Garry Kasparov abandona a competição

O campeão do mundo de xadrez anunciou a sua retirada após a vitória no Magistral de Linares

O mundo do xadrez vai ficar mais pobre. O Grande Mestre Garry Kasparov, vai retirar-se da competição que dominou nos últimos 20 anos, para se dedicar, segundo ele, à política e à escrita. O anúncio foi feito em Espanha, onde anteontem venceu pela nona vez o Magistral de Linares. Aos 41 anos, o azeri, naturalizado russo, que aos 22 anos arrebatou o título mundial a Anatoly Karpov, tornando-se o mais novo campeão do mundo de sempre, chegou à conclusão que já tinha feito "tudo o que podia no xadrez" e que, como tal, era chegada a hora de ajudar a Rússia a encontrar um "melhor rumo político." "Antes deste torneio tomei consciência de que Linares 2005 seria o meu último torneio profissional. Os últimos jogos foram muito difíceis devido à grande pressão que senti, por saber que estava no final da minha carreira. Uma carreira da qual muito me orgulho. Esta é uma decisão difícil de tomar, pois cheguei ao topo graças à minha paixão e amor pelo xadrez", referiu Kasparov em conferência de imprensa.
Muito crítico em relação ao Presidente russo, Vladimir Putin, que considera "um ditador", Kasparov está decidido a fazer-lhe frente. "Acredito que, de momento, o país segue numa direcção errada e, como tal, é necessário ajudar a Rússia e os seus cidadãos a criarem um país justo e livre. Farei tudo o que puder para me opor à ditadura de Putin", referiu o mais carismático jogador de xadrez desde o abandono do norte-americano Bobby Fisher.
Segundo o xadrezista - que desde 1984 se mantém imbatível como número um mundial, apesar de ter perdido o título mundial em 2000 para o Grande Mestre russo Vladimir Kramnik -, a sua decisão prende-se apenas com torneios profissionais, já que pretende continuar a participar em simultâneas e a escrever livros sobre xadrez.
Ultimamente, Kasparov tornou-se um activo opositor da política de Putin, integrando inclusive um grupo oposicionista denominado "Eleições Livres 2008", que no próximo acto eleitoral russo pretende colocar um líder liberal no lugar actualmente ocupado por Putin. Uma oposição que não perde a oportunidade de expressar nos artigos semanais que escreve no Wall Street Journal, nos quais já chamou a Putin O Calígula de Moscovo.
Apesar de o russo parecer estar convicto da sua decisão, há quem não acredite que ele a mantenha. É esse o caso do porta-voz da Federação Mundial de Xadrez (FIDE) - organismo que após vários conflitos no início dos anos 90 abandonou, juntando-se à rival Associação Profissional de Xadrez (PCA) - Kirsan Ilyumzhinov.
"Garry é o melhor jogador de xadrez que alguma vez existiu. Infelizmente, ele é uma pessoa muito emocional e é totalmente possível que esta sua decisão seja fruto de um impulso de momento. Julgo que de uma forma ou de outra ele continuará presente. Esta é a sua profissão! Mas se estiver enganado e ele insistir em manter esta decisão, então só tenho de o lamentar", referiu Ilyumzhinov em declarações à agência Reuters.

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