution (2003) -, o historiador abordava o papel do ditador na planificação e execução do Holocausto, tentando identificá-lo para lá da falta de documentos que associem a assinatura de Hitler à Solução Final.
Com Heinrich Himmler: Biographie, o historiador reconstitui agora a vida de um homem que nasceu numa família católica da Baviera e acabaria por considerar que o catolicismo "era a maior peste jamais gerada pela História" e devia, por isso, ser substituída por uma nova religião, baseada na mitologia germânica; um homem que estudou agronomia e que chegou a ser criador de galinhas e acabaria por deter na mão a organização do plano de extermínio dos homens judeus, que ele próprio, a certa altura do processo e após as invasões da Polónia (1939) e da União Soviética (1941), decidiu estender às mulheres e às crianças, para evitar que elas, no futuro, "pudessem converter-se em vingadoras".
Na notícia sobre a edição do livro, o El Mundo escreve que "a conclusão central de Longerich é que, provavelmente, Himmler foi o mais radical dos líderes nazis e aquele que, depois de Hitler, mais poder teve nas suas mãos durante o III Reich".
É o caminho que levou Himmler a atingir esse poder e esse estatuto que Longerich revisita no seu livro, desde que na década de 1920 ele se associou à máquina de propaganda do Partido Nazi e conquistou a liderança das SS até ao seu suicídio, no dia 23 de Maio de 1945, quando estava já prisioneiro do Exército britânico e depois de ter feito uma tentativa fracassada de se apresentar como "aliado" das Forças Aliadas para a luta e a "conversão" da União Soviética.

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