Covid-19: estudo diz que anticorpos duram pelo menos 4 meses

É uma boa notícia para os esforços de desenvolvimento de uma vacina contra o novo coronavírus, consideram os especialistas.

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Rui Gaudêncio

Os anticorpos que o corpo humano produz para combater o novo coronavírus duram pelo menos quatro meses depois do diagnóstico e não desaparecem rapidamente, ao contrário do que apontavam alguns estudos iniciais, segundo os resultados de um estudo publicado esta terça-feira na revista New England Journal of Medicine. O trabalho envolveu testes a mais de 30 mil pessoas na Islândia, e será um dos mais extensos sobre a resposta do sistema imunitário ao novo coronavírus. Esta é uma boa notícia para os esforços de desenvolvimento de uma vacina.

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Os anticorpos que o corpo humano produz para combater o novo coronavírus duram pelo menos quatro meses depois do diagnóstico e não desaparecem rapidamente, ao contrário do que apontavam alguns estudos iniciais, segundo os resultados de um estudo publicado esta terça-feira na revista New England Journal of Medicine. O trabalho envolveu testes a mais de 30 mil pessoas na Islândia, e será um dos mais extensos sobre a resposta do sistema imunitário ao novo coronavírus. Esta é uma boa notícia para os esforços de desenvolvimento de uma vacina.

A investigação analisou amostras de cerca de 30.000 pessoas na Islândia, estimando que cerca de 1% da população foi infectada com o Sars-Cov-2.  De 1.215 pessoas com resultado positivo no estudo, os anticorpos antivirais “não diminuíram nos quatro meses após o diagnóstico”, o que contraria estudos anteriores e menos exaustivos que pareciam indicar que os anticorpos poderiam desaparecer em apenas algumas semanas. Os investigadores perceberam ainda que a quantidade de anticorpos “aumentou durante dois meses após o diagnóstico” e “permaneceu num patamar” estável ao longo do tempo do estudo. 

O artigo nota também que “os níveis de anticorpos foram mais fortemente associados à hospitalização e à gravidade clínica, seguidos por sintomas clínicos como febre, temperatura máxima, tosse e perda de apetite.” O novo estudo foi feito pela empresa deCODE Genetics, baseada em Reiquiavique, uma subsidiária da biotecnológica norte-americana Amgen, com uma forte presença hospitalar, universitária e centros médicos na Islândia. 

“Os nossos resultados indicam que os anticorpos antivirais contra Sars-CoV-2 não diminuíram em 4 meses após o diagnóstico. Estimamos que o risco de morte por infecção foi de 0,3% e que 44% das pessoas infectadas na Islândia não foram diagnosticadas por qPCR [testes que analisam a presença do coronavírus]”, escrevem os cientistas nas conclusões.

Estudos anteriores tinham lançado algumas dúvidas sobre a duração da presença dos anticorpos no sangue. Por exemplo, um trabalho, que não foi revisto pelos pares, apresentado em Julho por cientistas do King's College London que envolveu 96 doentes concluía que os anticorpos desaparecia em apenas algumas semanas. Outras investigações publicadas sobre este tema assinalavam que os infectados assintomáticos podem perder anticorpos de forma mais rápida e ter assim uma resposta imunitária mais fraca ao vírus do que os sintomáticos. 

Quando ao que sabemos de outros coronavírus que nos infectam – o 229E, o OC43, o NL63 e o HKU1 – há trabalhos que concluíram que, nestes casos, os anticorpos são de curta duração e que a partir de 12 meses as pessoas podem voltar a ser infectadas. Quanto aos coronavírus SARS-CoV-1 e ao MERS-CoV foi observada uma diminuição de anticorpos após 18 meses. 

A verdade é que também é preciso não esquecer que em alguns casos as pessoas infectadas não apresentam anticorpos detectáveis, mas terão criada alguma imunidade, como comprovam as marcas deixadas nos linfócitos T, células que guardam a memória de uma infecção para nossa defesa.

Se uma vacina conseguir estimular a produção de anticorpos duradouros, como as infecções naturais fazem, isso pode contribuir para que “a imunidade a este imprevisível e muito contagioso vírus possa não ser efémera”, escreveram especialistas da Universidade de Harvard e dos Institutos de Saúde dos EUA, que não participaram no estudo, num comentário publicado na New England Journal of Medicine. “A avaliação precisa de anticorpos durante uma pandemia pode fornecer dados populacionais importantes sobre a exposição a patógenos, facilitar a compreensão do papel dos anticorpos na imunidade protectora e orientar o desenvolvimento de vacinas”, referem, acrescentando ainda que este artigo demonstra "a utilidade da detecção de anticorpos como alternativa altamente económicas ao teste de PCR para vigilância nas populações, que é fundamental para a reabertura segura de cidades e escolas, e como biomarcadores e possíveis sinais de imunidade - ferramentas úteis que podemos usar agora, enquanto examinamos o horizonte (e as páginas de revistas médicas) em busca da onda de vacinas que acabará com a pandemia de covid-19”.