“Mamas são mamas”, mas também são vasos

Os vasos Boobes, criados por Natália Laureano e João Azevedo, querem ajudar as mulheres a melhorar a forma como se sentem em relação às suas mamas e dar cor e vida à decoração lá de casa.

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As Boobes foram criadas há um ano, em tempo de pandemia DR

Natália Laureano precisava de um passatempo: o teletrabalho estava a consumir-lhe a imaginação que uma designer necessita. Como percebeu que a cozinha não era o seu forte, decidiu voltar-se para o barro e para a escultura. “Precisava de um hobbie que não envolvesse o computador”, conta a jovem de 27 anos. E desta vontade de ser mais criativa e mais produtiva surgiram as Boobes, há um ano, durante o primeiro confinamento.

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Natália Laureano precisava de um passatempo: o teletrabalho estava a consumir-lhe a imaginação que uma designer necessita. Como percebeu que a cozinha não era o seu forte, decidiu voltar-se para o barro e para a escultura. “Precisava de um hobbie que não envolvesse o computador”, conta a jovem de 27 anos. E desta vontade de ser mais criativa e mais produtiva surgiram as Boobes, há um ano, durante o primeiro confinamento.

“Na altura estava a ficar muito stressada porque trabalhar em casa não era bom para mim”, conta Natália, nascida no Brasil e escalabitana de coração, licenciada em Design Gráfico. O objectivo de fazer vasos com mamas resultou dos ideais feministas da jovem, da necessidade de ter onde colocar as plantas lá de casa e de descomprimir.

“Quando fiz os vasos com as mamas queria que fossem o mais reais possível”, explica a designer. Numa fase inicial, antes de este passatempo se tornar numa marca, Natália experimentava as tintas na própria pele e na das colegas de casa, para conseguir ter um resultado mais próximo da realidade. “Isto porque eu, enquanto mulher negra, nunca me senti muito bem representada. Existem algumas obras onde os mamilos das mulheres negras, como eu, são pintados de cor-de-rosa e isso não nos representa. Eu tenho os mamilos negros e foi por questões como esta que as Boobes começaram a fazer ainda mais sentido.”

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João e Natália, os criadores das Boobes DR

João Azevedo, designer nascido e criado em Lisboa, e namorado da Natália, esteve presente na produção de algumas das primeiras Boobes e achou a ideia “incrível”. A experiência foi tão satisfatória para o casal que decidiram partilhar nas redes sociais privadas o processo de criação. Foi neste momento que começaram a receber os primeiros pedidos de encomendas. E estas começaram a surgir na altura certa, garantem. “Por causa da pandemia, ficámos os dois sem emprego e as Boobes começaram a ser o nosso trabalho a tempo inteiro”, conta João.

A adesão das pessoas foi tanta que Natália e João tiveram de arranjar um espaço de trabalho maior, com mais materiais e mais ferramentas para poderem responder a todos os pedidos que tinham pendentes. “Todo o processo demora tempo. A ideia inicial era fazer estes vasos só por prazer, para nos distrairmos, e não fazer disto um negócio. Mas hoje, enquanto negócio, o prazer é o mesmo, e cada pormenor é único”, explica Natália. “Chegar à cor certa, ao resultado final, é um processo que demora e foi evoluindo”, diz. “A arte é assim, há sempre algo a melhorar”, acrescenta João.

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Estes vasos, segundo João e Natália, representam, “de forma fidedigna, mamas como símbolo indelével da feminilidade”. “Representá-las em vários tons de pele” é também uma “intervenção cívica, de modo a contrariar o ideal de beleza, inalcançável, criado, reforçado e imposto pelos média”. Para o casal, “as mamas não são algo sexual”. João destaca que, principalmente nas redes sociais, não deveria haver tantas censuras com a representação das mamas. “Não estou a dizer que nas redes sociais devíamos andar sempre todos nus, mas deveria haver uma avaliação sobre o que é arte e o que não é.”

Em Outubro de 2020, o mês de consciencialização do cancro da mama, e depois de conversarem como algumas mulheres que foram obrigadas a fazer uma mastectomia [cirurgia de remoção completa da mama e um dos tratamentos cirúrgicos para o cancro da mama], os criadores começaram a produzir novos vasos. “Nessa altura falámos com essas mulheres e a partir dessas histórias, das conversas que tínhamos com elas, construímos vários vasos que só tinham uma mama e decidimos oferecê-los. Elas foram a nossa inspiração e modelos”.

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Para João e Natália, este projecto veio ajudar a melhorar a forma como as mulheres se sentem em relação às suas mamas. “Mamas são mamas e, independentemente do formato, cor ou tamanho, são sempre bonitas.” Através de fotografias, para que se possa reproduzir o tom de pele, sinais, sardas, cicatrizes ou tatuagens, qualquer pessoa pode encomendar umas Boobes como as suas.