Os Açores entraram nos trilhos da elite do trail

Durante cinco dias o Faial recebeu o Golden Trail Championship, a “melhor corrida de trail running do ano”. No final houve consenso nos elogios à qualidade da prova e da organização da Azores Trail Run.

Foto
Dário Moitoso na última etapa do GTC Philipp Reiter

Do cartaz faziam parte quase todos os pesos-pesados da modalidade - as excepções foram o espanhol Kilian Jornet, agora dedicado a provas de asfalto, e o italiano Davide Magnini, a recuperar de lesão -, e, durante cinco dias, o Golden Trail Championship (GTC) colocou os Açores no epicentro do trail running mundial. Com as habituais etapas anuais da Golden Trail Series (GTS) canceladas devido à pandemia, a Salomon, promotora do circuito, optou por um formato alternativo, concentrando num evento realizado na ilha do Faial a decisão sobre quem venceria a “melhor corrida de trail running do ano”. No final, para além do consenso nos elogios à qualidade da prova e à organização da Azores Trail Run, ficou uma certeza: os Açores entraram nos trilhos da elite do trail.

Desportivamente a competição foi intensa e dura, mérito dos percursos exigentes e técnicos, e da muita chuva e vento, que tornaram os trilhos lamacentos e pesados. Porém, cumpridos os 113 quilómetros da competição com 6.050 metros de elevação vertical, não foram apenas o polaco Bart Przedwojewski (vencedor em masculinos) e a suíça Maude Mathys (ganhou em femininos) a merecerem louvores.

Responsável pelo surgimento das GTS em 2018 e director-desportivo da Salomon Running, Greg Vollet destacou após o evento que “é incrível tudo o que o Mário [Leal] e a Azores Trail Run conseguiram”, especialmente “no actual contexto” de pandemia. Em declarações ao PÚBLICO, o francês lembra que no ano passado a Salomon realizou um campo de férias em quatro ilhas açorianas, tendo nessa altura tido a oportunidade de conhecer o responsável pela Azores Trail Run: “Conhecemos o Mário Leal, que se mostrou muito dinâmico na organização de tudo. Percebeu que a presença do nosso campo teve um grande impacto nas redes sociais e mostrou interesse na continuidade da parceria para promover o trail e o turismo nos Açores.”

Assim, inicialmente ficou acordado “organizar em 2020 uma corrida, que seria realizada num dia e seria a final das Golden Series nacionais, mas com o surgimento da covid-19, optamos por um formato diferente e concentrado”. Para Vollet, concluído o evento, não ficaram dúvidas que o GTC “foi um enorme sucesso organizativo e desportivo”.

Foto
Bruno Sousa, da Furfor Running Project

Dos 174 atletas inscritos, ninguém conhecia tão bem os trilhos do Faial como Dário Moitoso. Natural da Praia do Norte, o campeão nacional de trail em 2019 e 2020 diz que foi “muito especial correr uma prova destas” na ilha onde cresceu. “Estavam aqui atletas que eu via como ídolos e referencias. Estarem a competir nos lugares onde eu treino e que conheço desde pequenino foi muito importante para mim como atleta e como faialense.”

Numa análise à prova, Moitoso, que em 2018 e 2019 terminou no top-10 a prestigiada Ultra-Trail du Mont-Blanc, diz que habitualmente nas provas de elite “há 20 a 30 atletas muito bons”, mas no Faial “estavam 40 a 50”. “Nunca tinha assistido a uma diferença tão grande de nível para os da frente”, admite o açoriano ao PÚBLICO.

Moitoso refere que no GTC houve “trilhos muito rápidos, trilhos muito lentos, lama, subidas e descidas difíceis”. “É em provas assim completas que se vê quem são os melhores”, acrescenta, deixando o desejo que “esta seja a primeira de muitas provas deste nível nos Açores”: “Temos todas as condições.”

Para além de Dário Moitoso, que terminou a última etapa em 17.º lugar, na prova masculina estiveram em destaque Bruno Silva e Bruno Sousa, os dois atletas da Furfor Running Project, equipa criada em 2019, que estiveram no Faial.

Terceiro melhor atleta nacional, atrás de Silva e Moitoso, Bruno Sousa diz que no Faial os atletas encontraram “tudo muito bem organizado”, porque “nos Açores não facilitam”. “Este evento promoveu a ilha a nível internacional e lança os Açores para o panorama mundial da modalidade. Agora é preciso manter. A boa imagem já passou”, alerta o atleta de Paredes.

Sugerir correcção