Tribunal alemão suspende vigilância ao partido Alternativa para a Alemanha

Decisão vai vigorar até os juízes do Tribunal de Colónia chegarem a um veredicto preliminar sobre o caso.

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Tino Chrupalla e Alexander Gauland assumiram a defesa da AfD perante a notícia da vigilância CLEMENS BILAN/EPA

Um tribunal de Colónia, onde está a sede dos serviços de informação interna da Alemanha, ordenou esta sexta-feira a suspensão da vigilância ao partido nacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD) por suspeitas de que este vai contra a ordem constitucional do país.

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Um tribunal de Colónia, onde está a sede dos serviços de informação interna da Alemanha, ordenou esta sexta-feira a suspensão da vigilância ao partido nacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD) por suspeitas de que este vai contra a ordem constitucional do país.

A vigilância sobre todo o partido, o terceiro maior no parlamento e o principal da oposição, começou a 25 de Fevereiro, segundo vários meios de comunicação social – antes eram vigiadas sub-organizações dentro do partido, como a juventude, por exemplo.

O tribunal ordenou agora que seja suspensa a vigilância ao partido até que seja tomada uma decisão, ainda que apenas preliminar, sobre um processo interposto pela AfD quando se começaram a somar rumores de que a agência estava prestes a decidir pela vigilância.

A Alternativa para a Alemanha argumenta que se for sujeita a vigilância ficará em desvantagem nas eleições de Setembro. Para evitar esta questão, o Gabinete para a Protecção da Constituição, responsável pela espionagem interna, teria decretado que a vigilância não incidiria sobre candidatos a eleição, segundo a revista Der Spiegel. A vigilância implica a possibilidade não só de uso de escutas, mas de agentes infiltrados.

Apesar de a agência já ter vigiado o partido de extrema-direita NPD, este nunca teve representação no Parlamento nacional, e o grau de observação ao partido de esquerda radical Die Linke (A Esquerda) terá sido menor – daí considerar-se que a acção de vigiar um partido inteiro esta dimensão foi a primeira desde o final da II Guerra.

O especialista em extrema-direita Kai Arzheimer, professor na Universidade de Mainz, comentou no seu blogue a enorme importância da decisão da vigilância – em sua opinião, justificada, apesar do momento ser sensível politicamente (a decisão também demorou mais por ter sido necessário assegurar que o caso era suficientemente sólido para resistir ao desafio em tribunal por parte do partido): “jornalistas e especialistas têm descoberto uma série de ligações entre a AfD e actores abertamente extremistas”, nota.

As consequências da vigilância no debate eleitoral são, no entanto, discutíveis, argumenta, já que uma grande maioria dos eleitores está já convencida de que a AfD é um partido extremista (80% já achavam isso em 2019). No entanto, alguma perda eleitoral da AfD pode ser vista como fruto de maior consciência por parte do público da sua radicalização, concluiu Azheimer.