Ele graffitou carruagens do metro com Basquiat

Rammellzee, o herói underground que estava lá quando o hip hop mudou a América, actua hoje em Serralves com a Death Comet Crew

a Por fora é um Transformer (difícil saber que fato vai usar mais logo, mas apostamos no kit completo: máscara, armadura e gadgets de samurai futurista, electrificado), por dentro é uma das personagens mais peculiares da subcultura nova-iorquina que resultou da colisão frontal entre o movimento No Wave e o primeiríssimo hip hop, na transição entre as décadas de 70 e 80. É exactamente nessa qualidade, de emissário de um passado que se tornou referência (Beastie Boys, Cypress Hill, Tricky: quantas vezes já foram apanhados a citá-lo?), que Rammellzee chega esta tarde à Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto (conferência às 15h00) e ao Auditório de Serralves (concerto às 22h00): perguntem-lhe onde é que ele estava quando o Basquiat começou a graffitar carruagens de metro e quando houve as primeiras batalhas de hip hop e ele responde que estava lá, onde tudo aconteceu.Mais do que uma testemunha dos primeiros dias de um movimento, Rammellzee é uma figura tutelar da cena underground americana: pioneiro do hip hop (que continua a praticar, com o colectivo Death Comet Crew, numa versão mais negra, mais dura e mais seminal do que a que colonizou o mainstream) e do graffiti (começou a intervir no metro de Nova Iorque em 1974, chegou às galerias no início dos anos 80), transformou-se também num teórico do Futurismo Gótico, uma mitologia pessoal de reavaliação da linguagem que explicará hoje. Versão para principiantes: uma tese que ataca a estandardização dos códigos (alfabeto e números são "máquinas de guerra simbólicas") e defende a criação de uma gramática de ruptura (ler e escrever são operações preguiçosas, diz ele). Responsável por um álbum histórico - Beat Bop, de 1984, produzido e desenhado por Basquiat -, Rammellzee formaria mais tarde a Death Comet Crew, que voltou a reunir em 2003 para um novo álbum, The BiConicals of the Rammellzee. O concerto desta noite em Serralves, no âmbito do ciclo Anos 80, Lastro e Rasto, é também a celebração de um herói underground que podemos encontrar entre as personagens de um outro herói underground, Jim Jarmusch, em Stranger than Paradise.
Rammellzee & Death Comet Crew
PORTO. Serralves, às 22h00. Bilhetes entre 3,75 e 7,50 euros.

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