Morreu o psiquiatra Afonso de Albuquerque, pioneiro no estudo do stress de guerra em Portugal

Deixa, aos 86 anos, um vasto legado nas áreas do stress pós-traumático de guerra, da sexologia clínica, da terapia comportamental e da saúde mental.

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Afonso de Albuquerque faleceu aos 86 anos Daniel Rocha

O psiquiatra Afonso de Albuquerque, pioneiro nos estudos sobre o stress pós-traumático de guerra e fundador da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, morreu na terça-feira aos 86 anos no seu domicílio, disse à Lusa uma familiar.

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O psiquiatra Afonso de Albuquerque, pioneiro nos estudos sobre o stress pós-traumático de guerra e fundador da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, morreu na terça-feira aos 86 anos no seu domicílio, disse à Lusa uma familiar.

Em comunicado, a família informou que o velório decorre esta quarta-feira a partir das 17h00 na Igreja do Campo Grande, em Lisboa, e o funeral terá lugar na quinta-feira às 16h00, no cemitério do Alto de S. João.

Pioneiro dos estudos em Portugal sobre o stress pós-traumático, Afonso de Albuquerque criou, em 1988, a fundação APOIAR, destinada ao apoio aos ex-combatentes vítimas do stress de guerra, e que se mantém em funcionamento até hoje.

O psiquiatra colaborou na elaboração da lei de apoio às vítimas de stress pós-traumático de guerra, aprovada em Junho de 1999, o que, segundo um comunicado da família, “justificou a atribuição da Medalha de Defesa Nacional ao médico, em Outubro de 2019”.

Afonso de Albuquerque tirou a licenciatura em Medicina na Universidade de Coimbra em 1960, antes de cumprir o serviço militar obrigatório em Moçambique, entre 1961 e 1964, como alferes miliciano médico. Em 1964, parte para Inglaterra, de onde regressa em 1968 com o título de especialista em psiquiatria atribuído pelo Royal College of Psychiatrists.

Iniciando a sua carreira profissional no hospital Júlio de Matos, em Lisboa, Afonso de Albuquerque fundou naquela instituição várias consultas clínicas, como a de Sexologia, Aconselhamento Conjugal ou de Stress Traumático. Em 1981, torna-se director do Serviço de Psicoterapia Comportamental do hospital, cargo que manterá até à sua aposentação, em 1997.

Sem nunca se ter filiado em partidos políticos - apesar de, em 2018, em entrevista à revista Sábado, ter admitido que foi “simpatizante do MRPP” e que chegou a ser “abordado pelo PCP” -, Afonso de Albuquerque é preso em Maio de 1972 pela PIDE por pertencer à Comissão Nacional de Socorro dos Presos Políticos, que publicou uma lista com as torturas perpetradas pela polícia política. Ficará três semanas preso no forte de Caxias. A seguir ao 25 de Abril, torna-se delegado da Ordem dos Médicos na Comissão de Extinção da PIDE.

Especialista na área da sexologia, Afonso de Albuquerque foi também um dos sócios fundadores da Sociedade Portuguesa da Sexologia Clínica (SPSC), em 1985, de que se tornou director entre 1988 e 1991. Fundou também a Associação Portuguesa de Terapia do Comportamento, em 1984.

Com extensa bibliografia na área do stress pós-traumático, da sexologia clínica ou da terapia comportamental, Afonso de Albuquerque foi também o autor de livros como “A discriminação do doente mental no Ocidente” ou “Minorias eróticas e agressores sexuais”. Na nota enviada à agência Lusa, a família sublinha o “enorme legado para as ciências da saúde mental em Portugal” deixado por Afonso de Albuquerque.