Índia vai revogar leis agrárias depois de um ano de protestos de agricultores

Primeiro-ministro Modi volta atrás depois de um dos maiores desafios ao seu poder. “Vamos começar de novo”, disse aos agricultores.

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Agricultores celebram o anúncio de Modi, mas só vão desmobilizar após a revogação das leis no Parlamento ANUSHREE FADNAVIS/Reuters

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, anunciou esta sexta-feira que vai revogar três leis da reforma agrária, um passo atrás significativo, e raro, num governante mais habituado a seguir em frente do que a capitular.

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O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, anunciou esta sexta-feira que vai revogar três leis da reforma agrária, um passo atrás significativo, e raro, num governante mais habituado a seguir em frente do que a capitular.

Modi, no poder de 2014, e que transformou o exercício do poder político dos últimos anos na Índia num poderoso culto à sua personalidade, enfrentava grandes protestos de agricultores desde há mais de um ano depois de fazer aprovar legislação que desregulava o mercado agrícola. Os agricultores temiam que os preços descessem ao deixarem de vender aos mercados controlados pelas autoridades, me que há preços mínimos.

Os protestos atraíram atenção global, com celebridades como Rihanna a apoiar a causa dos agricultores, assim como a activista contra o aquecimento global, Greta Thunberg.

“Vim dizer-vos hoje, a todo o país, que decidimos revogar as três leis da agricultura”, disse Modi, acrescentado que isso será feito numa sessão parlamentar ainda este mês.

“Apelo aos agricultores para que regressem às suas casas, aos seus campos, e às suas famílias, e também lhes peço que comecemos de novo”, declarou.

O anúncio apanhou todos de surpresa. Até agora, Modi argumentava que as leis eram essenciais para resolver o problema crónico de desperdício e pouca eficácia. No início do próximo ano há eleições no estado do Uttar Pradesh, o mais populoso, e em outros dois estados com grandes populações rurais, e Modi está muito pressionado para ter um bom desempenho e manter a maioria.

Muitos agricultores protestavam em acampamentos nas estradas nos arredores de Nova Deli, gerando uma rede de solidariedade, em que todos os dias tractores entregam aos manifestantes madeira e alimentos.

Ao ouvir a notícia, muitos celebraram. “Apesar de muitas dificuldades, estamos aqui há quase um ano e o nosso sacrifício finalmente compensou”, disse Ranjit Kumar, um agricultor de 36 anos em Ghazipur, no Uttar Pradesh.

Mas um dos líderes do movimento de protesto, Rakesh Tikait, disse que os agricultores não iam voltar já a casa. “Vamos esperar que o Parlamento revogue as leis”, disse.