Cerca de 99% da população do planeta respira ar com poluição que excede os limites

África e Pacífico Ocidental têm níveis quase oito vezes mais elevados das partículas finas poluentes na atmosfera do que o recomendado pela agência das Nações Unidas. É na Europa que são mais baixos. A poluição atmosférica e as alterações climáticas são desafios gémeos, diz director da OMS.

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Fumo a sair das chaminés de uma zona industrial em Carachi, no Paquistão EPA/SHAHZAIB AKBER

Cerca de 99% da população do planeta respira ar com níveis de poluição que excedem os limites considerados aceitáveis, de acordo com a base de dados sobre a qualidade do ar da Organização Mundial de Saúde (OMS). As pessoas que vivem nos países de baixos rendimentos são as mais expostas à poluição por partículas finas e dióxido de azoto, que põem em risco a sua saúde e causam mortalidade prematura.

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Cerca de 99% da população do planeta respira ar com níveis de poluição que excedem os limites considerados aceitáveis, de acordo com a base de dados sobre a qualidade do ar da Organização Mundial de Saúde (OMS). As pessoas que vivem nos países de baixos rendimentos são as mais expostas à poluição por partículas finas e dióxido de azoto, que põem em risco a sua saúde e causam mortalidade prematura.

Um número recorde 6000 cidades em 117 países faz agora medições sobre a qualidade do ar. O relatório actualizado para 2022 da base de dados sobre a qualidade do ar da OMS inclui dados relativos ao período entre 2010 e 2019 destas mais de 6000 cidades sobre poluentes como partículas finas PM 10 e PM 2,5 (ou seja, com um diâmetro de 10 ou 2,5 micrómetros [milionésimo de metro]) e dióxido de azoto. Estes dois tipos de poluição estão relacionados com o uso de combustíveis fósseis e estão associadas a várias doenças respiratórias, cardiovasculares e cerebrovasculares.

As partículas PM 2,5 são suficientemente pequenas para conseguirem penetrar profundamente nos pulmões e entrar na corrente sanguínea, provocando doenças respiratórias e até acidentes cardiovasculares. Há também cada vez mais indícios de que afectam outros órgãos, causando outro tipo de doenças.

As regiões de África e do Pacífico Ocidental da OMS têm níveis quase oito vezes mais elevados destas partículas na atmosfera do que o recomendado pelas linhas orientadoras da agência das Nações Unidas. Os níveis mais baixos são na Europa. Só 17% das cidades nos países de altos rendimentos têm um nível de partículas finas acima do definido como aceitável pela OMS - que foi actualizado em 2021.

Quanto ao dióxido de azoto, está associado a doenças respiratórias, em particular a asma, e a sintomas respiratórios somo tosse, pieira e dificuldade em respirar. Está por trás de muitos internamentos e idas a emergências hospitalares. Nos países de baixos e médios rendimentos, os níveis de dióxido de azoto (NO2) são 1,5 vezes mais elevados do que nos países mais ricos.

A poluição atmosférica mata pelo menos sete milhões de pessoas de forma prematura todos os anos. “Depois de termos sobrevivido a uma pandemia, é inaceitável ainda haver sete milhões de mortes evitáveis e incontáveis anos perdidos de boa saúde devido à poluição do ar. É o queremos dizer quando olhamos para a montanha de dados sobre poluição atmosférica, provas e soluções que estão disponíveis. Mas muitos investimentos continuam a ser enterrados num ambiente poluído em vez de num esforço para garantir ar limpo e saudável”, disse Maria Neira, directora do Departamento de Ambiente, Alterações Climáticas e Saúde da OMS, citada num comunicado de imprensa.

"A urgência de lidar com os desafios gémeos da poluição atmosférica e das alterações climáticas sublinha a necessidade urgente de nos dirigirmos para um mundo menos dependente de combustíveis fósseis”, disse o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, citado no mesmo comunicado.