MG Rover abre processo de falência

Blair prometeu 56 milhões de euros de ajuda de emergência para pagar credores. Fábrica de Longbridge fechou ontem à tarde

O centenário construtor britânico MG Rover abriu anteontem à noite o processo de insolvência e o Governo de Tony Blair já prometeu uma ajuda de emergência aos fornecedores no valor de 40 milhões de libras (56 milhões de euros). A fábrica de Longbridge, perto de Birmingham, esteve fechada ontem, da parte da tarde, por falta de material, mas a MG Rover terá pedido aos empregados para se apresentarem ao trabalho na próxima segunda-feira.A decisão de abrir o processo de falência foi a solução encontrada pela MG Rover para ganhar algum tempo depois do gigante automóvel chinês Shangai Automotive Industry Corporation. (SAIC) ter desistido do processo de joint-venture, que os dois construtores haviam assinado em Junho do ano passado, devido ao buraco financeiro em que a marca britânica se encontra.
Esta parceria permitiria ao fabricante britânico, que teve tempos áureos com o Mini e o Land Rover, continuar a produção dos seus modelos e previa também o desenvolvimento conjunto de novos produtos. A SAIC iria ficar com 75 por cento da Rover e ficaria responsável pelas reformas e indemnizações aos funcionários, no valor de 582 milhões de euros, e também pela a dívida de 620 milhões de euros à BMW. Agora, a empresa vai ser liderada temporariamente por um grupo de administradores liquidatários da Price Waterhouse Coopers, cuja intervenção foi pedida pela administração. Estes analistas vão avaliar a situação da empresa e o possível interesse de eventuais compradores da MG Rover como um todo ou em partes e aconselhar a administração sobre a estratégia a seguir. A falência deixa 6000 postos de trabalho em risco em Longbridge e perto de 20.000 nos vários fornecedores da marca.
Esta crise declarada no último bastião automóvel britânico vem complicar a vida a Tony Blair, numa altura em que tenta conseguir a reeleição. Por isso, ontem, o primeiro-ministro apressou-se a sair de Roma para poder seguir para Birmingham, acompanhado pelo ministro das Finanças, Gordon Brown, onde se inteirou da situação. De acordo com a Reuters, Tony Blair disse que os dois telefonaram aos homólogos chineses e esperam conseguir encontrar uma "oportunidade para fazer algo com a companhia chinesa", mas não haverá qualquer hipótese de reatar o acordo de parceria nos termos anteriores entre a MG Rover e a SAIC.
Nos últimos anos, o grupo, que já produziu ícones como Triumph, Austin, Land Rover e Morris, não conseguiu desenvolver nenhum novo modelo que pudesse fazer frente às ofertas, por exemplo, da Toyota ou dos grupos franceses PSA Peugeot-Citroën e Renault. O último modelo verdadeiramente novo, o Rover 75, foi desenvolvido sob a alçada da BMW e já data de 1999. O utilitário CityRover, vendido sobretudo em Inglaterra, é produzido pelo construtor indiano Tata.
As dificuldades já se arrastam há vários anos, tendo o grupo passado por várias mãos, incluindo a alemã BMW, que comprou a MG Rover por 800 milhões de libras em 1994 e seis anos depois se desfez dela por uma libra.
Para já, a situação do grupo britânico não irá afectar directamente a MG Rover Portugal, subsidiária da marca. "Por enquanto, não há quaisquer medidas especiais a tomar. Estamos à espera de directrizes do Reino Unido, mas se houver alguma má notícia, iremos defender os interesses dos nossos colaboradores", disse ao PÚBLICO o porta-voz da empresa, Martim Pinheiro de Melo. A representação directa portuguesa emprega actualmente 21 pessoas e a rede é constituída por 33 concessionários. Martim Pinheiro de Melo acredita que toda esta situação poderá "ser uma estratégia da SAIC para dentro de pouco tempo comprar uma companhia por um preço muito mais baixo".
No ano passado, a MG Rover produziu 106.088 veículos, um recorde de produção mínima. No mês passado, as vendas caíram 17 por cento no Reino Unido, o maior mercado do construtor.

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