António Palocci vai comandar equipa de transição de Lula

O novo Presidente eleito do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, anunciou ontem o homem que vai comandar a sua equipa, na primeira transição organizada de governos de que se tem notícia no Brasil. António Palocci, que coordenou a campanha eleitoral do PT e é prefeito licenciado de Ribeirão Preto (314 quilómetros ao Norte de São Paulo), assumiu a coordenação do plano de Governo de Lula depois do assassínio do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, em Janeiro deste ano. Hábil negociador, Palocci será, ao lado de Lula, o que o actual chefe da Casa Civil, Pedro Parente, foi ao lado de Fernando Henrique Cardoso (FHC). Os demais nomes da equipa, a qual funcionará numa estrutura que custará cerca de 300 mil euros por mês até Dezembro, serão anunciados amanhã. Lula não cedeu às pressões do mercado financeiro, que queria já uma sinalização de nomes para o Banco Central e o Ministério da Fazenda, mas adiantou que a equipe de transição será fundamentalmente técnica e não política. Ontem, Lula encontrou-se com o FHC, numa reunião à porta fechada, no Palácio do Planalto. Sorridentes, os dois manifestaram uma cordialidade inédita e, à saída, em breves declarações, o novo Presidente disse que o processo de transição idealizado pelo cessante é "demonstração efectiva da prática democrática". Para FHC, a transição vai servir de aula ao Brasil, habituado a ver governantes "saírem pelas portas dos fundos", para não entregarem a faixa presidencial a quem chega. Já Lula, ao sair pela porta da frente quebrando o protocolo, surpreendeu os seguranças e foi cumprimentar uma concentração de populares que o esperavam. O nome de Antonio Palocci não foi exatamente uma surpresa, já que ele, apesar de ser originalmente médico, viu seu prestígio crescer rapidamente, dentro e fora do PT. Tornou-se num nome simpático, graças a seu discurso que valoriza a austeridade fiscal e manutenção dos contratos, ao mercado financeiro. Em rápida conversa com jornalistas em Brasília, afirmou que um dos principais temas a ser tratado no processo de transição é o orçamento projectado para 2003.Presidente do PT e o nome mais cotado para assumir a chefia da Casa Civil e ser o "braço direito" político de Lula, José Dirceu disse ontem que o partido vai segurar os nomes ministeriais o máximo que puder. Mas a especulação dos nomes ocupou entretanto todo o noticiário político e económico. Como serão precisas conversas com vários nomes, antes que se chegue ao ministériod definitivo, as possibilidades de fuga da informação são bem grandes. Em entrevista, na segunda-feira à noite, que subiu a audiência do "Jornal Nacional", da Rede Globo, Lula disse que já tem um esboço de equipa ministerial na cabeça e que ela inclui os seus aliados. "Estou mais ou menos como o Felipão quando montou a seleção. Ele já tinha o time na cabeça. Chegou na hora, colocou para jogar e foi pentacampeão", comparou o novo Presidente. "O presidente do BC [Banco Central] será uma pessoa que saiba de mercado, da minha confiança, que tenha competência e capacidade. Mas não posso ficar cedendo a pressões. Daqui a pouco, não sou eu que vou montar o governo. Vamos devagar". Na tarde de ontem, Lula continuou a sua primeira visita a Brasília já eleito com uma ronda pelo Congresso. Para sua articulação parlamentar, indicou os esperados, os líderes do PT nas duas Casas: o deputado João Paulo Cunha (SP), na Câmara, e Tião Viana (AC) no Senado. Sempre cercado de uma multidão de populares, o chefe de Estado eleito reuniu-se com os presidentes da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), e do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), para discutir a agenda de votação no Congresso este ano. Estava prevista ainda uma conversa informal com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Marco Aurélio Mello.O mercado, apesar da ansiedade quanto aos nomes da equipa económica e das dezenas de entrevistas de analistas de bancos sobre possíveis nomes - o Bank of America chegou a formular um memorando interno, o qual acabou na imprensa, com a lista de "ministeriáveis" - reagiu na prática com a calma pedida por Lula. O dólar subiu menos de 1,5 por cento na operação de ontem. A bolsa de São Paulo operou em queda, mas em parte por acompanhar a queda geral na Europa. A alta do dólar, mais uma vez, tem pouco de política e muito de ganância, já que os especuladores tentam puxar para cima a cotação do dólar oficial que será usada na sexta-feira para calcular mais de meio milhão de euros em dívidas pública com vencimento atrelado à moeda americana.

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