Guterres pede a todos os líderes mundiais que declarem estado de emergência climática

Secretário-geral da ONU desafia o planeta a reduzir as emissões globais em 45% até 2030 e diz que os países enfrentam um “teste moral”.

Foto
António Guterres, secretário-geral da ONU EDUARDO MUNOZ/Reuters

O secretário-geral das Nações Unidas pediu este sábado a todos os líderes mundiais que declarem estado de emergência nos seus países até que consigam atingir a neutralidade carbónica.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O secretário-geral das Nações Unidas pediu este sábado a todos os líderes mundiais que declarem estado de emergência nos seus países até que consigam atingir a neutralidade carbónica.

Intervindo na abertura da Cimeira da Ambição Climática, organizada em parceria pela ONU, Reino Unido, França e Itália, António Guterres reiterou que o mundo “ainda não está a ir na direcção certa” para travar as alterações climáticas e que poderá estar a caminho de “um aumento de temperatura catastrófico de mais de três graus neste século”.

“Apelo a todos os líderes mundiais para declararem estado de emergência climática nos seus países até que se atinja a neutralidade nas emissões de dióxido de carbono. Já houve 38 países que o fizeram. Imploro a todos os outros que os sigam”, pediu o ex-primeiro-ministro português, num vídeo feito a partir da sede da organização, em Nova Iorque.

Aos países subscritores do Acordo de Paris para o combate às alterações climáticas, Guterres solicitou que tenham “metas claras de curto prazo” que se reflictam nas contribuições determinadas nacionalmente, que estão obrigados a apresentar a tempo da próxima conferência das partes do acordo, prevista para o próximo ano, na cidade escocesa de Glasgow.

Os compromissos assumidos em Paris em 2015 “estão longe de ser suficientes e mesmo esses não estão a ser cumpridos”, alertou, questionando se alguém ainda pode pôr em causa que o mundo enfrenta “uma emergência dramática”.

“Precisamos de contribuições significativas agora”, exigiu Guterres, fixando um objectivo de curto prazo para se “reduzirem as emissões globais em 45% até 2030”.

António Guterres salientou que os níveis de dióxido de carbono estão em níveis recorde e que actualmente, a temperatura média mundial está 1,2 graus centígrados mais quente do que na era pré-industrial, mas disse que os esforços para manter o aquecimento global nos 1,5 graus não estão “condenados a falhar”.

No entanto, considerou que “é inaceitável” que os países do grupo das 20 maiores economias estejam a gastar nos seus pacotes de estímulo à recuperação económica pós-pandemia “mais de 50% em sectores ligados à produção de combustíveis fósseis do que em produção de energia de baixas emissões carbónicas”.

“Os mil milhões de dólares necessários para a recuperação pós-covid-19 são dinheiro que estamos a pedir emprestado às gerações futuras”, declarou, considerando que é “um teste moral” optar por políticas que não sobrecarreguem as gerações futuras com uma “montanha de dívidas num planeta destroçado”.

Sectores como a aviação e o transporte marítimo precisam de dar o seu contributo e mudar a maneira de operarem, defendeu Guterres, e o sector da banca tem que dar o exemplo e investir menos em sectores poluentes e apoiar energias e indústrias mais limpas.

“A tecnologia está do nosso lado e as energias renováveis estão mais baratas a cada dia que passa”, declarou o secretário-geral da ONU.