O acolhimento de refugiados, uma receita para construir a paz

Deixo algumas recomendações, lembretes para que consigamos construir a paz e interromper com os ciclos de sofrimento, violência e trauma.

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CLEMENS BILAN/EPA

Embora as guerras façam parte da nossa história, parece que é cada vez mais difícil encontrar explicações para as digerir. Mas há algo que não deixa margem para dúvidas: o sofrimento que as marca.

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Embora as guerras façam parte da nossa história, parece que é cada vez mais difícil encontrar explicações para as digerir. Mas há algo que não deixa margem para dúvidas: o sofrimento que as marca.

Trabalhei na Ucrânia, neste mesmo conflito em 2014 e lamento que desde então não tenhamos conseguido interromper este ciclo de sofrimento, ao ponto de termos permitido que as crianças que acompanhei naquele tempo se tornassem nos jovens alistados na linha da frente a combater pelo seu país. Se é o trauma ou o propósito que os move, só o saberemos depois, quando tudo acabar. Mas hoje temos uma certeza, que podemos contribuir para a construção de paz no acolhimento que fazemos aos refugiados ucranianos.

Como? O acolhimento que é feito a estas pessoas pode determinar a proliferação do sofrimento transgeracional ou, pelo contrário, a sua interrupção. E, por isso, deixo algumas recomendações, lembretes para que consigamos construir a paz e interromper com os ciclos de sofrimento, violência e trauma.

Antes de receber uma família ou refugiados é fundamental:

1. Avaliar motivações e recursos existentes antes de qualquer apoio, pois nestas situações o mais importante é prestar um apoio em que todos os envolvidos sabem com o que se pode contar. Relembrando-nos que a imprevisibilidade, instabilidade e a insegurança foi o que levou ao pedido de asilo e protecção, o que me motiva a ajudar estas pessoas? Quais os recursos pessoais que tenho para doar a esta causa? (Durante quanto tempo, que tempo tenho nos meus dias, quais os níveis de energia e disponibilidade para o assunto, que pessoas conheço que podem ajudar…)

Esta reflexão permite-nos identificar as nossas possibilidades, tal como as nossas limitações, já que a onda de solidariedade e os sentimentos de culpa/responsabilização de quem assiste de fora podem impelir-nos a mostrar mais disponibilidade do que realmente temos. Nestes casos, o melhor apoio é aquele que é fiável, no qual os envolvidos sabem com o que podem contar.

2. Conhecer as reacções físicas, cognitivas e emocionais de pessoas expostas a eventos potencialmente traumáticos é importante, para que quem quer tanto ajudar saber como reagir perante as queixas físicas, alterações de padrões de sono e alimentação, ou outras reacções emocionalmente mais bruscas. Quem passa por estas situações tende a manifestar uma série de sintomas que importa conhecer para saber como ajudar.

3. Aprender algumas técnicas úteis para gerir momentos em crise: como o toque, dar a mão ou tocar no joelho, manter e insistir numa respiração conjunta e profunda e manter a presença até chamar ajuda especializada.

4. Conhecer a rede de serviços e organismos que dão as respostas às diferentes necessidades: para regularização de documentação, serviços de saúde (física e psicológica), serviços de educação, para criação de rede de comunidade, para aprender a língua.

Mãos à obra e bons contributos para a construção de mais humanidade e paz!


Psicóloga clínica, fundadora da Be Human