All Treasure Hunt: Percorrer a história de Faro atrás dos pergaminhos digitais de um templário

É uma caça ao tesouro que mistura o misticismo dos templários à história da cidade, levando-nos a percorrer, de pista em pista, pormenores históricos, ruas e monumentos. O primeiro jogo totalmente digital da All Treasure Hunt nasceu em Faro, mas em breve chegará a outras cidades.

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A primeira pista é “a mais difícil”, conta Sónia Fialho Peralta. Não pela pergunta, mas é preciso atenção para descobrir em que fachada procurar pela resposta na praça D. Francisco Gomes, entre a marina e o centro histórico de Faro. Põe logo o jogador “mais atento”, diz, concentrado em seguir os pergaminhos deixados por “um templário” e assistir aos vídeos, que ora contam parte da história da cidade, ora dão pistas e encarnam lendas. Só assim conseguiremos continuar esta “viagem na busca do Santo Graal”.

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A primeira pista é “a mais difícil”, conta Sónia Fialho Peralta. Não pela pergunta, mas é preciso atenção para descobrir em que fachada procurar pela resposta na praça D. Francisco Gomes, entre a marina e o centro histórico de Faro. Põe logo o jogador “mais atento”, diz, concentrado em seguir os pergaminhos deixados por “um templário” e assistir aos vídeos, que ora contam parte da história da cidade, ora dão pistas e encarnam lendas. Só assim conseguiremos continuar esta “viagem na busca do Santo Graal”.

“Meu querido mestre. Aqui me encontro novamente a escrever para si na antiga cidade de Santa Maria de Faaron.” Luana Melo vai lendo as instruções no ecrã do telemóvel em voz alta, para que o grupo possa depois procurar responder acertadamente a cada pergunta e seguir em frente na primeira caça ao tesouro digital, lançada recentemente pela All Treasure Hunt, empresa de animação turística criada por Sónia Fialho Peralta.

Luana, natural do Rio de Janeiro a residir em Lagos há 11 anos, e os colegas, repartidos por equipas, vão seguindo pistas e enigmas até encontrar o tesouro, num passeio que mistura uma vertente de jogo com uma visita guiada à Cidade Velha da capital algarvia. São alunos do curso técnico superior de Gestão de Animação Turística, na Universidade do Algarve, e aproveitam um dos últimos dias antes de novo confinamento para terem uma aula ao ar livre. “Nestes cursos, que têm uma grande componente prática, acaba por ser um bocadinho difícil fazer as saídas e poder experienciar as várias actividades” devido à pandemia, aponta a professora, Ana Mendes.

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De pista em pista, vamos percorrendo o período islâmico e os diferentes nomes da cidade ao longo dos séculos, ficamos a “imaginar as milhares de embarcações que entravam e saíam deste local”, descobrimos histórias de corsários e lendas de mouras encantadas, cruzamos monumentos e a estátua do “primeiro rei de Portugal e dos Algarves”. Desta vez, a caça ao tesouro digital foi também uma aula, mas a actividade pode ser realizada em família ou com um grupo de amigos, em qualquer altura do dia e em total autonomia, sem contacto com outros participantes ou organização (assim os números da pandemia e as medidas impostas pelo estado de emergência o voltem a permitir).

De carro, de noite ou de telemóvel

Natural de Lisboa, Sónia Fialho Peralta veio morar para o Algarve há 18 anos. Em 2015, criou a Algarve Sun Tours, um projecto de rotas turísticas focado na “história, cultura e gastronomia da região”, já muito vocacionado para a componente histórica porque, confessa, é “uma paixão muito antiga”. Entretanto, desafiaram-na a criar uma actividade de team building para empresas e nasciam assim as caças ao tesouro, como forma de “trabalhar as equipas” e “o desenvolvimento pessoal”, integrando ainda “a parte histórica e a vertente do desafio”. “A primeira foi um rally paper, em Loulé, há quase três anos.”

Em 2019, surgiu a ideia de abrir o conceito ao público em geral. Em Outubro daquele ano, arrancaram as caças ao tesouro nocturnas, em Faro, com 35 equipas e 135 participantes na primeira edição. A pandemia foi o empurrão necessário para apressar o passo seguinte: a digitalização.

Nas caças ao tesouro “presenciais”, alguns dos momentos e pistas são encenados por actores, que vão encarnando diferentes personagens históricas e mitológicas (neste caso, são eventos com data marcada, agora em suspenso, como o jogo nocturno em Faro ou o rally paper em Loulé, com as equipas a partirem em intervalos para promover o distanciamento). No caso da caça ao tesouro digital, estes momentos encenados surgem no formato de vídeos, permitindo que esta seja realizada em qualquer altura. Após a inscrição no site, os participantes recebem os dados de acesso à plataforma e, a partir daí, basta colocar o código de acesso para começar o jogo a partir do telemóvel. Nos dois casos, todo o desenvolvimento no terreno, com informações, pistas e perguntas é feito na plataforma digital.

Encontrar o tesouro

Para já, a primeira caça ao tesouro digital, lançada oficialmente em Dezembro, leva-nos a percorrer a Cidade Velha de Faro. Mas, ainda que a pandemia não permita “fazer planos de momento”, há mais localidades na calha. Na região do Algarve, Loulé já está “em fase de preparação”, alicerçada nos testes feitos durante os eventos presenciais. Estão ainda “em mente” cidades como Tavira, Castro Marim, Lagos, Silves e Albufeira. E, quem sabe, a expansão a nível nacional, “se houver interesse de outros municípios” (com Palmela, Évora e Beja no horizonte). A prioridade, contudo, é “testar Faro a 100%”, nomeadamente a componente tecnológica. Depois, “é ir analisando”, diz Sónia. “Temos de ir dando os passos mediante o que a vida agora nos vai proporcionando.”

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Certo é o lançamento da caça ao tesouro de Faro em inglês e em espanhol para breve e, mais tarde, em francês e alemão. A versão em inglês vai começar a ser testada no próximo mês, com algumas pistas ligeiramente diferentes e um mapa incluído para ser mais acessível a quem nunca visitou a cidade. “Vamos ver se podemos lançar logo ou se temos de ir melhorando e reformulando”, aponta Sónia. “Se a estrutura funcionar bem, depois é só replicar a tradução para outras línguas.”

Entretanto, já estamos na recta final da caça ao tesouro, junto a outra porta da cidade. Temos vindo tão entretidos que nem demos pelo tempo passar. Em média, conta Sónia, a actividade dura entre 45 a 60 minutos, dependendo da perspicácia dos participantes. “Gostei muito de conhecer a história e de estar a passear”, comenta Luana. “Achei muito cultural e interessante. Não conhecia esta zona da cidade de Faro.”

Para Sónia, a “missão” do jogo é “divulgar o património histórico e cultural” (“quem vem de fora só o vai valorizar quando nós já o fizermos”), mas também a aventura, o desafio. “Porque a vida é isso: termos a perseverança de ultrapassarmos os desafios.” Por vezes, como nesta caça ao tesouro, é necessário partir à descoberta sem saber bem por onde ir (e encontrar o rei depois de uma viela) ou voltar atrás (para descortinar a resposta certa).

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Depois, quem estiver mais atento, “vai perceber que há ali um certo misticismo” nas “palavras expressas através do templário”, acrescenta Sónia. “Adoro mistérios. Descobrir os mistérios da vida é assim algo que me apaixona. O que está por trás disto? Tem de haver mais qualquer coisa”, ri-se. O Santo Graal que procuramos é, afinal, algo mais profundo. “Era isso que gostava de passar também, que temos um potencial muito maior como seres humanos.” Voltamos à filosofia templária. Qual era mesmo a resposta à última pergunta?