Cajastur ofereceu 150 milhões de euros para ficar com operação espanhola da CGD

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Cajastur propõe ainda assumir empréstimos contraídos pelo BCG shamila mussa

Banco público liderado por José de Matos tem até à próxima semana para dizer ao Liberbank/Cajastur se vende o Banco Caixa Geral, a sua filial em Espanha

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) tem até meados da próxima semana para responder ao grupo Liberbank (Cajastur, Caja de Extremadura, Caja Cantábria), se aceita a proposta de compra do Banco Caixa Geral (BCG), a filial espanhola que nos últimos dois anos necessitou de uma injecção de fundos equivalente a 45% do défice público português apurado em 2011.

A eventual venda do BCG vai pôr um ponto final no projecto internacional defendido na última década, pelas várias administrações, e que tinha como prioridade a operação espanhola.

Dados recolhidos pelo PÚBLICO indicam que o conselho de gestão liderado por José de Matos recebeu, há cerca de seis meses, uma proposta de aquisição do BCG por parte da Cajastur. Esta instituição de aforro, ligada à Igreja Católica em Espanha, foi alvo de intervenção estatal em 2010, por dificuldades financeiras, e hoje opera debaixo do chapéu do Liberbank, ao lado da Caja da Extremadura e da Caja Cantábrique.

O PÚBLICO apurou, ainda, junto de fontes ligadas ao processo, que José de Matos tem até meados da próxima semana para responder ao grupo espanhol se aceita, ou não, a sua oferta, e que prevê, entre outras coisas, a integração do BCG na Cajastur, por contrapartida do pagamento à CGD de 150 milhões de euros. A proposta que está em cima da mesa prevê também que a Cajastur assuma os empréstimos contraídos pelo BCG, em particular, junto do BCE, no valor de cerca de dois mil milhões de euros.

O dossier está nas mãos de Jorge Tomé, o presidente da Caixa BI, e é do conhecimento da Direcção-Geral do Tesouro, que detém as acções da CGD, pelo que a última palavra caberá à secretária de Estado das Finanças, Maria Luís Albuquerque, que tutela o grupo financeiro. Até ao fecho da edição a CGD não respondeu às questões colocadas pelo PÚBLICO.

Na última apresentação das contas anuais consolidadas de 2011, a CGD divulgou os maiores prejuízos de sempre, de 488 milhões de euros (ver caixa ao lado), mas não revelou os números detalhados associados ao BCG, instituição liderada desde 2007 por Rudolfo Lavrador. Da documentação apenas constam dados agregados da actividade internacional correspondentes às rubricas do crédito a clientes e de recursos totais, havendo uma menção vaga à quota do BCG, respectivamente, de 31% (13,4 mil milhões de euros) e de 21% do total (2,4 mil milhões). Com cerca de 200 agências, a filial espanhola da CGD foi sempre considerada a jóia da coroa da casa-mãe. A semana passada o jornal Sol noticiou que ao banco público está, desde 2010, a injectar fundos em permanência no BCG, um apoio que implica um custo anual de 50 milhões para o grupo estatal português.

O financiamento global do grupo à operação espanhola cifra-se, de acordo com o semanário, em três mil milhões (45% do défice público português), e estará a ser feito a taxas de juro abaixo da Euribor. Esta situação resulta, em parte, dos problemas de liquidez decorrentes da conjuntura do mercado

O actual chairman da CGD, Faria de Oliveira, chegou a estar à frente do BCG até ser nomeado, em 2007, para presidir à CGD, substituindo Carlos Santos Ferreira. Em Janeiro de 2011, numa entrevista ao PÚBLICO, ainda na qualidade de CEO da CGD, Faria de Oliveira admitiu que tinha o "objectivo de fazer crescer um banco em Espanha, porque 30% das exportações portuguesas se destinam a Espanha e 30% das importações vêm daí". Como "a operação não chega para captar depósitos, está muito ligada à CGD em termos de funding" e "só um aumento de dimensão permitia uma maior autonomia". E reconheceu que "a crise em Espanha acabou, provavelmente, por ser boa conselheira." Em Setembro de 2011 tinham já surgido informações, não confirmadas, apontando para a existência de negociações envolvendo a integração do BCG num grupo espanhol, o que poderia permitir à CGD continuar a ter intervenção naquele país.

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