Escritora Dulce Maria Cardoso e várias editoras, entre os convidados do Festival P

A palestra que a autora dos romances O Retorno e Eliete- A Vida Normal está a preparar é de natureza ensaística, abordará a pandemia, naquilo que já sabemos que falhou, mas olhará para a frente. Realiza-se neste sábado, às 19h, online. Mais tarde acontecerá a sessão Os livros para o nosso sossego, com as editoras Bárbara Soares, Carmen Serrano, Clara Capitão, Joana Neves, Lúcia Pinho e Melo, e Maria do Rosário Pedreira.

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Dulce Maria Cardoso evr enric vives-rubio

Será do futuro que a escritora Dulce Maria Cardoso falará na conferência O Mundo de Amanhã — A Pandemia, as palavras e os actos que se realiza online, no dia 6 de Março, às 19h, e faz parte da programação do 31.º aniversário do PÚBLICO.

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Será do futuro que a escritora Dulce Maria Cardoso falará na conferência O Mundo de Amanhã — A Pandemia, as palavras e os actos que se realiza online, no dia 6 de Março, às 19h, e faz parte da programação do 31.º aniversário do PÚBLICO.

A palestra que está a preparar é de natureza ensaística, abordará a pandemia, naquilo que já sabemos que falhou, mas olhará para a frente. A escritora, que nasceu em Trás-os-Montes, em 1964 (na mesma cama onde haviam nascido a sua mãe e a sua avó), foi viver aos seis meses para Luanda e regressou de Angola, com a família, durante a ponte aérea de 1975, consciente da impossibilidade do regresso “à velha normalidade” — o que também não consideraria desejável —, equacionará nesta conferência o que podemos fazer para que tudo se torne “mais justo e melhor”.

Na parte final, Dulce Maria Cardoso que é licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa e durante anos exerceu advocacia antes de se dedicar à escrita a tempo inteiro, irá abordar a situação dos artistas em particular. “A pandemia exibiu despudoradamente as vulnerabilidades que a classe tem na actualidade”, lamenta.

Em Dezembro, a autora cuja obra é editada em Portugal pela Tinta-da-china, publicou nas páginas do PÚBLICO junto a um trabalho fotográfico de Adriano Miranda, um diário intitulado “Porque escolhemos não ver os velhos?” onde revelava a sua experiência como cuidadora informal da mãe. Nele revelava que nesse primeiro ano de pandemia se tinha mudado para casa da mãe, que aos 81 anos começou a não ser capaz de viver sozinha.

Contava também que não tinha ainda conseguido voltar ao romance que estava a escrever há um ano, quando a vida de todos mudou. Trata-se da continuação de Eliete - A Vida Normal, obra que publicou em 2018 e nos fala de uma mulher de meia-idade e em crise no tempo das redes sociais. A autora pensa que este romance ficará completo em três volumes, foi o segundo qualificado no Prémio Oceanos 2019 e esteve também nomeado na categoria de melhor romance estrangeiro para o Prémio Femina 2020.

Máquina literária prodigiosa

Dulce Maria Cardoso, que em pequena não parava de inventar histórias, começou por escrever contos, que ia publicando dispersamente, e passou depois à escrita de guiões cinematográficos. Em 1999 recebeu uma Bolsa de Criação Literária atribuída pelo Ministério da Cultura e daí resultou o seu primeiro livro, Campo de Sangue, que venceu em 2001 por unanimidade o Grande Prémio Acontece de Romance, que tinha sido instituído para assinalar o 50.º aniversário das edições Asa.

O júri era constituído pelos escritores Rosa Lobato de Faria, Francisco José Viegas e Tomás Vasques e ainda por Hugo Santos e Manuel Alberto Valente, naquela época responsável editorial da ASA. Campo de Sangue começa assim: “Estão quatro mulheres na sala. Destas mulheres é preciso saber antes de tudo que estão aqui por causa de um homem que cometeu um crime e que se por acaso se encontrassem na rua não se cumprimentariam.” São elas a mãe, a senhoria, a rapariga bonita e a ex-mulher Eva. Nessa época, a crítica literária Maria da Conceição Caleiro escrevia no PÚBLICO que se tratava de uma “máquina literária prodigiosa, alucinada e segura”.

Seguiu-se, em 2005, o romance Os Meus Sentimentos que recebeu o Prémio da União Europeia para a Literatura. Foi nessa altura, depois de ter perdido o ficheiro com o “manuscrito”, que se viu obrigada a reescrever o que tinha perdido de memória. Método que a partir daí nunca mais largou. Este é um romance sobre a morte, que tem como personagem Violeta, uma mulher “física e comportamentalmente excluída”, que se “debate com o amor que não teve e o amor que não pode dar à filha, Dora”, como escreveu o crítico literário Pedro Sena-Lino no Mil Folhas. 

Mais tarde, em 2009, publicou O Chão dos Pardais, um romance sobre uma mãe que perde o filho e lhe valeu o Prémio PEN Clube Português e o Prémio Ciranda.

Mas o seu grande sucesso editorial foi o romance O Retorno, de 2011, sobre a época da descolonização e uma reflexão literária sobre os 500 mil retornados que aterraram em Portugal em 1975, que recebeu o Prémio Especial da Crítica e foi considerado o Livro do Ano nos jornais PÚBLICO e Expresso. A tradução inglesa deste romance recebeu, em 2016, o English PEN Translates Award.

Porventura será o romance que lhe é mais próximo, pois a autora viveu aqueles factos históricos, mas a sua experiência pessoal foi completamente diferente daquela que retrata no livro que tem como personagem principal um rapaz adolescente, Rui, que vive provisoriamente com outros retornados num hotel de cinco estrelas no Estoril, com a mãe e a irmã, esperando o pai que ficou em África.

A sua obra inclui ainda antologias de contos e literatura infantil. Os seus livros estão traduzidos em várias línguas e publicados em mais de duas dezenas de países. Em 2012 recebeu do Estado francês a condecoração de Cavaleira da Ordem das Artes e Letras. Nas crónicas que publica na revista Visão, Dulce Maria Cardoso tem também escrito sobre a pandemia. Actualmente é ainda comentadora no programa Original é a cultura, da SIC.

Toda a programação do Festival P, que é totalmente digital, está disponível para consulta no site do PÚBLICO, nomeadamente a conferência de D. Manuel Clemente ( “O Mundo de Amanhã - A espiritualidade”, esta sexta-feira, às 18h30); a conferência de Grada Kilomba (O Mundo de Amanhã - A Criação, sábado, às 17h30) e a de António Damásio ( O Mundo de Amanhã - Sentir, Saber e Resistir: A Neurobiologia em Tempos de Peste, sábado, às 21h30).

“Que livros vamos poder ler nos próximos meses?” É o que tentaremos saber na sessão Os livros para o nosso sossego, na noite de sábado, dia 6 de Março, às 22h, que tem como convidadas as editoras: Bárbara Soares, da Bertrand; Carmen Serrano, da Asa; Clara Capitão, da Penguin Random House; Joana Neves, da Pergaminho; Lúcia Pinho e Melo, da Quetzal e Maria do Rosário Pedreira, da Leya. Alguns dos eventos do Festival P necessitam de uma inscrição prévia.