A pandemia deitou por terra o sonho olímpico desta enfermeira e pugilista japonesa

Arisa Tsubata, de 27 anos, despediu-se do antigo trabalho como enfermeira para se dedicar ao boxe. Esperava, agora, ser apurada, pela primeira vez, para os Jogos Olímpicos, no Verão de 2021. Mas as alterações originadas pela pandemia trocaram-lhe os planos.

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Durante mais de um ano, a enfermeira japonesa Arisa Tsubata treinou entre turnos de trabalho para se preparar para a última fase de qualificação na modalidade de boxe, na esperança de chegar aos Jogos Olímpicos de Tóquio, no Verão de 2021.

Esse sonho foi destruído após o Comité Olímpico Internacional (COI) ter cancelado as qualificações de boxe que deveriam ocorrer em Junho e ter dito que atribuiria vagas aos atletas com base nos seus rankings mundiais dos últimos anos.

A alteração dos critérios fechou, de facto, a porta a muitos esperançosos atletas olímpicos, como Tsubata, cujas posições no ranking não são suficientemente altas para lhes garantir uma qualificação automática para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Outras competições de qualificação para os Jogos Olímpicos foram também canceladas.

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REUTERS/Kim Kyung-Hoon

A fim de se concentrar no boxe, a jovem de 27 anos deixou o emprego num grande hospital em Janeiro para assumir uma posição menos exigente e com um salário mais baixo numa clínica psiquiátrica de menor dimensão. Desde então, treinou mais de três horas por dia durante a semana e ainda mais horas aos sábados, tirando apenas os domingos para descansar ou receber uma massagem.

“É muito desapontante”, disse Tsubata, que trabalha agora na Clínica de Apoio à Vida, em Tóquio. “Eu tinha trabalhado tanto durante um ano após o adiamento dos Jogos Olímpicos, e é tão frustrante nem sequer ter o direito de competir.”

O Japão disse que os Jogos Olímpicos, adiados em 2020 devido à covid-19, irão avançar, mas persistem dúvidas sobre a forma como se irá realizar o enorme evento desportivo a meio de uma pandemia. O país está actualmente a combater uma quarta vaga de infecções.

“'Porque é que apontei para as Olimpíadas quando a pandemia aconteceu?’, perguntei-me”, disse ela, interrogando-se também “quem imaginaria que a pandemia chegaria neste momento?”. O sentimento de frustração e aincerteza são partilhados por muitos atletas a nível mundial, cujas carreiras foram atiradas para o limbo, após a pandemia ter destruído alguns sonhos de uma vida de participar neste evento desportivo global.

O COI tem até 29 de Junho para encerrar as qualificações para os Jogos Olímpicos deste ano e, com as eliminatórias canceladas, tem agora de atribuir cerca de 53 vagas na modalidade de boxe em várias regiões, com base nos pontos do ranking desde 2017.

Na Índia, devastada pela covid-19, o treinador da selecção nacional de boxe, Santiago Nieva, lembra-se também do “momento desolador” em que deu a notícia a quatro pugilistas. “Senti-me como se lhes estivesse a roubar os sonhos”, disse Santiago Nieva. “Ficaram deprimidos... Estavam vazios, sentiam-se vazios na mente e no corpo.”

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REUTERS/Kim Kyung-Hoon

Tsubata começou a praticar boxe há cerca de três anos para perder peso, mas os seus treinadores rapidamente a encorajaram a competir no desporto, e ela ganhou o campeonato nacional de boxe do Japão, na categoria de pesos médios, em 2019.

Como enfermeira e pugilista, tem sentimentos contraditórios sobre se as Olimpíadas, a começar em Julho, deverão avançar, à medida que os casos de infecção por covid-19 aumentam.

“Como atleta, pensando nos colegas que esperam por este momento, e especialmente ao ver a minha oportunidade ser-me retirada, penso que as Olimpíadas deveriam acontecer”, disse ela. Mas, como enfermeira, “pode ser difícil” para o Japão realizar os Jogos Olímpicos se a propagação do vírus não for controlada.

Por enquanto, Tsubata tenta manter-se positiva e prepara-se para a estreia internacional num torneio na Rússia, ainda em Maio. A enfermeira afirma ser demasiado cedo para pensar nos Jogos Olímpicos de Paris em 2024, e receia que nessa altura já seja demasiado velha para manter a força física necessária para competir.

“Não posso dizer que tenho como meta os próximos Jogos Olímpicos em Paris, mas o que posso fazer é tentar continuar a trabalhar arduamente, passo a passo, em qualquer competição que se avizinha, seja maior ou menor”, disse Tsubata.