Saadi al-Khadafi era, literalmente, o dono da bola

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Saadi al-Khadafi com a camisola do Perugia, em 2003 AFP PHOTO/PAOLO COCCO

Um dos filhos do ditador líbio teve uma espécie de carreira como futebolista e até chegou a jogar em três clubes da Série A italiana

Não se pode dizer que Saadi al-Khadafi tenha sido um talento precoce no futebol. Mas a sua história não foi uma de superação e triunfo sobre as adversidades. Não foi descoberto tardiamente por um olheiro de um clube quando jogava descalço nas ruas de Tripoli. O terceiro filho mais velho de Muammar Khadafi só começou a jogar futebol aos 27 anos, mas ele era o dono da bola no futebol líbio. Não era um jogador especialmente dotado, mas por ser filho de quem era conseguiu entrar na selecção do seu país (foi capitão), presidiu à federação líbia de futebol e até chegou a estar nos plantéis de três equipas da Série A italiana: Perugia, Udinese e Sampdoria.

A história tem início antes do nascimento de Saadi, a 28 de Maio de 1973. É preciso recuar ao tempo em que a Líbia era uma colónia italiana para perceber o fascínio do clã Khadafi pelo futebol. As relações económicas entre os dois países sempre foram fortes, por causa do petróleo, e o construtor automóvel Fiat era um interlocutor privilegiado. Baseada em Turim, a Fiat é dona da Juventus, um dos maiores clubes de Itália, e a família Khadafi ao longo dos anos foi investindo no clube - calcula-se que, actualmente, tenha uma participação a rondar os 7,5 por cento e a Supertaça italiana de 2002, ganha pela Juventus, realizou-se em Trípoli.

Saadi, um médio-ofensivo, já jogava com regularidade (quando queria, basicamente) em equipas de Trípoli, o Al-Ahly e o Al-Itihad, e na selecção líbia, mas queria internacionalizar-se. Contratou Carlos Bilardo (treinador campeão do mundo com a Argentina em 1986), Maradona para lhe ensinar uns truques e o antigo velocista canadiano Ben Johnson como preparador físico. Depois de pagar um milhão de dólares à selecção argentina para jogar com a Líbia e 300 mil ao Barcelona para defrontar o Al-Itihad em Camp Nou, para além de ter chegado a treinar-se na Lazio e na Juventus, Saadi foi "contratado" (investiu no clube) em 2003 pelo Perugia por uma temporada, apresentado com toda a pompa e circunstância que a sua fortuna lhe permitia, num castelo medieval, que era propriedade do dono do clube, Luciano Gaucci.

Só que o treinador Serse Cosmi nunca ficou convencido das capacidades futebolísticas do líbio e nunca cedeu às pressões do presidente do Perugia para o pôr a jogar. Ele, por sua vez, recebia telefonemas de Silvio Berlusconi para que Saadi tivesse alguns minutos de competição. "Ele disse-me que ter Khadafi na equipa está a ajudar a fortalecer as nossas relações com a Líbia. Se ele jogar, joga mal. Que seja", disse na altura Gaucci. Cosmi cedeu um bocadinho ao colocar Khadafi no banco num jogo (não entrou), mas o líbio foi escolhido para o controlo antidoping e testou positivo quanto à presença de nandrolona.

Depois de três meses suspenso sem sequer ter chegado a jogar um minuto, Khadafi ainda conseguiu jogar 15 minutos num jogo contra a Juventus que o Perugia ganhou por 1-0. Depois de mais uma temporada sem jogar no Perugia, Khadafi "transferiu-se" em 2005 para a Udinese, equipa que iria participar na Liga dos Campeões essa temporada - eliminou o Sporting na pré-eliminatória e Khadafi assistiu ao jogo em Lisboa, da bancada de Alvalade. Na Udinese, Khadafi também só jogou dez minutos, num jogo frente ao Cagliari, e, rezam as crónicas, até esteve perto de marcar um golo. Mas na sua derradeira época no calcio, ao serviço da Sampdoria, nem sequer teve direito aos minutos da praxe.

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