Um lugar teimosamente só

A estranheza tratada na poesia como tentativa de conhecer.

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Uma poesia de costas voltadas à vulgaridade DR

Em O Vale da Estranheza importará menos a fidelidade ao facto do que tudo o que resta após o factual, elo perdido — como o lastro sobre a água, quando nela caiu uma pedra. Nunca se chega sequer a fazer um esboço de narração. De uma forma que não deixa de ser surpreendente, já no livro de estreia de Catarina Costa podíamos ler: “não há modo de narrar esta vida” (Marcas de Urze, Cosmorama, 2008). Como se tal fosse um impossível. Nem as acções, nem os que as praticam, são fulcro destas palavras — mas toda a sua potência. A possibilidade de se cumprirem. Por esse motivo, em vez de serem dotadas de particularidades romanescas, ou de uma apreciação objectiva da realidade, as presenças que surgem nestes poemas constituem doações de uma certa ideia de verdade. A verdade da escrita. Nada disto, entretanto, implica laivos de misticismo, ou de apropriação metafísica. Em função do quê, eis o que as composições de O Vale da Estranheza não deixam confortavelmente claro. Talvez seja pelo melhor. O que os poemas fazem, contudo, parece tornar fútil qualquer decisão demasiado final. Porque eles colhem a sua força nessa mesma zona de fronteira que não pretende ser uma afirmação fundadora que diga: isto é poesia. Podemos, eventualmente, entender que a poesia seja, para estes poemas, um despojo que sobrevive. Um dos aspectos que mais causam perplexidade em O Vale da Estranheza é, precisamente, a sua permanência em terreno incerto, terra de ninguém, como entre trincheiras opostas.

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Em O Vale da Estranheza importará menos a fidelidade ao facto do que tudo o que resta após o factual, elo perdido — como o lastro sobre a água, quando nela caiu uma pedra. Nunca se chega sequer a fazer um esboço de narração. De uma forma que não deixa de ser surpreendente, já no livro de estreia de Catarina Costa podíamos ler: “não há modo de narrar esta vida” (Marcas de Urze, Cosmorama, 2008). Como se tal fosse um impossível. Nem as acções, nem os que as praticam, são fulcro destas palavras — mas toda a sua potência. A possibilidade de se cumprirem. Por esse motivo, em vez de serem dotadas de particularidades romanescas, ou de uma apreciação objectiva da realidade, as presenças que surgem nestes poemas constituem doações de uma certa ideia de verdade. A verdade da escrita. Nada disto, entretanto, implica laivos de misticismo, ou de apropriação metafísica. Em função do quê, eis o que as composições de O Vale da Estranheza não deixam confortavelmente claro. Talvez seja pelo melhor. O que os poemas fazem, contudo, parece tornar fútil qualquer decisão demasiado final. Porque eles colhem a sua força nessa mesma zona de fronteira que não pretende ser uma afirmação fundadora que diga: isto é poesia. Podemos, eventualmente, entender que a poesia seja, para estes poemas, um despojo que sobrevive. Um dos aspectos que mais causam perplexidade em O Vale da Estranheza é, precisamente, a sua permanência em terreno incerto, terra de ninguém, como entre trincheiras opostas.