EUA pressionados a responsabilizar príncipe herdeiro saudita pelo assassínio de Khashoggi

A relatora da ONU para as execuções extrajudiciais pede sanções para Mohammed bin Salman. Uma congressista dos EUA diz que vai apresentar legislação nesse sentido.

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Agnes Callamard quer o príncipe saudita punido por ter dado a ordem para a operação contra Khashoggi DENIS BALIBOUSE / Reuters

A divulgação do relatório dos serviços secretos dos EUA que aponta o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman (MBS), como tendo aprovado a operação que terminou com o assassínio do jornalista crítico do regime, Jamal Kashoggi, motivou reacções de condenação e pedidos de sanções contra o dirigente saudita.

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A divulgação do relatório dos serviços secretos dos EUA que aponta o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman (MBS), como tendo aprovado a operação que terminou com o assassínio do jornalista crítico do regime, Jamal Kashoggi, motivou reacções de condenação e pedidos de sanções contra o dirigente saudita.

A condenação mais enérgica coube à relatora especial da ONU para as execuções extrajudiciais, Agnes Callamard, que pediu expressamente a responsabilização de MBS. “O Governo dos EUA deve impor sanções contra o príncipe herdeiro, tal como fez com outros culpados, atingindo os seus bens pessoais mas também os seus compromissos internacionais”, afirmou.

Uma exigência semelhante foi feita por alguns congressistas democratas, como Adam Schiff, que presidente à comissão de Serviços Secretos, que acusou MBS de ter “sangue nas mãos”. Também a congressista Ilhan Omar pediu “consequências directas” para as acções do príncipe saudita e revelou que irá introduzir legislação para que sejam aplicadas sanções contra MBS pelo seu papel no assassínio de Khashoggi e “outros abusos de direitos humanos”.

Apesar das conclusões do relatório agora divulgado, a Administração de Joe Biden decidiu deixar MBS de fora do grupo de personalidades atingidas pelo pacote de sanções que serve de punição aos responsáveis pela execução de Khashoggi, um jornalista saudita crítico do regime que vivia nos EUA e escrevia para o Washington Post.

Em Riad, a divulgação do relatório foi acolhida com a rejeição da responsabilização atribuída ao líder de facto do país. O Ministério dos Negócios Estrangeiros disse que há informações falsas no documento e garante que os autores do crime foram “acusados e condenados pelos tribunais” sauditas. O mesmo comunicado termina sublinhando as relações “robustas e duradouras” entre a Arábia Saudita e os EUA.

A viúva de Khashoggi, Hatice Cengiz, publicou apenas uma fotografia do jornalista com a mensagem “Justiça por Jamal”.

Organizações de protecção dos jornalistas, como a Repórteres Sem Fronteiras, também exigiram a responsabilização do príncipe herdeiro saudita por ter dado ordem para a operação de captura de Khashoggi.

Por outro lado, o Governo dos Emirados Árabes Unidos, aliado muito próximo de Riad, disse estar confiante “nas sentenças judiciais sauditas, que afirmam o compromisso do reino em aplicar a lei de uma forma transparente e imparcial, responsabilizando todos aqueles envolvidos neste caso”.