OMS: Ómicron pode infectar mais de metade da população europeia nas próximas semanas

A Organização Mundial de Saúde alertou que a covid-19 ainda não deve ser vista como uma doença endémica semelhante à gripe.

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O director da OMS na Europa, Hans Kluge, disse que 50 em 53 países na Europa e Ásia Central já registaram casos relacionados com a Ómicron HENRY NICHOLLS/REUTERS

A este ritmo de propagação do coronavírus SARS-CoV-2, a Organização Mundial da Saúde (OMS) refere que mais de 50% da população na Europa e Ásia Central pode ser infectada com a variante Ómicron nas próximas seis a oito semanas. As estimativas são do Instituto de Medição e Avaliação de Saúde (IHME) da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Num comunicado desta terça-feira, o Grupo Técnico Consultivo sobre a Composição das Vacinas contra a Covid-19 – criado pela OMS – também aconselhou os fabricantes a gerarem e fornecerem mais dados sobre o desempenho das vacinas que estão a ser desenvolvidas especificamente contra a variante Ómicron.

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A este ritmo de propagação do coronavírus SARS-CoV-2, a Organização Mundial da Saúde (OMS) refere que mais de 50% da população na Europa e Ásia Central pode ser infectada com a variante Ómicron nas próximas seis a oito semanas. As estimativas são do Instituto de Medição e Avaliação de Saúde (IHME) da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Num comunicado desta terça-feira, o Grupo Técnico Consultivo sobre a Composição das Vacinas contra a Covid-19 – criado pela OMS – também aconselhou os fabricantes a gerarem e fornecerem mais dados sobre o desempenho das vacinas que estão a ser desenvolvidas especificamente contra a variante Ómicron.

O director da OMS na Europa, Hans Kluge, disse que 50 em 53 países na Europa e Ásia Central já registaram casos relacionados com esta variante e que “se está rapidamente a tornar o vírus dominante” em várias regiões do continente.

Na primeira semana de 2022 houve mais de sete milhões de novos casos de infecção e há 26 países a notificar que mais de 1% das suas populações ficam infectados a cada semana, segundo os dados revelados esta terça-feira. A taxa de mortalidade continua “estável” e é mais elevada em países com maior incidência e em que haja uma menor taxa de vacinação.

A variante Ómicron é “altamente transmissível” porque as suas mutações lhe permitem mais facilmente penetrar nas células humanas, infectando mesmo quem já tinha tido covid-19 ou aqueles que já estavam vacinados. Ainda assim, assegura a OMS, “as vacinas aprovadas continuam a oferecer uma boa protecção contra a doença grave e morte, incluindo para a Ómicron”.

“Estou também preocupado com a variante a mover-se para o Leste. Ainda teremos de ver o seu impacto em países onde os níveis de vacinação são mais baixos e onde veremos mais doença grave nos não-vacinados”, disse o director regional. E deu o exemplo da Dinamarca: o risco de hospitalização para pessoas não-vacinadas foi seis vezes superior ao das pessoas vacinadas.

Segundo Hans Kluge, a Europa deve agir rapidamente para evitar um “tsunami” de casos da variante Ómicron, que poderá afectar os sistemas de saúde em toda a região. O director da OMS na Europa alerta, por isso, para o facto de que os países que ainda não foram atingidos por um aumento exponencial de casos desta variante têm “uma janela de oportunidade para agir agora”.

Recomendações para as novas vacinas

No comunicado, o Grupo Técnico Consultivo sobre a Composição das Vacinas contra a Covid-19 aconselhou os fabricantes a obterem e fornecerem mais dados sobre o desempenho das vacinas que estão a ser especificamente desenvolvidas contra a variante Ómicron. O grupo refere que essas vacinas têm de desencadear respostas imunitárias “gerais, fortes e duradouras” para que seja possível reduzir a necessidade de sucessivas doses de reforço.

Mais: indica-se que essas vacinas têm de ser mais eficazes na protecção contra a infecção, permitindo diminuir a transmissão. Para tudo isto, o grupo nota que se deve considerar uma mudança ou actualização na composição das vacinas para se assegurar a protecção contra a doença grave, bem como na protecção contra variantes do vírus, incluindo a Ómicron. Este grupo foi criado pela OMS para rever e avaliar as implicações na saúde pública do surgimento de variantes de preocupação no desempenho das vacinas.

A OMS já tinha dito esta terça-feira que era necessário saber se as vacinas existentes estão, de facto, a dar uma protecção adequada contra a Ómicron. Na segunda-feira, o presidente executivo da Pfizer, Albert Bourla, tinha dito que uma vacina concretamente dirigida à Ómicron poderá ser necessária e que a empresa poderia ter uma versão pronta para a lançar em Março. A Moderna também está a desenvolver uma candidata a vacina dirigida especificamente à Ómicron, mas é improvável que esteja disponível nos próximos dois meses.

A OMS já adiantou que mais dados sobre a efectividade das vacinas contra a Ómicron poderão estar disponíveis nas próximas semanas. Insistiu ainda para que os países estudem a efectividade e o impacto das vacinas.

“Ainda não lhe podemos chamar endemia”

Também esta terça-feira, a OMS alertou para que a covid-19 ainda não deve ser vista como uma doença endémica semelhante à gripe. Na segunda-feira, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, disse que era tempo de mudar a abordagem à covid-19 e começar a usar um método mais semelhante ao da gripe, porque a letalidade está a diminuir. Isto implicaria tratar o vírus como endémico sem que fossem registados todos os casos e sem que todas as pessoas com sintomas fossem testadas.

A OMS já reagiu. Há “um caminho a percorrer”, alertou Catherine Smallwood, responsável do Departamento de Emergência Sanitária da OMS, acrescentando que numa situação endémica a transmissibilidade é previsível e estável. “Ainda estamos perante uma grande quantidade de incerteza e um vírus que está a evoluir de forma muito rápida, impondo novos desafios. Estamos certos de que, neste ponto da situação, ainda não lhe podemos chamar endemia”, esclareceu, citada pela agência Reuters.

Afecta menos os pulmões?

Nas últimas semanas, também têm sido reveladas algumas provas científicas de que a Ómicron afecta mais o trato respiratório superior (garganta e traqueia) do que os pulmões. Por exemplo, um estudo feito em laboratório com modelos animais mostrou que a Ómicron pode replicar-se 70 vezes mais rapidamente do que a Delta nas vias áreas superiores, mas dez vezes mais lentamente nas células do pulmão inferior. Contudo, a OMS assinalou que são necessários ainda mais estudos que provem isto.

Identificada inicialmente em países da África austral, a Ómicron já foi detectada um pouco por todo o mundo. Desde cedo que esta variante suscitou interesse e preocupação devido ao grande número de mutações que possui – entre 26 e 32 na proteína da espícula, que é responsável pela entrada do vírus nas células. O número maior de mutações nessa zona de ligação às células dar-lhe-á maior capacidade para enganar o sistema imunitário. com Claudia Carvalho Silva