O teatro de Carrilho da Graça é como um quarteirão

Projecto do arquitecto português vai abrir em 2008
e custará 60 milhões de euros

a É com um edifício "dois em um" que a arquitectura portuguesa vai contar, a partir do próximo ano, com mais uma obra de referência no território europeu. Trata-se do TAP - Théâtre Auditorium Poitiers (a designação é ainda provisória), projectado pelo arquitecto João Luís Carrilho da Graça, complexo que reúne, como o nome indica, um teatro e um auditório, actualmente em fase de acabamentos e que promete marcar a fisionomia desta cidade histórica francesa que é a capital da região de Poitou-Charentes.O arquitecto do Pavilhão do Conhecimento na Expo chegou ao projecto do TAP através de um concurso internacional, em que participaram, entre outros, o arquitecto francês Christian de Portzamparc, prémio Pritzker em 1994 e autor da Cité de la Musique, em Paris, e da Cidade da Música na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.
"Foi com surpresa que eu vi o meu projecto ser escolhido", confessou ao P2 Carrilho da Graça, que com o teatro-auditório de Poitiers terá o seu primeiro grande equipamento de espectáculos no estrangeiro - em Portugal, o arquitecto está a projectar a adaptação do convento de S. Francisco, em Coimbra, a um centro de convenções e de espectáculos, e é também o autor da Escola Superior de Música de Lisboa.
Amarelo polémico
O TAP começou a ser construído em 2003 (depois de dois anos de escavações arqueológicas) e a data de inauguração estava prevista para o final deste ano. A cerimónia funcionaria como coroa para a glória do presidente da Câmara de Poitiers, o socialista Jacques Santrot, um "dinossauro" do poder autárquico em França, que vai abandonar o cargo em Fevereiro depois de quase três décadas de mandatos, e que foi o principal impulsionador da construção do teatro.
Mas a obra está atrasada em cerca de um ano, resultado, entre outros percalços que sempre acompanham estas obras, da inesperada queda do tecto do auditório, um acidente que, no entanto, não provocou vítimas. De resto, a construção "está a ser feita com um controlo técnico e financeiro muito estrito", diz Carrilho da Graça, admitindo, mesmo assim, que o orçamento inicialmento previsto de 50 milhões de euros possa saltar para os 60 milhões.
O novo complexo vai acolher sob o mesmo tecto as estruturas aglomeradas em volta do Théâtre-Scène National de Poitiers - o Centro Dramático e a Orquestra de Poitou-Charentes, a Orquestra Champs Élysées e La Chapelle Royal e o Ensemble Ars Nova -, todas elas de relevo nacional e internacional.
Para tal, o TAP terá um teatro (730 lugares, com fosso de orquestra e um palco dotado dos equipamentos mais sofisticados) e um auditório (1100 lugares) em cujo palco cabem 160 músicos, estando as duas salas ligadas entre si por um hall ao qual o público acede por uma grande escadaria. Terá ainda três salas de ensaio, um restaurante panorâmico e vários bares e espaços de animação, numa área total de 30 mil metros quadrados.
Quem hoje visite ou passe junto ao edifício em construção, poderá ficar "chocado" com a cor amarelo-vivo que ele ostenta. Christian Bouard, director técnico do Théâtre-Scène, diz, numa visita que guiou para o P2, que muita gente ficou "assustada" ao vê-lo, mas descansa os críticos explicando que as paredes do teatro vão ser envolvidas por uma cobertura de vidro branco ou fosco, que funcionará como um ecrã permanente para a projecção de imagens e textos relativos à programação.
Outro quarteirão na cidade
Do ponto de vista funcional e urbanístico, o TAP será também um edifício-promenade, com espaços verdes, aberto à circulação das pessoas, como se fosse mais um quarteirão da cidade, no percurso que faz a ligação da estação dos caminhos-de-ferro e do vale do rio Boivre com o centro histórico, onde sobressai a catedral Notre-Dame-La-Grande (séculos XI-XII).
"Aquele sítio não comportava um grande equipamento. Daí eu ter optado por uma estrutura em dois volumes [o teatro e o auditório] com uma escala pequena e convivial", justifica Carrilho da Graça, realçando a preocupação de fazer com que o TAP esteja em continuidade com os edifícios vizinhos e dialogue com eles como uma promenade architecturelle, seguindo o conceito de Le Corbusier.
A construção do TAP tem sido, por outro lado, nota o arquitecto, objecto de "um diálogo muito insistente e atento" com a comunidade local, numa cidade e região marcadas por uma vida cultural muito intensa. Exemplo disso é a publicação com que as instituições que patrocinam a construção (o Théâtre-Scène, a câmara, o Conselho Regional e o Ministério da Cultura) têm acompanhado e documentado o processo, e que vai já no n.º 7 - o 8.º deverá ser para anunciar o programa da inauguração, marcada para Setembro-Outubro de 2008.

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