Ordem dos Médicos responsabiliza Governo por escalada dos contágios

Alívio das restrições no período festivo e campanha em torno da vacinação ajudaram a reduzir “a percepção do risco por parte da população”, considera a Ordem dos Médicos, no mesmo dia em que enviou ao Ministério da Saúde uma lista de quatro mil médicos do sector privado que continuam à espera de ser vacinados.

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Ordem dos Médicos diz-se preocupada com a falta de recursos e a exaustão dos profissionais de saúde Paulo Pimenta (arquivo)

A Ordem dos Médicos (OM) responsabiliza o Governo pela escalada do número de novos casos de infecção pelo novo coronavírus, nomeadamente por causa da decisão de aliviar as medidas de contenção no período festivo, “mesmo perante uma elevada incidência diária e significativa pressão nos serviços de saúde”.

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A Ordem dos Médicos (OM) responsabiliza o Governo pela escalada do número de novos casos de infecção pelo novo coronavírus, nomeadamente por causa da decisão de aliviar as medidas de contenção no período festivo, “mesmo perante uma elevada incidência diária e significativa pressão nos serviços de saúde”.

A estratégia de comunicação montada em torno do arranque da vacinação, no passado dia 27 de Dezembro, terá também “contribuído para a redução da percepção do risco por parte da população”, critica o órgão presidido por Miguel Guimarães.

Num comunicado enviado às redacções, a OM mostra-se apreensiva “pela ruptura evidente do SNS com consequências graves para todos os cidadãos que dele necessitam, independentemente do motivo da doença”. E diz-se preocupada “pela contínua exigência aos médicos e a todos os profissionais de saúde, já exaustos, e a que acresce a deterioração das suas condições de trabalho, a falta de recursos, o burnout e o sofrimento ético”.

Lembrando que o impacto da vacinação na comunidade não será imediato, a OM defende que “o alívio das restantes medidas de saúde pública não poderá avançar enquanto não for atingida a cobertura vacinal adequada”. Por isso, e por considerar que não foram mobilizados em tempo útil “os recursos humanos, técnicos e infra-estruturais que existem no sector da saúde em Portugal”, a OM assume como inevitáveis novos confinamentos como forma de fazer baixar a curva dos novos contágios, reconhecendo embora “as consequências económicas e sociais que daí resultam”.

Quatro mil médicos à espera da vacina

Estas críticas surgem no mesmo dia em que a OM enviou ao Ministério da Saúde uma primeira lista de mais de quatro mil médicos que trabalham fora do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e que, “até ao momento, não receberam qualquer informação sobre a vacinação contra a covid-19”.

São profissionais de saúde que querem ser imunizados e, segundo Miguel Guimarães, estando os médicos incluídos no grupo prioritário para a vacinação, “não é aceitável quer todos os médicos portugueses, incluindo os que trabalham fora do SNS, não tenham sido ainda contactados”.

“Os critérios relativos à definição de prioridades e à sua aplicação prática deveriam ser uniformes e envolver todo o país e não apenas uma parte do mesmo, até porque muitos portugueses encontram hoje resposta para os seus problemas de saúde em consultas, exames e cirurgias proporcionados fora do SNS, seja a título privado ou convencionado”, lê-se no comunicado, para lembrar que, sem uma vacinação alargada a todos os profissionais de saúde, é grande o risco de ocorrência de surtos que podem obrigar ao fecho de serviços de saúde fora do SNS.

Entre os 4043 médicos que estão à espera da vacina, quase 1800 são da zona da Grande Lisboa e mais de 900 do Porto. A lista estende-se, porém, a todo o país, sendo que, daquele universo, mais de 1500 médicos têm entre 65 e 74 anos e perto de 900 inscrevem-se no grupo etário dos 55 aos 64 anos. Em quase 60% dos casos, os médicos trabalham em clínicas e consultórios particulares, mas são mais de mil os que fazem serviço de urgência.

Neste universo de mais de 4000 médicos, inscrevem-se ainda quase 1400 prestadores de serviço que, “por trabalharem normalmente no SNS sem vínculo e sim através de empresas prestadoras de serviços, também não têm sido contemplados”.