Carraças e malmequeres

Aqui no Alentejo nunca conheci a tradição do Compasso Pascal nem nunca vi ninguém a beijar a cruz, mas os nossos almoços duravam um dia inteiro.

Foto
Martin Zwick/Getty Images

Quando eu era só uma menina, a Páscoa era uma época especial. A minha avó, ainda viva, voltava a tirar do armário os alguidares de barro onde a massa das filhós tinha descansado no Carnaval e as casas da minha família voltavam a ter o cheiro feliz a bolos acabados de sair do forno. No sábado do fim-de-semana anterior à Páscoa, eu e a minha mãe dávamos um passeio no campo perto de casa e apanhávamos raminhos de oliveira e malmequeres que prendíamos num pequeno arranjo que nos havia de acompanhar à missa de domingo. Finda a missa, o ramo benzido era colocado atrás da porta da despensa, preso com um cordel, substituindo o ramo do ano anterior. E com uma coisa tão simples como folhas de oliveira salpicadas com água benta, eu sentia que a nossa casa ficava protegida com uma espécie de magia divina, e nem os resmungos do meu pai me faziam temer que essa protecção não fosse absolutamente eficaz.

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Quando eu era só uma menina, a Páscoa era uma época especial. A minha avó, ainda viva, voltava a tirar do armário os alguidares de barro onde a massa das filhós tinha descansado no Carnaval e as casas da minha família voltavam a ter o cheiro feliz a bolos acabados de sair do forno. No sábado do fim-de-semana anterior à Páscoa, eu e a minha mãe dávamos um passeio no campo perto de casa e apanhávamos raminhos de oliveira e malmequeres que prendíamos num pequeno arranjo que nos havia de acompanhar à missa de domingo. Finda a missa, o ramo benzido era colocado atrás da porta da despensa, preso com um cordel, substituindo o ramo do ano anterior. E com uma coisa tão simples como folhas de oliveira salpicadas com água benta, eu sentia que a nossa casa ficava protegida com uma espécie de magia divina, e nem os resmungos do meu pai me faziam temer que essa protecção não fosse absolutamente eficaz.