CDU corta com a era Merkel: Merz é o novo chefe do partido

Friedrich Merz emocionou-se ao aceitar mandato conferido por quase 95% dos delegados do congresso da CDU.

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Friedrich Merz agradece o mandato que lhe foi dado pelos delegados no congresso da CDU HANNIBAL HANSCHKE/Reuters

Desta vez, Friedrich Merz não enfrentava qualquer concorrência no congresso da União Democrata-Cristã (CDU) que se realizou com os delegados a votar em massa no candidato: 983 em 1001. Não houve qualquer surpresa já que Merz tinha sido eleito em Dezembro na primeira vez que o partido deu a escolha por votação directa aos militantes. À terceira vez, tinha finalmente conseguido ser escolhido para chefiar a CDU.

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Desta vez, Friedrich Merz não enfrentava qualquer concorrência no congresso da União Democrata-Cristã (CDU) que se realizou com os delegados a votar em massa no candidato: 983 em 1001. Não houve qualquer surpresa já que Merz tinha sido eleito em Dezembro na primeira vez que o partido deu a escolha por votação directa aos militantes. À terceira vez, tinha finalmente conseguido ser escolhido para chefiar a CDU.

Talvez a surpresa tenha sido a emoção com que Merz, que pareceu à beira das lágrimas, recebeu o mandato que lhe foi dado por quase 95%: dos 983 votos, houve 16 abstenções e 915 votos a favor de Merz. “Estou muito comovido”, declarou.

Mais conhecido por ser o eterno rival de Merkel – e talvez o primeiro de uma lista de rivais que foram sendo afastados do caminho da chanceler pela sua eficácia ou circunstâncias – Merz tem agora a difícil tarefa de unir o partido conservador, e ainda de recuperar a divisão com o seu partido-gémeo, a União Social-Cristã (CSU), da Baviera.

Representa um corte da CDU com a era Merkel, uma era em que foi levada para o centro. Merz é visto como o representante de um regresso da CDU a uma matriz mais conservadora, mas é muito criticado por algumas posições e o modo como fala sobre certas questões, por exemplo a adopção por casais homossexuais, parecerem ser antiquadas para um partido que promete dirigir-se a todas as gerações.

Merz causou recentemente polémica quando foi questionado sobre a possibilidade de haver um chanceler homossexual na Alemanha e respondeu que não, acrescentando: “Em relação à questão da orientação sexual, desde que seja dentro da lei e não afecte crianças – o que para mim seria um limite absoluto – não é uma questão para discussão”. Acusado de ligar homossexualidade a pedofilia, Merz disse mais tarde que não fora essa a sua intenção e pediu desculpas.

Também tem sido recordada a sua posição em 1997, quando votou contra a criminalização da violação no casamento. Merz defende que não era contra mas que achava que a legislação existente já o fazia, e queria ainda uma cláusula que permitisse às vítimas retirar a queixa. Recentemente, Merz, que foi advogado e magistrado, processou um político do partido Die Linke (A Esquerda) por este ter declarado que o conservador “votou contra a criminalização da violação no casamento”. Perdeu.

O caso foi visto como prova de outra característica de Merz: dificuldade em aceitar críticas.

Agora, é a ele que cabe unir um partido que tem estado muito dividido, como mostraram as eleições anteriores em que perdeu primeiro para Annegret Kramp-Karrenbauer (2018) e depois para Armin Laschet (2021), ambos representantes de uma continuidade com o caminho centrista de Merkel, que assegurou ao partido 16 anos confortáveis no poder (e que por apenas nove dias não bateu o recorde do que os alemães chamam o “chanceler eterno”, Helmut Kohl).

Vários especialistas em ciência política notam que a CDU, que obteve um mínimo histórico nas eleições de Setembro com apenas 24,1%, não deverá conseguir voltar aos tempos de 30-40% com a viragem à direita que se anuncia, vendo o desejo da base como contrário às perspectivas eleitorais do partido.