Rebel girls

Moxie é um filme esperto, sensível, subtilmente insidioso, em pleno domínio da sua ferocidade — quer dizer, sempre em compromisso humanista.

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A certa altura de Moxie (Netflix), um breve plano de uma página do zine (Moxie, como o título do filme) com que a protagonista (Hadley Robinson) agita as hostes do seu liceu deixa ver a inscrição “rebel with a cause” (“rebelde com uma causa”). Não é citação cinéfila nem deixa, ao mesmo tempo, de o ser, mas essa fugaz tangente ao célebre filme de Nicholas Ray (o momento cinematograficamente fundador da adolescência revoltada e, mais do que isso, da própria figuração da adolescência enquanto etapa etária específica) lembra que, no fundo, há sempre uma causa para a rebeldia adolescente, e se essa causa até pode variar consoante as épocas mais variável ainda é a forma como a época pode (ou permite) nomeá-la. Nesse sentido, os adolescentes (ou melhor, e sobretudo, as adolescentes) de Moxie estão numa posição privilegiada face aos seus congéneres da Fúria de Viver, porque sabem exactamente qual é a sua causa e dispõem até de vários nomes para ela: o “sexismo sistémico”, o “privilégio masculino”, entre outras possibilidades. Essa exactidão faz o coração de Moxie, que tem o mérito e a sagacidade de injectar uma dimensão política explícita num filme que funciona numa lógica de “género” cinematográfico (o “filme de liceu”) sem a subverter — começando aliás, na cena de abertura (um pesadelo da protagonista), por glosar outro género contemporâneo que faz dos adolescentes a sua matéria-prima (o filme de terror tendência teen).

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A certa altura de Moxie (Netflix), um breve plano de uma página do zine (Moxie, como o título do filme) com que a protagonista (Hadley Robinson) agita as hostes do seu liceu deixa ver a inscrição “rebel with a cause” (“rebelde com uma causa”). Não é citação cinéfila nem deixa, ao mesmo tempo, de o ser, mas essa fugaz tangente ao célebre filme de Nicholas Ray (o momento cinematograficamente fundador da adolescência revoltada e, mais do que isso, da própria figuração da adolescência enquanto etapa etária específica) lembra que, no fundo, há sempre uma causa para a rebeldia adolescente, e se essa causa até pode variar consoante as épocas mais variável ainda é a forma como a época pode (ou permite) nomeá-la. Nesse sentido, os adolescentes (ou melhor, e sobretudo, as adolescentes) de Moxie estão numa posição privilegiada face aos seus congéneres da Fúria de Viver, porque sabem exactamente qual é a sua causa e dispõem até de vários nomes para ela: o “sexismo sistémico”, o “privilégio masculino”, entre outras possibilidades. Essa exactidão faz o coração de Moxie, que tem o mérito e a sagacidade de injectar uma dimensão política explícita num filme que funciona numa lógica de “género” cinematográfico (o “filme de liceu”) sem a subverter — começando aliás, na cena de abertura (um pesadelo da protagonista), por glosar outro género contemporâneo que faz dos adolescentes a sua matéria-prima (o filme de terror tendência teen).