Ensaio sobre o luxo

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Desde Junho que o Segundo oferece aos hóspedes a possibilidade de almoçarem à beira da piscina. Jantares, só às quintas e sextas

Charutos, caviar, champanhe. Em ano de aniversário, o melhor boutique hotel da Europa não dispensa nenhum luxo. São 30 anos de sucesso festejados com muitos excessos.

"Sejam bem-vindos ao paraíso." A expressão com que se recebe cada hóspede do Vila Joya parece um cliché a quem entra pela primeira vez neste hotel em Albufeira, no Algarve. Fora de qualquer experiência ou opinião - por si só, subjectivas - os galardões reforçam o seu estatuto divino: World"s Leading Boutique Resort 2011, atribuído pelos World Travel Awards, os "Oscares" do turismo, pelo sexto ano consecutivo.

Porque um hotel não é apenas uma suite com boa vista, a cozinha do Vila Joya tem mérito próprio. O chef Dieter Koschina reinou sozinho em Portugal com uma coroa de duas estrelas Michelin (1995 e 1999) até ao ano passado. Pelos seus ombros, o Vila Joya tem subido na lista de San Pelegrino, que classifica os melhores restaurantes do mundo. Em 2011, o único restaurante português da listagem ocupava a 79.ª posição, mas este ano furou a entrada no top 50, aterrando na 45.ª posição. Feitas as apresentações, e depois de bem elevadas as expectativas, entremos.

A magia acontece

A última edição do Tribute to Cláudia, o festival gastronómico que reúne anualmente no Vila Joya alguns dos melhores chefs do mundo, teve mais uma mesa. Colocada dentro da cozinha, longe da sala de refeições, possibilita a vista para "Where the magic happens", como está escrito no tecto, com uma seta a apontar para a zona de empratamento. Outra seta vai na direcção oposta, onde estão os clientes: "Your confort zone". Enquanto as Peta Zetas do amuse bouche explodem na nossa boca, evocando os anos de 1980, ouvimos os primeiros gritos e batuques da cozinha, afinal, estamos quase dentro dela. São italianos, alemães e espanhóis que respondem a Matteo Ferrantino, o sub chef do Vila Joya e general em comando na ausência de Koschina.

A mesa do chef roubou espaço à área de serviço, mas, em época de overdose de programas de televisão sobre gastronomia, permite ao cliente comer enquanto assiste a um reality show ao vivo e em exclusivo. Virando o olhar na outra direcção, também há uma lição de gastronomia, mas de uma natureza diferente. Todos os chefs que já passaram pelo Tribute to Cláudia têm a sua foto pendurada na parede, numa fila que começa em 2007 e percorre a parede e o mundo. Este recanto da cozinha, com a respectiva decoração, é uma das novidades do Vila Joya, que tem neste festival gastronómico o seu ponto alto. A próxima edição do festival, já em preparação, traz uma grande mudança ao calendário do hotel. "Queremos trazer cá os chefs espanhóis e nórdicos que normalmente estão de férias em Janeiro", explica Gerbhard Schachermayer, o director do Vila Joya, de olhos postos nos grandes nomes da gastronomia que ainda não passaram pelo Tribute to Cláudia. O festival avança por isso dois meses e a sétima edição terá lugar de 8 a 17 de Março de 2013.

Uma mesa no mais cobiçado restaurante de Portugal, seja dentro ou fora da cozinha, é algo difícil de obter. O acesso está quase sempre fechado aos clientes do hotel, assim como a maioria dos almoços. E mesmo outros serviços como o spa, as várias piscinas e o novo restaurante, o Segundo, raramente se abrem ao exterior. Ainda assim, são poucos os lugares por ocupar. "Já temos o primeiro semestre do próximo ano cheio", explica Gerbhard Schachermayer. Daí que possam continuar a ser "selectivos", como o próprio refere. Crise é uma palavra que lhe chega de longe, de um mundo fora do muro que rodeia o Vila Joya. Os clientes novos do hotel representam apenas 15% do total da ocupação. Quem são os restantes 85%? Os mesmos de sempre. Os que voltam ano após ano e já têm cá semanas marcadas para 2013.

O hotel fundado em 1982 por Cláudia Jung está a celebrar os seus 30 anos. "Toda a gente esperava que fizéssemos uma grande festa", afirma o director. Mas não: em vez disso, juntaram todos os funcionários e perguntaram-lhes como gostariam que o hotel fosse daqui a 20 anos. Desse brainstorming saíram as novidades e iniciativas que o Vila Joya está a estrear, como o Segundo que, desde o final de Junho, oferece aos hóspedes a possibilidade de almoçarem - e jantarem às quintas e sextas - à beira da piscina. Trata-se de uma ementa mais leve "no sentido em que não tem a complexidade do menu de degustação do restaurante principal", explica Gerbarhad Schachermayer. Aqui os vinhos são brancos e verdes para acompanhar os pratos de peixe e marisco - também eles idealizados por Dieter Koschina -, com o riso das crianças que brincam na água a servir de música de fundo.

"Se fizéssemos uma festa, só alguns dos nossos clientes poderiam estar presentes. Para incluir toda a gente nas celebrações, optámos por ir fazendo várias iniciativas ao longo do ano", afirma Gebhard Schachermayer. O Vila Joya combinou os clássicos do luxo, embrulhou-os no cenário descontraído do hotel e oferece-os para satisfação de todos os prazeres. As degustações começam a 21 de Julho com a dupla Champagne&Oysters. Em Agosto, os melhores charutos cubanos juntam-se ao whisky num evento especial onde os não fumadores não entram. Esses ganharão em estar presentes no fim-de-semana Vodka&Caviar, agendado para 25 de Agosto.

Porque o Vila Joya não seria a mesma coisa sem Dieter Koschina, Setembro reserva uma oportunidade única: um walk on the wild side com o chef. No Koschina Harley Davidson Weekend paga-se por um lugar na mota do chef ao longo de um dia no asfalto - só para estômagos fortes. Se já está farto de buzinadelas e do cheiro de gasolina, pode desfrutar da deliciosa companhia de Koschina com o vento na cara, a bordo de um luxuoso iate Sunseeker. Para quem está mais interessado na comida do que na persona, há um workshop culinário de dois dias com direito a diploma e tudo. Entre torneios de golfe, piqueniques na Quinta do Malhadinha e passeios de iate, não há fantasia que fique por cumprir.

A Fugas esteve alojada a convite do Vila Joya.

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