A Bedeteca foi uma bela história que se apagou

Um oásis, uma movida e um projecto animado por uma ambição gigantesca: dar à banda desenhada, à ilustração e ao desenho humorístico uma visibilidade e um significado cultural e estético inéditos. Vinte e cinco anos depois do nascimento da Bedeteca, o PÚBLICO foi medir o pulso, cada vez mais frágil, de uma instituição cujo legado ainda está por descobrir e cujo futuro ainda está por salvar.

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A Bedeteca desapareceu, pelo menos aquela que muita gente visitou entre 1996 e 2006. Foram dez anos de exposições, edições, conferências, feiras, um festival. Com projectos, parcerias e autores convidados. Durante dez anos, a Bedeteca foi um nome dito, usado, lembrado, comentado. Já não é. O que aconteceu a este espaço outrora tão vibrante, tão cheio de promessas? Quem hoje o visitar no antigo Palácio do Contador-Mor, em Lisboa, e tiver memória, não escapará ao sentimento de desilusão e tristeza. Do espaço onde realizavam exposições — agora ocupado com cadeiras e outro material — sobra no tecto um desenho de Lucas Almeida. As salas de leitura parecem escurecidas pelo abandono e da equipa original resta, resistente e solitário, o editor, há anos feito bibliotecário, Marcos Farrajota. No átrio, na recepção, nas paredes nada de novo se anuncia. Um ano de pandemia não ajudou a Bedeteca, mas os primeiros sinais do desfalecimento começaram há 15 anos. Ao sabor das mudanças no poder autárquico e na ausência de uma estratégia sensível à relevância do projecto.