Singularidades de um realizador sueco

O cinema de Roy Andersson é um gosto adquirido; o seu novo filme depura o seu estilo ainda mais até um ponto quase de não retorno.

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A consciência da tal solidão cósmica e a necessidade de rir dela — de preferência enquanto se chora

“A vida é feita de pequenos nadas”, como diz a canção de Sérgio Godinho, e Roy Andersson fez o seu nome com um cinema meticuloso, cheio de burlesco desesperado em câmara lenta, com vontade de dissecar até ao tutano esses “pequenos nadas” para mostrar como tudo se pode esconder lá dentro. O cinema do sueco, que acaba de ser alvo de retrospectiva na Cinemateca Portuguesa, e sobretudo a sua Trilogia dos Vivos formada por Canções do Segundo Andar (2000), Tu que Vives (2007) e Um Pombo Pousou num Ramo a Reflectir na Existência (2014), é um gosto adquirido onde o humor ganha uma dimensão trágica, existencial — e esse existencialismo dá uma volta inteira sobre si mesmo antes de regressar à secura de um absurdo que acaba por só poder dar vontade de rir. Que o mesmo é dizer que o seu processo de criação cinematográfica — uma paciente colagem solta, lassa, de histórias de palhaço triste, rodadas com actores não-profissionais em ambiente controlado de estúdio — exige disponibilidade da parte do espectador, e que os embates tanto mais serão frutíferos quanto melhor se conhecer a obra e mais vezes se virem os filmes.

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“A vida é feita de pequenos nadas”, como diz a canção de Sérgio Godinho, e Roy Andersson fez o seu nome com um cinema meticuloso, cheio de burlesco desesperado em câmara lenta, com vontade de dissecar até ao tutano esses “pequenos nadas” para mostrar como tudo se pode esconder lá dentro. O cinema do sueco, que acaba de ser alvo de retrospectiva na Cinemateca Portuguesa, e sobretudo a sua Trilogia dos Vivos formada por Canções do Segundo Andar (2000), Tu que Vives (2007) e Um Pombo Pousou num Ramo a Reflectir na Existência (2014), é um gosto adquirido onde o humor ganha uma dimensão trágica, existencial — e esse existencialismo dá uma volta inteira sobre si mesmo antes de regressar à secura de um absurdo que acaba por só poder dar vontade de rir. Que o mesmo é dizer que o seu processo de criação cinematográfica — uma paciente colagem solta, lassa, de histórias de palhaço triste, rodadas com actores não-profissionais em ambiente controlado de estúdio — exige disponibilidade da parte do espectador, e que os embates tanto mais serão frutíferos quanto melhor se conhecer a obra e mais vezes se virem os filmes.