Vargas Llosa fala de quando foi abusado por um padre para defender que “o abuso de crianças é absolutamente inaceitável”

O Prémio Nobel da Literatura fez uma viagem ao seu próprio passado e ao momento em que um sacerdote tentou abusar de si para alertar para a necessidade de proteger as crianças.

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Mario Vargas Llosa foi Prémio Nobel da Literatura em 2010 Reuters/HENRY ROMERO

O incidente não é uma novidade para quem acompanha o trabalho do peruano Mario Vargas Llosa: descreveu-o em El Pez En El Agua, livro de memórias lançado em 1993. Mas esta é a primeira vez que o laureado escritor fala em público sobre o tema — aconteceu durante a Feira Virtual do Livro de Cajamarca, Peru —, acabando por aceitar expor o passado numa pequena entrevista ao jornal El País.

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O incidente não é uma novidade para quem acompanha o trabalho do peruano Mario Vargas Llosa: descreveu-o em El Pez En El Agua, livro de memórias lançado em 1993. Mas esta é a primeira vez que o laureado escritor fala em público sobre o tema — aconteceu durante a Feira Virtual do Livro de Cajamarca, Peru —, acabando por aceitar expor o passado numa pequena entrevista ao jornal El País.

Ao diário espanhol, assevera que o que aconteceu consigo não passou de “um pequeno incidente” que fez com que se distanciasse “por completo da religião”. Mas garante que nem todos os casos tiveram tão poucas consequências: “Crianças do meu bairro nunca recuperaram.”

O incidente ocorreu quando Vargas Llosa ainda não tinha 12 anos, acreditava nos “presentes trazidos pelo Menino Jesus” e que “as cegonhas traziam os bebés”. E recorda ao El País: “Eu era uma criança marota e chorona, mas tão inocente como um lírio.”

A inocência morreu no dia em que o padre Leoncio tentou tocá-lo. Não chegou a conseguir, mas fez com que o então quase adolescente aprendesse a noção de descrença. Hoje, considera importante voltar àquele fatídico momento, primeiro, porque “o abuso de crianças é absolutamente inaceitável” e, depois, porque “protegê-las [às crianças] é a primeira obrigação da sociedade”.

“Isto é terrível, causa traumas horríveis nas crianças, e tem de ser punido, corrigido de uma forma muito enérgica. O abuso de crianças é absolutamente inaceitável e não deve haver lugar para complacência.”

Apesar de reconhecer que o trauma não se instalou na sua vida nem na sua obra, Vargas Llosa aproveita esta memória para defender que “a Igreja deveria ter uma atitude mais enérgica”, sublinhando que “todas as precauções que são tomadas são necessárias”. “Muitas destas crianças sofrem geralmente um trauma que dura uma vida inteira, e são muito afectadas.”