Quando o coração precisa de ser reparado

O coração é como um motor de automóvel, tem um componente elétrico e um mecânico. Precisa por vezes de ser reparado e grande parte das doenças associadas têm hoje tratamento. Cerca de um terço dos doentes operados têm mais de 80 anos, mas não se esqueça: a saúde não tem idade.

Foto
Adriano Miranda

O coração funciona como um motor que mantém o sangue a circular de modo a alimentar os vários órgãos do corpo humano e a eliminar os detritos que se formam continuamente. Tal como o motor de um automóvel, o seu funcionamento depende de um componente eléctrico e de um componente mecânico.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O coração funciona como um motor que mantém o sangue a circular de modo a alimentar os vários órgãos do corpo humano e a eliminar os detritos que se formam continuamente. Tal como o motor de um automóvel, o seu funcionamento depende de um componente eléctrico e de um componente mecânico.

O componente eléctrico garante a estimulação do músculo cardíaco, que, por sua vez, é responsável pela actividade mecânica do coração. Esta consiste na contracção do músculo cardíaco, para esvaziar o coração e ejectar sangue através da artéria aorta para os vários órgãos, alternando com o relaxamento do mesmo, de modo a permitir o enchimento do coração com sangue para a contracção seguinte. Para manter esta actividade mecânica o coração é, ele próprio, alimentado por sangue que lhe chega através de vasos sanguíneos denominados artérias coronárias.

O coração tem quatro cavidades separadas entre si por paredes e por quatro válvulas que são responsáveis por garantir que o sangue circula no sentido correcto. Para uma válvula funcionar correctamente deverá abrir livremente para deixar passar o sangue e fechar adequadamente para evitar que o sangue recue e circule em sentido contrário ao habitual.

Qualquer uma destas estruturas do coração ou dos vasos sanguíneos a ele associados pode ter alterações e provocar doenças. São disso exemplo, as doenças das artérias coronárias, que alimentam o coração, e que podem causar angina de peito (dor em aperto que pode irradiar para o braço esquerdo, pescoço ou estômago), ou enfarte do miocárdio, vulgarmente conhecido por ataque cardíaco.

Outro exemplo são as doenças das válvulas cardíacas, que podem estar alteradas por aperto (estenose) ou encerramento deficiente (insuficiência) das mesmas, sendo a estenose da válvula aórtica, a insuficiência da válvula mitral e a insuficiência da válvula aórtica as mais frequentes. Igualmente importantes e graves, pela ameaça à vida que representam, são a dilatação (aneurisma) e a rotura (dissecção) da artéria aorta.

Refiram-se ainda as doenças do músculo cardíaco que, por variadas causas, podem estar associadas a insuficiência cardíaca, a cardiomiopatia hipertrófica (crescimento e espessamento exagerado das paredes do coração) e a cardiomiopatia dilatada. Mas também as doenças do componente elétrico, que estão habitualmente na base de variadas arritmias cardíacas, como por exemplo a fibrilação auricular, entre outras.

Embora graves, há que lembrar que, felizmente, grande parte destas doenças têm hoje tratamento, que muitas vezes passa por uma intervenção cirúrgica. Apesar das cirurgias cardíacas serem intervenções complexas, são actualmente realizadas com grande segurança e frequentemente com risco reduzido para o doente. São disso exemplo as cirurgias de bypass coronário, a reparação ou a substituição de válvulas cardíacas, a correcção de aneurismas da aorta, o tratamento da fibrilação auricular, a remoção de tumores cardíacos, entre outros.

De facto, a evolução tecnológica e o aperfeiçoamento das técnicas cirúrgicas permitiram, para benefício do doente, uma evolução muito significativa na cirurgia cardíaca, com redução dos riscos e recuperação mais rápida do doente, permitindo muitas vezes o retorno a um estilo e qualidade vida totalmente normal e uma restituição de longevidade também normal, mesmo em doentes com 80 a 90 anos.

A questão da idade é muito relevante, uma vez que é fundamental desmistificar e dizer que, em si mesma, não é uma contra-indicação para a cirurgia. De facto, a idade constitui muitas vezes um importante factor de dúvida e ansiedade por parte dos doentes mais idosos e dos seus familiares, que, infelizmente e apenas porque têm mais de 80 anos, os leva por vezes a recusar uma cirurgia que lhe poderia restituir a sua qualidade de vida, autonomia e longevidade. Cerca de um terço dos doentes actualmente operados têm mais de 80 anos. É por isso importante que, caso tenha indicação para cirurgia cardíaca, procure uma equipa da sua confiança para discutir e decidir a melhor intervenção. A saúde não deve nem pode ter idade.