A cada batimento cardíaco do rei

O Espelho e a Luz, último romance da trilogia, encerra o círculo da existência de Thomas Cromwell.

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Hilary Mantel coloca o leitor “dentro” da mente de Cromwell Henry Nicholls/REUTERS

A cabeça da rainha tomba num charco sanguinolento e é recolhida pelas aias, enquanto o carrasco limpa a excelente lâmina de Toledo — os ingleses ainda dependem dos espanhóis no que toca à superioridade deste material onde está inscrita a oração, Speculum justitiae, ora pro nobis. (Espelho da justiça, orai por nós). Fez um trabalho bem feito, é um dos melhores, mandado vir de Calais e pago regiamente. Thomas Cromwell passa-lhe para as mãos uma gorjeta. O homem merece, o golpe foi limpo e certeiro, cortou o pescoço de Ana Bolena como “se fosse manteiga”. A manhã de trabalho desse límpido dia de Maio está completa. O diminuto corpo da rainha é deposto numa estreita arca de guardar flechas, a cabeça acomodada junto aos pés, para caber. Cromwell sente um ligeiro incómodo por nem sequer haver um caixão, mas as pessoas dispersam ele tem muito que fazer e está com fome, o pequeno-almoço foi tomado muito cedo. O mesmo homem que trabalhou incansavelmente para obter a anulação do primeiro casamento de Henrique VIII com Catarina de Aragão, para que a fogosa Ana pudesse ocupar o seu lugar na cama do rei, é o mesmo que se movimentou sem descanso para ditar a queda dos Bolena e a ascensão desses Seymour que possuem, como trunfo, a rechonchuda Jane, a nova rainha que, definitivamente, conquistou o rei. É com este acontecimento decisivo que Hilary Mantel abre O Espelho e a Luz, último romance da trilogia que inclui os dois anteriores volumes Wolf Hall e O Livro Negro e que, aqui, encerra o círculo da existência de Thomas Cromwell, o incansável secretário e homem para todo o serviço do rei Henrique VIII, de Inglaterra.

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A cabeça da rainha tomba num charco sanguinolento e é recolhida pelas aias, enquanto o carrasco limpa a excelente lâmina de Toledo — os ingleses ainda dependem dos espanhóis no que toca à superioridade deste material onde está inscrita a oração, Speculum justitiae, ora pro nobis. (Espelho da justiça, orai por nós). Fez um trabalho bem feito, é um dos melhores, mandado vir de Calais e pago regiamente. Thomas Cromwell passa-lhe para as mãos uma gorjeta. O homem merece, o golpe foi limpo e certeiro, cortou o pescoço de Ana Bolena como “se fosse manteiga”. A manhã de trabalho desse límpido dia de Maio está completa. O diminuto corpo da rainha é deposto numa estreita arca de guardar flechas, a cabeça acomodada junto aos pés, para caber. Cromwell sente um ligeiro incómodo por nem sequer haver um caixão, mas as pessoas dispersam ele tem muito que fazer e está com fome, o pequeno-almoço foi tomado muito cedo. O mesmo homem que trabalhou incansavelmente para obter a anulação do primeiro casamento de Henrique VIII com Catarina de Aragão, para que a fogosa Ana pudesse ocupar o seu lugar na cama do rei, é o mesmo que se movimentou sem descanso para ditar a queda dos Bolena e a ascensão desses Seymour que possuem, como trunfo, a rechonchuda Jane, a nova rainha que, definitivamente, conquistou o rei. É com este acontecimento decisivo que Hilary Mantel abre O Espelho e a Luz, último romance da trilogia que inclui os dois anteriores volumes Wolf Hall e O Livro Negro e que, aqui, encerra o círculo da existência de Thomas Cromwell, o incansável secretário e homem para todo o serviço do rei Henrique VIII, de Inglaterra.