Receios de privacidade levam pessoas a deixar WhatsApp. Mas as “novas regras” não são de agora

Desde 2016 que a política de privacidade do WhatsApp detalha a parceria com o Facebook. A equipa do Facebook diz que a nova mensagem se deve apenas a questões de transmissão de informação.

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A informação tem motivado vários utilizadores a deixar o WhatsApp DIOGO VENTURA

O serviço de mensagens WhatsApp que foi comprado pelo Facebook já em 2014 — está a alertar os utilizadores que os dados recolhidos pela aplicação podem ser partilhados com a família de serviços do Facebook que inclui o Instagram e o Messenger. 

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O serviço de mensagens WhatsApp que foi comprado pelo Facebook já em 2014 — está a alertar os utilizadores que os dados recolhidos pela aplicação podem ser partilhados com a família de serviços do Facebook que inclui o Instagram e o Messenger. 

Numa mensagem sobre “actualizações à política de privacidade”, o Facebook nota que tem o direito de partilhar os dados que recolhe no WhatsApp (por exemplo, a localização dos utilizadores) com os outros serviços que detém. 

As mudanças, porém, não são de agora. Contactada pelo PÚBLICO, a equipa do Facebook nota que a mensagem se deve a questões de transmissão de informaçãoDesde 2016 que a política de privacidade do WhatsApp detalha a parceria com o Facebook. A mensagem enviada agora aos utilizadores serve para relembrar que “o WhatsApp envia e partilha informação com as outras empresas do Facebook”. 

"A actualização mais recente à nossa política de privacidade é para fornecer aos nossos utilizadores informação clara e mais detalhada sobre como e porquê é que usamos dados”, confirmou Niamh Sweeney, directora de política da WhatsApp para a região da Europa, Médio Oriente e África, numa série de mensagens no Twitter. Sweeney sublinha que os dados não são usados para publicidade e que o objectivo é ajudar empresas, organizações e negócios que usam o WhatsApp a comunicar com clientes (por exemplo, através de chatbots) noutras plataformas.

O lembrete do WhatsApp surge depois da Comissão Europeia ter apresentado novas propostas de legislação para os serviços digitais em Dezembro. Um dos objectivos é obrigar as grandes tecnológicas a serem mais transparentes sobre os dados que usam e garantir que não têm demasiado poder sob os cidadãos. Se as tecnológicas desrespeitarem as regras podem ser sujeitas a multas equivalentes a 10% da facturação anual. 

Na União Europeia, os dados partilhados entre as empresas do Facebook também não poderão ser utilizados para fins publicitários devido a acordos com as autoridades de protecção de dados europeias.

WhatsApp não lê mensagens das pessoas

Apesar de não ser novidade, a informação sobre a “actualização à política de privacidade” tem motivado vários utilizadores a deixar o WhatsApp e procurar outros serviços de mensagens encriptados como é o caso do Telegram (de origem russa) ou do Signal — que é recomendado desde 2020 pela Comissão Europeia.

A equipa do WhatsApp nota que o serviço também continua a ter encriptação de “ponta a ponta”. Trata-se de um recurso de segurança que protege os dados dos utilizadores durante uma troca de mensagens – o conteúdo só possa ser lido pelos dois extremos da comunicação: o remetente e o destinatário. Em teoria, o sistema deve impedir intrusos ao tema da conversa (por exemplo, os fornecedores de Internet) de ler as mensagens.

Apesar de vários governos terem pedido acesso às mensagens encriptadas do Facebook nos últimos anos (por exemplo, para investigar casos de pornografia infantil e terrorismo), o presidente executivo, Mark Zuckerberg, continua a defender que os seus utilizadores têm o direito a “ter conversas privadas online”.

Assim, em 2021, o Facebook, o Instagram e o Messenger não têm acesso às mensagens dos utilizadores no WhatsApp. Aquilo que é partilhado são metadados (ou seja, conjuntos de dados que dão informação sobre outros dados) como por exemplo o tempo que as pessoas passam a utilizar o WhatsApp ou a localização. 

Signal não recolhe metadados

Segundo a Comissão Europeia, uma das vantagens do Signal é que o serviço também não recolhe metadados. Em Janeiro, Elon Musk (cofundador  do PayPal e presidente da Tesla) também recomendou a utilização deste serviço. A sugestão surtiu efeito: segundo dados da anlista Sensor Tower, entre os dias 6 e 8 de Janeiro, mais de 100 mil pessoas instalaram o Signal. Já o Telegram acumulou mais 2,2 milhões de downloads. 

Apesar do número de downloads da aplicação do WhatsApp ter caído 11% nos primeiros sete dias de 2021 (face à semana anterior), nesse período a app ainda foi descarregada 10,5 milhões de vezes em todo o mundo.