Menos 25 milhões de exames e análises e milhares de rastreios oncológicos por fazer

No ano passado, por comparação com 2019, realizam-se menos 11,4 milhões de contactos presenciais nos centros de saúde e menos 3,4 milhões de contactos hospitalares. Bastonário dos Médicos alerta para situação “crítica”.

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Rui Gaudencio

“A situação é excessivamente grave e vai ter um impacto brutal na saúde das pessoas”, alerta o bastonário da Ordem dos Médicos. No ano passado, por comparação com 2019, realizaram-se menos 11,4 milhões de contactos presenciais nos centros de saúde, menos 3,4 milhões de contactos hospitalares, entre consultas, cirurgias e urgências e menos 25 milhões de exames e análises. Números a que se juntam milhares de pessoas que não fizeram rastreios oncológicas.

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“A situação é excessivamente grave e vai ter um impacto brutal na saúde das pessoas”, alerta o bastonário da Ordem dos Médicos. No ano passado, por comparação com 2019, realizaram-se menos 11,4 milhões de contactos presenciais nos centros de saúde, menos 3,4 milhões de contactos hospitalares, entre consultas, cirurgias e urgências e menos 25 milhões de exames e análises. Números a que se juntam milhares de pessoas que não fizeram rastreios oncológicas.

Os dados do Portal do SNS, analisados pela consultora MOAI, são apresentados esta sexta-feira pelo Movimento Saúde em Dia, uma iniciativa criada pela Ordem dos Médicos e pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, em parceria com a Roche. “Este não é um diagnóstico novo, é mais um grito de alerta para ver se o Ministério da Saúde olha para situação de forma diferente”, diz o bastonário Miguel Guimarães, referindo-se ao acesso dos doentes sem covid aos cuidados de saúde.

Segundo os dados a que o PÚBLICO teve acesso, em Novembro de 2020 tinham-se realizado menos um quarto dos meios complementares de diagnóstico e terapêutica quando comparado com Novembro do ano anterior. “A reabilitação está praticamente parada. São menos 12 milhões de actos. Esta é uma área fundamental para a reabilitação das pessoas que sofreram um AVC ou acidentes para que possam ficar sem ou com menos morbilidade. Os meios complementares são fundamentais para vigilância e diagnóstico. Quando se fazem menos 25% de exames, quando comparado com o ano anterior, é evidente que há doentes que ficaram para trás”, aponta.

Além dos exames e análises, também houve uma redução no número de pessoas que participaram nos rastreios oncológicos. Segundo a análise, em 2020, em comparação com o ano anterior, havia menos 169 mil mulheres com registo de mamografia feita nos últimos dois anos (rastreio ao cancro da mama), menos 140 mil mulheres com citologia actualizada (rastreio ao cancro do colo do útero) e menos 125 mil utentes inscritos com rastreio ao cancro do cólon e recto efectuado.

“Estamos a falar de mais de 400 mil pessoas que deviam ter feito rastreios e não fizeram. São menos diagnósticos em fase precoce, em que o cancro é curável. O que vai acontecer é que vamos ter cancros detectados mais tarde, haverá doentes sem possibilidade de cura porque a janela terapêutica foi ultrapassada. Esta situação vai ter um impacto negativo na vida destes doentes”, refere o bastonário, lembrando ainda o muito que ficou por fazer nos hospitais e nos centros de saúde. No caso das cirurgias oncológicas, o Ministério da Saúde anunciou um plano de recuperação.

Menos 11,4 milhões de contactos presenciais

Entre consultas médicas e actos de enfermagem, de Janeiro a Dezembro de 2020, comparando com o período homólogo, houve menos 11,4 milhões de contactos presenciais, embora no total de consultas as não presenciais tenham permitido compensar estes números e até ultrapassá-los. Nos hospitais, apesar do esforço, a quebra também é visível na comparação com 2019: menos 1,3 milhões de consultas e menos 126 mil cirurgias.

“Esta é uma situação crítica. Quando tivermos a pandemia controlada, uma das grandes crises que vamos enfrentar é na saúde em geral e na saúde mental. O Estado tem de ter um programa para isto, não chega fazer produção adicional. Para estes doentes, os tempos máximos de resposta não existem. Muitos destes doentes não têm rosto nem nome [para o sistema] porque não entraram nas listas de espera”, afirma Miguel Guimarães.

“Não percebo esta inacção do Ministério da Saúde, porque não liberta a principal porta de entrada no SNS, que são os cuidados de saúde primários. Os médicos de família foram destacados para apoiar lares, fazer Trace Covid”, reforça o bastonário, lembrando quebras importantes nos pedidos de primeiras consultas que estes médicos fazem aos hospitais e que permitem desencadear processos de diagnóstico e tratamentos mais complexos.

Há ainda um número que exige atenção. A diminuição de cerca de 1,7 milhões de episódios de urgência que reflectem uma redução dos doentes triados com pulseiras amarelas (menos 31%), laranjas (menos 24%) e verdes (menos 30%). “As prioridades amarela e a laranja nitidamente são situações urgentes. Temos de fazer uma grande campanha para estas pessoas não terem medo de ir à urgência”, defende Miguel Guimarães.