Projecto da Cruz Vermelha combate abandono escolar de crianças ciganas na Amadora

Na área geográfica de actuação da delegação da Amadora da CVP, nenhuma criança ou jovem termina o ensino secundário e poucos são os que conseguem terminar o terceiro ciclo do ensino básico.

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Há um grande abandono escolar na comunidade cigana Matilde Fieschi
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A delegação da Amadora da Cruz Vermelha Portuguesa vai acompanhar durante dez anos, com 12 mentores, 30 crianças e jovens ciganos de dois agrupamentos de escolas, num projecto de combate ao absentismo e ao abandono escolares.

Em declarações à agência Lusa, o coordenador do projecto MentoRoma, que vai ser apresentado publicamente nesta quarta-feira, explicou que "o objectivo primordial é promover a longevidade escolar de crianças e jovens de etnia cigana".

Segundo João Tavares, a vontade de implementar este projecto surgiu depois de ter sido constatado que, na área geográfica de actuação da delegação da Amadora da CVP, "nenhuma criança ou nenhum jovem terminava o ensino secundário e poucos eram aqueles que conseguiam terminar o terceiro ciclo do ensino básico".

"A média nacional [para os alunos ciganos] é de pelo menos de 2,5% que conseguem terminar o secundário ou até mesmo o ensino superior", apontou o coordenador do MentoRoma, que é também psicólogo na delegação da Amadora da CVP.

João Tavares sublinhou que se impunha "mudar de paradigma", uma vez que a "intervenção tradicional" não estava a dar resultados, tendo arrancado ainda em 2022 um projecto-piloto com seis mentores, que acompanharam 16 crianças ciganas, entre Agosto e Dezembro.

Depois do projecto-piloto, e graças a ter sido um dos vencedores do prémio Infância BPI/Fundação La Caixa, a delegação da Amadora da CVP vai ter 12 mentores, alguns deles ciganos, mas sobretudo "pessoas que possam ter um impacto positivo e forte nestas crianças e jovens", a acompanhar 30 alunos, com idades entre os 08 e os 19 anos.

João Tavares explicou que há "vários objectivos", desde logo que estas crianças e jovens "cheguem o mais longe possível" no percurso escolar, o que para alguns pode significar apenas o regressar à escola e concluírem um ciclo de estudos.

"É plantar uma semente dentro destas crianças, regá-la ao longo do tempo com a ajuda destes mentores e tentá-lo a ver exemplos também de perseverança e de conquista para o futuro", apontou, referindo-se aos mentores.

Adiantou que há já 30 crianças sinalizadas pertencentes a dois agrupamentos de escolas, o agrupamento Fernando Namora, na freguesia da Encosta do Sol, e o agrupamento Mãe d'Água, na freguesia da Falagueira.

O trabalho de mentoria começa no dia 03 de Março, com a primeira sessão, sendo expectável que ocorram 12 sessões até ao final do ano, uma com cada um dos mentores.

Além das sessões com os mentores, haverá também uma formação para pais, de modo a envolver os progenitores das crianças e jovens acompanhadas, além de uma formação para a rede escolar e para os técnicos do Rendimento Social de Inserção, que lidam directamente com as famílias.

Os 30 alunos farão também duas visitas culturais e quatro visitas a locais de trabalho, nomeadamente, uma esquadra de polícia, no caso, explicou o responsável, para desmistificar o papel das forças de segurança.

De acordo com João Tavares, o objectivo é acompanhar estes 30 alunos durante 10 anos e no fim desse período "perceber se houve efectivamente alguma mudança ou não", seja na prevenção do absentismo, seja no retorno à escola por quem tenha abandonado.

Referiu que o projecto será avaliado anualmente e deu como exemplo que, no decorrer do projecto-piloto de 2022, foi possível detectar o caso de um aluno cigano de 15 anos que era analfabeto apesar de ter transitado até ao 8.º ano de escolaridade.

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