Medicamentos para a artrite reumatóide podem reduzir risco de morte em pacientes graves com covid-19

Dois medicamentos utilizados para tratar a artrite reumatóide podem reduzir até 24% o risco de morte nos pacientes com covid-19 em cuidados intensivos. Serviço Nacional de Saúde britânico vai começar a administrar tocilizumab a partir desta sexta-feira.

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Paulo Pimenta

Dois medicamentos utilizados para tratar a artrite reumatóide podem ajudar a salvar a vida de um em cada 12 pacientes internados nos cuidados intensivos com um quadro grave de covid-19, de acordo com os resultados recentes de um estudo internacional.

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Dois medicamentos utilizados para tratar a artrite reumatóide podem ajudar a salvar a vida de um em cada 12 pacientes internados nos cuidados intensivos com um quadro grave de covid-19, de acordo com os resultados recentes de um estudo internacional.

Os resultados sugerem que os medicamentos tocilizumab e sarilumab, usados habitualmente no tratamento da artrite reumatóide, podem reduzir até 24% o risco relativo de morte dos pacientes com covid-19 internados em cuidados intensivos.

Segundo o diário The Guardian, o Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla em inglês) irá começar a administrar o tocilizumab a pacientes com covid-19 já a partir desta sexta-feira, depois de os resultados do ensaio clínico, no qual participaram 792 pacientes de seis países, terem confirmado os benefícios do medicamento.

Também o sarilumab aparenta diminuir o risco de morte por covid-19, além de levar a uma redução do período que os pacientes passam nos cuidados intensivos.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, também revelou esta quinta-feira que os fármacos, “capazes de salvar vidas”, serão disponibilizados imediatamente, destacando que ambos passaram por “ensaios clínicos rigorosos”.

Ambos os medicamentos actuam como antagonistas do receptor da interleucina-6 (IL-6), atenuando o efeito das proteínas que podem causar uma reacção exagerada do sistema imunitário.

"Trate 12 pacientes e salvará uma vida"

Este não é, contudo, o primeiro estudo a analisar a eficácia dos medicamentos no tratamento da covid-19. Anteriormente, resultados de um outro estudo internacional sugeriam que o tocilizumab poderia ajudar na recuperação das pessoas com covid-19 em risco de vida. Porém, outros estudos reportaram resultados contraditórios.

Os novos resultados agora divulgados, que não foram ainda revistos pelos pares, provêm de um estudo internacional conhecido como Remap-Cap.

Durante este ensaio clínico, de forma aleatória, alguns pacientes adultos com covid-19 receberam o tratamento tradicional, enquanto outros receberam uma infusão intravenosa de tocilizumab ou sarilumab, 24 horas após terem dado entrada nos cuidados intensivos. A quantidade de pacientes que recebeu o sarilumab foi menor, uma vez que o medicamento apenas se tornou disponível mais tarde.

Posteriormente, os investigadores monitorizaram o estado de saúde dos pacientes durante pelo menos 21 dias, tendo concluído que os medicamentos reduzem o risco de morte por covid-19.

Enquanto a taxa de mortalidade se fixou em 35,8% (142 mortes num total de 397 indivíduos) nos pacientes aos quais foi administrado o tratamento tradicional, a mortalidade baixou para 28% (98 mortes em 350 pacientes) naqueles que receberam o tocilizumab e para 22,2% (10 em 45 pacientes) naqueles aos quais foi administrado o sarilumab. A combinação dos resultados dos dois medicamentos resulta numa taxa de mortalidade de 27,3% (108 mortes em 395 pacientes), o que corresponde a uma diminuição relativa de 24% (ou de 8,5 pontos percentuais em termos absolutos) comparativamente ao grupo que recebeu o tratamento padrão.

“Trate 12 pacientes e salvará uma vida”, afirmou Anthony Gordon, investigador britânico do Imperial College de Londres, que liderou o estudo, citado pelo Guardian.

Além disso, a equipa de especialistas também chegou à conclusão que as pessoas que receberam os medicamentos recuperaram mais rápido da covid-19, tendo abandonado os cuidados intensivos cerca de sete a dez dias mais cedo do que aqueles que receberam o tratamento normal.

Cerca de 80% dos participantes no estudo, além destes medicamentos, receberam também em conjunto um corticosteróide, como a dexametasona. Segundo Peter Horby, professor de saúde global e doenças infecciosas da Universidade de Oxford, que não esteve envolvido no estudo em questão, estas são boas notícias, uma vez que até ao momento apenas a dexametasona e a hidrocortisona mostraram ter efeitos positivos nos pacientes com covid-19 ligados a ventiladores.

“Vimos uma redução absoluta no risco de morte em pacientes ventilados mecanicamente de cerca de 12% com a dexametasona, e agora estamos a ver uma redução absoluta de cerca de 8% (com o tocilizumab e sarilumab)”, afirmou Horby, destacando que estes medicamentos poderão ser uma boa terapia adicional. No entanto, o especialista destaca que os resultados apenas se aplicam a pacientes em estado crítico e que o tocilizumab e o sarilumab (que têm um custo de cerca de 830 e 1106 euros por paciente, respectivamente) são bastante mais caros do que a dexametasona (que custa cerca de 5,53 euros).

Ainda assim, para Anthony Gordon, estes medicamentos devem ser uma opção de tratamento, uma vez que podem salvar vidas e reduzir o tempo que as pessoas com covid-19 passam nos cuidados intensivos. “Um dia na unidade de cuidados intensivos pode custar perto de duas mil libras (cerca de 2212 euros)”, afirmou.

Já o subdirector-geral da Saúde de Inglaterra, Jonathan Van-Tam, destaca que “este é um passo em frente significativo para aumentar a [taxa de] sobrevivência dos pacientes com covid-19 nos cuidados intensivos”. “Os dados mostram que o tocilizumab, e possivelmente o sarilumab, aceleram e melhoram as probabilidades de recuperação nos cuidados intensivos, o que é crucial para ajudar a aliviar a pressão nos cuidados intensivos e nos hospitais e salvar vidas”, acrescentou.