Trump afirmou que Hitler “fez muitas coisas boas”, diz jornalista do Wall Street Journal
Novo livro conta mais pormenores sobre uma viagem de Donald Trump a Paris, em 2018, que ficou marcada pela ausência do ex-Presidente dos EUA numa homenagem aos soldados norte-americanos mortos na I Guerra Mundial.
Durante uma visita a Paris para as comemorações dos 100 anos do fim da I Guerra Mundial, em 2018, Donald Trump fez uma afirmação que chocou o antigo general dos marines John Kelly, na altura chefe de gabinete da Casa Branca. “Adolf Hitler fez muitas coisas boas”, disse o ex-Presidente dos EUA, enquanto ouvia da boca de Kelly “uma lição improvisada sobre História”, avança o jornal britânico The Guardian.
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Durante uma visita a Paris para as comemorações dos 100 anos do fim da I Guerra Mundial, em 2018, Donald Trump fez uma afirmação que chocou o antigo general dos marines John Kelly, na altura chefe de gabinete da Casa Branca. “Adolf Hitler fez muitas coisas boas”, disse o ex-Presidente dos EUA, enquanto ouvia da boca de Kelly “uma lição improvisada sobre História”, avança o jornal britânico The Guardian.
O episódio é revelado num livro escrito pelo correspondente do Wall Street Journal na Casa Branca, Michael Bender, que vai ser posto à venda na próxima terça-feira. No livro, o jornalista diz também que o ex-Presidente dos EUA nega ter feito aquela afirmação sobre Hitler.
A visita a Paris, em Novembro de 2018, ficou marcada pela ausência de Trump numa cerimónia no cemitério de Aisne-Marne, nos arredores da capital francesa, onde o ex-Presidente dos EUA deveria ter prestado homenagem aos soldados norte-americanos mortos na Batalha do Bosque de Belleau, na I Guerra Mundial.
Na altura, o cancelamento da presença de Trump foi justificado pela Casa Branca com o mau tempo que se fazia sentir na região de Paris, que terá impossibilitado a viagem de helicóptero; e com a decisão de Trump de querer “evitar uma perturbação inesperada para a cidade e para o seu povo” se optasse por uma viagem de automóvel, segundo a porta-voz da Casa Branca na época, Sarah Huckabee Sanders.
Kelly corrigiu Trump
Agora, o jornalista do Wall Street Journal diz que o ex-Presidente dos EUA elogiou parte do legado de Adolf Hitler durante uma conversa com John Kelly, na mesma viagem.
De acordo com Michael Bender, o então chefe de gabinete da Casa Branca “lembrou ao Presidente dos EUA que países estiveram nos dois lados do conflito” e “ligou os pontos entre a I Guerra e a II Guerra, referindo todas as atrocidades cometidas por Hitler”.
No livro, o jornalista conta que o general John Kelly “disse ao Presidente que ele estava errado”, mas “Trump não se deixou convencer”.
Em particular, o ex-Presidente dos EUA terá elogiado a recuperação da economia na Alemanha nazi durante a década de 1930.
“Kelly contrariou-o, e disse que o povo alemão teria ficado melhor na pobreza do que submetido ao genocídio nazi”, escreve Michael Bender. Segundo o jornalista, o general disse também ao então Presidente dos EUA que “nunca se deve dizer nada que possa ser entendido como um apoio a Adolf Hitler”.
"Indiferença"
Com o título original Frankly, We Did Win This Election (“Sinceramente, nós ganhámos esta eleição”, numa tradução livre), o livro de Michael Bender relata os acontecimentos que levaram à derrota de Trump na eleição presidencial de Novembro de 2020, e a campanha para a subversão dos resultados através de queixas infundadas de fraude eleitoral — uma época que culminou com a invasão do Capitólio pelos seus apoiantes, a 6 de Janeiro.
No livro — que o jornalista diz ter escrito com base em testemunhos directos de responsáveis da Casa Branca e militares —, o ex-Presidente dos EUA é descrito como “possuidor de um conhecimento vago ou inexistente sobre a escravatura, as leis Jim Crow [de segregação racial] ou a vida da comunidade negra após a Guerra Civil”.
“A indiferença de Trump em relação à história da comunidade negra é semelhante à sua indiferença em relação à história de qualquer raça, religião ou credo”, diz o correspondente do Wall Street Journal.
Desrespeito pelos militares
O respeito de Donald Trump pelos veteranos de guerra dos EUA e pelos soldados que morreram em combate começou a ser posto em causa ainda durante a campanha eleitoral de 2016, quando o então candidato do Partido Republicano disse que não considerava John McCain um herói porque o ex-senador foi capturado na guerra do Vietname.
E, em 2020, o director da revista norte-americana The Atlantic, Jeffrey Goldberg, escreveu um artigo onde revelou que o ex-Presidente dos EUA questionou as motivações dos norte-americanos para combaterem em guerras.
“Não percebo. O que é que eles ganham com isso?”, perguntou o então Presidente dos EUA, em Maio de 2020, durante uma visita ao cemitério de Arlington, no estado norte-americana da Virginia.
Segundo Goldberg — um jornalista distinguido com o equivalente do prémio Pulitzer para revistas, o National Magazine Award —, a pergunta de Trump sobre as motivações dos soldados foi feita a John Kelly, ao lado da campa onde está sepultado o filho do general. Robert Michael Kelly, um primeiro-tenente dos marines, morreu ao pisar uma mina no Afeganistão, em 2010.