Jornalista passou a usar véu islâmico e abaya após entrada dos taliban em Cabul?

Imagens de Clarissa Ward, correspondente da CNN em Cabul, mostram uma mudança radical após os taliban terem assumido o controlo da cidade.

Foto
Jornalista Clarissa Ward

A jornalista Clarissa Ward, correspondente da CNN em Cabul, esteve entre os nomes mais pesquisados nas redes sociais na segunda-feira, depois de publicações que mostravam uma transformação de guarda-roupa que servia para comprovar a brutalidade do regime taliban e o que isso implica para as mulheres no país.

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A jornalista Clarissa Ward, correspondente da CNN em Cabul, esteve entre os nomes mais pesquisados nas redes sociais na segunda-feira, depois de publicações que mostravam uma transformação de guarda-roupa que servia para comprovar a brutalidade do regime taliban e o que isso implica para as mulheres no país.

O contexto

Na primeira imagem, um frame retirado de uma emissão realizada na semana passada – quando os taliban ainda não tinham entrado na capital do Afeganistão –, Clarissa Ward está vestida com cores vibrantes, com um lenço ao pescoço e a cabeça completamente descoberta.

Na segunda imagem, já captada após os taliban terem conquistado a cidade e assumido o poder, Clarissa Ward aparece com o véu islâmico: vestida de preto, a jornalista tapou a cabeça, ocultando o cabelo e ficando apenas com a cara, mãos e pés visíveis.

Vários utilizadores das redes sociais e alguns órgãos de comunicação social fizeram uma comparação entre as duas imagens, captadas apenas com alguns dias de diferença. Para muitos, a justificação era clara: a brutalidade do regime taliban foi a razão para a mudança.

Os factos

A circulação destas imagens não passou despercebida à própria jornalista, que fez um esclarecimento no Twitter. Clarissa Ward clarificou que a primeira fotografia foi tirada dentro de um complexo fechado, onde as mulheres podiam andar sem véu e com a cabeça e braços destapados. Mas a correspondente da CNN diz também já tinha o hábito de usar o véu nas ruas de Cabul, apesar de admitir uma diferença dada a mudança de circunstâncias.

“Sempre usei um véu na cabeça nas ruas de Cabul, apesar de não estar com cabelo completamente tapado e abaya [o tecido que cobre braços e pernas]. Há uma diferença, mas não é tão acentuada”, clarificou.

Nas reportagens, a correspondente foi colocada à margem de conversas e locais frequentados pelos taliban apenas por ser mulher. Os taliban deixaram claro, em entrevista a Clarissa Ward, que passará a ser adoptada como lei a visão extremista da sharia, a lei islâmica. O apedrejamento das mulheres em caso de adultério é um dos castigos previstos sob esta lei, que retira muitas das liberdades individuais das mulheres. Há imagens que mostram algumas manifestações de mulheres no Afeganistão contra a aplicação desta lei, defendendo o direito a trabalhar. 

Muhammed Arif Mustafa, um comandante dos taliban, disse mesmo a Ward que o principal objectivo é que esta lei não seja apenas aplicada no país, mas também no resto do mundo. 

Em resumo

Clarissa Ward explica que o uso de véu nas ruas de Cabul é um gesto que já adoptava antes da entrada dos taliban na cidade. Contudo, admite que fez ajustes à indumentária, de modo a tapar o cabelo e outras zonas do corpo.