Lesões musculares, obesidade e ansiedade: falta cuidar da saúde dos jogadores de esports

“Portugal não trabalha muito na prevenção” dos problemas de saúde dos jogadores profissionais de esports, considera a fisioterapeuta Marta Casaca.

Foto
Nuno Ferreira Santos

As lesões musculares e nas articulações, mas também problemas de postura, de fadiga ocular e de saúde mental, são frequentes entre os jogadores profissionais de esports. Por isso, com a evolução da indústria e a sua crescente profissionalização, a preparação física e mental ganha cada vez mais maior importância.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

As lesões musculares e nas articulações, mas também problemas de postura, de fadiga ocular e de saúde mental, são frequentes entre os jogadores profissionais de esports. Por isso, com a evolução da indústria e a sua crescente profissionalização, a preparação física e mental ganha cada vez mais maior importância.

Segundo a fisioterapeuta Marta Casaca, que trabalha como apresentadora, entrevistadora ou gestora de análise em várias competições nacionais de vários videojogos, “Portugal não trabalha muito na prevenção”, não só nos esports, como também nos desportos ditos tradicionais.

“Noutros países, há ginásios e rotinas, alimentares e desportivas, e têm acesso a fisioterapia para alguma eventual lesão. (...) Há muita coisa nos esports que já se tem vindo a desenvolver, mas ainda é uma área muito embrionária. A saúde, então, é ainda mais”, comenta, em declarações à Lusa.

Assim, desta profissão surgem “riscos associados” a “estar muito tempo sentado em posturas incorrectas”, criando “uma envolvência a nível postural que leva a lesões musculares, também a própria fraqueza muscular”. “Também sabemos que há muitas lesões que surgem por posições mantidas e por movimentos repetitivos, principalmente a nível do punho, dedos, antebraço e cotovelo”, refere.

A enfermeira Sofia Andrade, que exerce funções como árbitra na Liga Portuguesa de League of Legends, entre outras funções que foi cumprindo desde os 12 ou 13 anos quando se envolve na área, concorda que a prática de desportos virtuais traz problemas sobretudo “a nível articular e muscular”.

Em Junho, o chinês Jian Zihao, conhecido como Uzi em League of Legends, anunciou a retirada dos esports profissionais após vários problemas de saúde, o último dos quais uma série de lesões no pulso que o impediram de jogar, um caso mediático entre centenas de jovens que são forçados a abdicar do “sonho” de fazer carreira profissional.

Nascido em 1997, Zihao utilizou a rede social chinesa Weibo para anunciar outros problemas de saúde: “stress crónico, obesidade, dieta irregular e diabetes de tipo 2”, além de uma outra lesão numa mão, acumulados “ao longo de oito anos de treino de alta intensidade”.

As lesões mais comum são as tendinopatias, além de síndrome do túnel cárpico, “tensão muscular acumulada e alterações a nível postural na coluna”, aponta Marta Casaca. Além disso, calos e problemas no pulso podem ainda levar a que um jogador “não participe numa competição”, completa Sofia Andrade.

A enfermeira lembra ainda um “problema bastante comum que é a fadiga ocular”, além de que a luz azul emitida pelos monitores “mantém [as pessoas] mais despertos”, podendo levar “a ansiedade”. Também “os hábitos alimentares”, nem sempre cuidados quando muitos destes jovens passam mais de oito horas ao computador e as transmissões de sessões de jogo e competições podem contribuir para problemas a médio e longo prazo.

Para Marta Casaca, “seria vantajoso para as organizações apostarem na prevenção” para proteger “as ferramentas de trabalho dos jogadores”. Por exemplo, fazer “um aquecimento geral dos punhos, mãos, dedos, antes de jogar, mesmo alguns alongamentos”, que podiam “prevenir lesões a longo prazo”. “Agora são novinhos, mas quanto mais tempo passa... Até com o setup onde jogam, ou seja, onde está o computador, a altura da cadeira, etc., tudo isto são estratégias de prevenção mínimas, que ajudam a longo prazo a que o jogador se mantenha mais saudável, e também a que tenha uma melhor performance”, destaca a fisioterapeuta.

Também a questão da saúde mental merece atenção, com várias equipas, em Portugal, a disponibilizar um psicólogo, uma vez que, na opinião de Sofia Andrade, “para pessoas com problemas de ansiedade e depressão” os jogos podem ajudar, mas, “a longo prazo”, também podem piorar estes diagnósticos.

Por outro lado, “pessoas sem esses problemas podem ficar mais ansiosas”, mais irritadas, num sector populado sobretudo por jovens adolescentes e jovens adultos, surgindo cada vez mais “jogadores que se afastam, pois acaba por ser demais para eles. “Aqui competem uns com os outros como em qualquer emprego. Se és bom vão buscar-te, se não ficas para trás. Acontece muito na comunidade portuguesa [de League of Legends].”