Aumento da capital na Groundforce ganha novo rumo com resposta de Alfredo Casimiro

TAP propunha um aumento de capital de 6,97 milhões que seria subscrito só por si, estratégia recusada pelo accionista maioritário. Governo pede “rapidamente” uma declaração oficial do empresário, e trabalhadores preparam “a maior manifestação de sempre”.

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Manifestação mais recente dos trabalhadores foi esta segunda-feira, em Belém Adriano Miranda

Depois de a TAP ter proposto este domingo uma solução para a situação financeira da Groundforce, que passa por um aumento de capital de 6,97 milhões de euros feito exclusivamente pela transportadora aérea, o actual principal accionista da empresa de assistência em terra, Alfredo Casimiro, já veio clarificar que aceita a estratégia, mas não nos moldes em que foi apresentada.

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Depois de a TAP ter proposto este domingo uma solução para a situação financeira da Groundforce, que passa por um aumento de capital de 6,97 milhões de euros feito exclusivamente pela transportadora aérea, o actual principal accionista da empresa de assistência em terra, Alfredo Casimiro, já veio clarificar que aceita a estratégia, mas não nos moldes em que foi apresentada.

“Dentro dos termos da lei, estou disponível para convocar uma assembleia geral para deliberar um aumento de capital necessário para a empresa, no qual estou disponível a acompanhar e até a comprar algumas acções da TAP”, afirmou o empresário ao site de economia Eco.

Através da Pasogal, Alfredo Casimiro detém 50,1% da Groundforce, cabendo os outros 49,9% ao grupo TAP (onde o Estado detém 72,5%). Com o aumento de capital proposto pela TAP, o capital da Groundforce (nome comercial da SPdH) subiria dos actuais 500 mil euros (50 mil acções, a dez euros), para 7,47 milhões de euros, diluindo a posição de Alfredo Casimiro.

Esta terça-feira, após ter sido conhecida a posição do empresário, fonte oficial do Ministério das Infra-estruturas afirmou aguardar que Alfredo Casimiro formalize “rapidamente” a sua disponibilidade. “É importante que o sócio maioritário da Groundforce responda oficialmente à proposta do Grupo TAP com aquelas que são as suas intenções neste processo, para que se possa o quanto antes resolver a situação dramática que se vive na empresa”, afirmou a mesma fonte.

Já esta tarde, Alfredo Casimiro, por via da Pasogal, enviou uma carta à TAP na qual concretiza a sua disponibilidade para “considerar a realização de um aumento do capital social da SPdH [Groundforce], reservado a accionistas, na modalidade de aumento de capital por novas entradas em dinheiro, com emissão de novas acções”. O valar por título, refere-se, teria por base uma avaliação da Groundforce feita em 2018 por uma empresa, a Sycomore Corporate Finance - sugerida então pelo grupo TAP -, “a adaptar em função dos impactos da covid-19”. Por parte da TAP, a proposta foi a de 967 mil novas acções com um valor nominal de dez euros.

Afirmando que dispensa os “prazos e formalidades prévias” para a realização de uma assembleia geral, o empresário diz que esse aumento de capital terá “como pressuposto a reunião das condições necessárias à preservação e continuidade da empresa”, defendendo que “só dessa forma” se poderá garantir a manutenção dos postos de trabalho.

Falta ainda perceber se a TAP aceita alterar a sua proposta inicial. Para já, há cerca de 2400 trabalhadores que têm grande parte do salário de Fevereiro por receber, e que temem pelo futuro da empresa.

Os 6,97 milhões de euros em causa correspondem ao valor que já foi pedido pela Groundforce em adiantamentos à TAP, mas pelos quais a transportadora aérea pedia as acções da Pasogal como garantia, depois de já ter feito outros adiantamentos.

Pelo meio, soube-se que as acções estavam já comprometidas com outro credor, o que inviabilizou esta solução, deixando os trabalhadores e a empresa em maiores dificuldades. Na carta enviada ao empresário este domingo, a administração da TAP diz que a solução apresentada pode evitar o “cenário de ruptura iminente”, e, com a entrada de fundos, permitir “o pagamento de salários, contribuições e impostos”. Assim, seria evitada a “ruptura operacional” da Groundforce, o que, a acontecer, “seria inevitavelmente prejudicial para a actividade da TAP, atendendo à dificuldade de encontrar, em prazo útil, outro prestador dos mesmos serviços” nos aeroportos onde a empresa opera.

Está ainda a decorrer um pedido de empréstimo de 30 milhões de euros por parte da Groundforce, que envolve a Caixa Geral de Depósitos e o Banco de Fomento. Na carta, a TAP destaca que a proposta que apresentou “tem como pressuposto” a informação de que a Groundforce “deverá a breve prazo vir a obter o financiamento” em causa, e que a solução do aumento de capital “poderá também contribuir para que esse financiamento garantido seja concedido”.

“A maior manifestação de sempre"

Para a próxima quinta-feira, horas antes do tema da Groundforce ser abordado no Parlamento, a Comissão de Trabalhadores juntamente com os sindicatos que têm representatividade na empresa organizaram uma nova concentração. O objectivo, de acordo com um comunicado conjunto divulgado esta terça-feira, é o de realizar “a maior manifestação de sempre de trabalhadores da SPdH/Groundforce”, com início às 11h30 na zona das chegadas ao aeroporto de Lisboa.

Às 14h30, os deputados da Comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação vão ouvir e fazer questões aos representantes dos trabalhadores, ao presidente do conselho de administração da TAP, Miguel Frasquilho, bem como ao presidente do conselho de administração da Groundforce, Alfredo Casimiro. No dia 24 será a vez do ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos.